Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quinta-feira, março 31, 2005

(379) Em DVD: Mystic River, de Clint Eastwood

Nota: Este post pode revelar partes da história de Mystic River e Million Dollar Baby. Se não viu um destes filmes não aconselho a leitura.



Comprei uma edição inglesa do penúltimo filme de Clint Eastwood, Mystic River. Os extras não abundam mas o filme vale por si. Acho útil rever os filmes para perceber se estes resistem bem ao tempo. Há filmes que perdem o choque inicial, outros que tornam-se demasiadamente datados e há outros filmes que não nos cansamos de rever. Este é um dos filmes que vai resistir bem ao tempo...



O lançamento do último filme de Eastwood, Million Dollar Baby (MDB), é a oportunidade ideal para fazer algumas comparações entre os filmes. Eu achei MDB um filme soberbo pela serenidade com que a história é contada e pela dimensão que as personagens do filme alcançam. Mas há um truque narrativo que não vai sobreviver bem no tempo neste filme. O filme tem uma reviravolta gigantesca a meio do filme que eu não contava (a vantagem de não ter lido as críticas ao filme) e esse efeito choque é irrepetível. Adicionalmente há determinadas personagens que acabam por não estar bem enquadradas no filme como a família da Hilary Swank ou a sua oponente na batalha “final” que eu apelidei na altura de caricatura do “Darth Vader”. Confesso que pode ser um filme que vá “envelhecer” mais depressa que Mystic River apesar de valer sempre a pena ver e rever a dupla Clint Eastwood e Morgan Freeman em interacção.

Mystic River é mais visceral e apesar de ter os seus momentos de choque para o espectador o filme não depende tanto deles. E isso acontece porque os choques não são repentinos ou caídos do céu, vão-se construindo ao longo do filme. A cena em que Sean Penn mata Tim Robbins já estava predestinada quase desde o início do filme a ser uma fatalidade inevitável. E está tão bem gerida a relação entre os dois que é impossível encontrar falhas. Diria até que a narrativa é mais consistente do que a de MDB (com excepção das coincidências forçadas entre o passado de Penn e os verdadeiros assassinos da filha). Penn é notável neste filme tanto nas cenas em que o temperamento violento é libertado como nas cenas de dor contida. Só no início do filme Penn tem o “direito” de fazer uma cena pouco exigente porque depois disso é um festival de representação. Mas Tim Robbins não fica atrás na qualidade de representação. Ele é um “vampiro, um morto vivo” como ele próprio se define. Ele está lá mas ao mesmo tempo está ausente. Magnífico. As cenas finais em que Penn lida com a culpa são fantásticas e nada forçadas. É tudo feito com muita classe... é a escola clássica de Eastwood!

Por todas estas razões se tivesse que escolher entre um dos filmes para ter na minha “DVDteca” escolhia sem sombra de dúvida Mystic River. Mas como não tenho que escolher porque não ficar com dois filmes fantásticos em casa?

*Tópicos Relacionados:
Fevereiro 23, 2005 (338) Sala de Cinema: Million Dollar Baby, de Clint Eastwood

quarta-feira, março 30, 2005

(378) A Terceira Idade (2 de 2)




Como defendia no post anterior há despesa não reprodutiva que, mesmo em alturas de crise orçamental, é defensável e mesmo prioritária. Por isso não fico chocado quando o Governo opta por dar uma prestação extra aos idosos (com mais de 80 anos) que não recebam, no mínimo, o valor do Limiar da Pobreza. Se há críticas a esta medida só podem ser por ela não ser ainda mais ambiciosa.

Há investimentos que eu acho urgente que sejam feitos em Portugal. Todos nós conhecemos casos de pessoas na terceira idade que vivem sozinhas. Ou casos de idosos que vivem com familiares que não têm capacidade para cuidarem deles seja por razões monetárias ou até por razões psicológicas e/ou físicas. O maior problema nestas situações é que a assistência ao domicílio é pouco incentivada pelo Estado e os lares sociais são escasos em número e qualidade.

Não é aceitável que uma idosa que viva sozinha e que fique doente tenha que esperar meses abandonada num hospital porque não há uma vaga num lar social. Também não é aceitável que idosos com doenças de foro mental tenham dificuldade em serem aceites num lar e que, quando são, sejam relegados a um tipo de coma induzido por excesso de calmantes porque não há capacidade ou condições para cuidar deles. Por tudo isto e por muitas outras situações que todos conhecemos é urgente investir na dignidade na terceira idade principalmente para aqueles que não têm capacidade financeira para se defenderem.

Eu não estou a defender os lares como primeira opção mas é consensual que o número de camas e a qualidade (nas instalações, no apoio médico, nas actividades recreativas) dos lares deixa muito a desejar. Uma das alternativas é o Estado apostar na assistência ao domicílio e nos centros de dia.

O problema é urgente e prioritário, independentemente das nossas convicções ideológicas ou das dificuldades orçamentais. O nível adequado dos impostos não é aquele que garante as melhores condições de desenvolvimento mas sim aquele cujo valor garante que o papel do Estado é cumprido. Mas cuidado, nem acima nem abaixo desse valor porque a economia precisa de ser competitiva e os desperdícios são o maior inimigo duma economia saudável. Urge apostar na dignidade das pessoas!

terça-feira, março 29, 2005

(377) A Terceira Idade (1 de 2)

No actual contexto financeiro do país é difícil defender medidas que aumentem a despesa mas vou fazê-lo na mesma. Antes disso vou enquadrar o que defendo explicando a minha posição ideológica sobre qual deve ser o papel do Estado.

O Estado serve, antes de mais, para defender os seus cidadãos. O Estado serve para potenciar a riqueza, para garantir a segurança (física e social), para facilitar o acesso à educação e formação, para fomentar infraestruturas (económicas e sociais), para assegurar um sistema universal de saúde com qualidade, entre outros importantes papeis.

A minha forma de encarar a economia e o papel do Estado definem-me como Socialista (ou Social Democrata). Se eu pertencesse a um partido em Portugal certamente seria o PS ou o PSD mas no primeiro diriam que pertencia à ala liberal do partido e no segundo diriam que pertencia à ala mais à esquerda. Defendo um Estado que influencie a economia "real" via regulamentação e não por intervenção directa o que conota-me como liberal mas, ao mesmo tempo, não concordo com a privatização de sectores como a Saúde, Educação e Segurança Social. Defendo que o Estado não deve deixar de ter uma intervenção social abrangente porque apesar da economia precisar de ser competitiva a nível fiscal o Estado tem que ter meios para assegurar o mínimo de dignidade a que todos nós temos direito. Por isso desconfio sempre de choques fiscais e de subidas de impostos. O Estado não deve gastar nem mais nem menos do que o necessário para cumprir o seu papel...

Posto isto já se torna mais coerente da minha parte defender mais despesa não reprodutiva em situações de drama social. E um dos maiores dramas da nossa sociedade envelhecida é a falta de apoio do Estado à terceira idade. No próximo post vou desenvolver esta ideia...

(Continua)

segunda-feira, março 28, 2005

(376) “Estórias” da Páscoa

A solidão é um estado que todos temos dificuldade em aceitar, quando involuntário!

Esta é a “estória” de duas pessoas solitárias, ambas na terceira idade! “Ele” é viúvo, “Ela” habituou-se a trabalhar e viver para uma patroa que morreu e deixou-lhe a casa. Ambos estão sozinhos! “Ele” sugeriu uma união de facto (ou casamento, pouco importa) oferecendo companhia. “Ela” tinha que cuidar da casa dele e cozinhar para fugir à solidão. Era o acordo, é o pragmatismo da vida. Mas há mais um dado curioso nesta “estória”. “Ele” tem “outra” opção! “Ela” sabia que só era a primeira escolha até à Páscoa, data em que tinha que dar uma resposta definitiva porque “Ele” tem uma segunda escolha em Lisboa para o caso dela não aceitar a proposta! Foi sincero!

“Ela” recusou a proposta e chora por estar sozinha! “Ele” provavelmente já “convocou” a outra!

É impressão minha ou a realidade é bem diferente daquela que nos é mostrada no cinema?

sábado, março 26, 2005

(375) A Crueldade das Notícias

A ler:

- "Os paneleiros 'hádem' morrer todos"

Comentário: Quando o mundo é povoado por acéfalos, ignorantes e preconceituosos com uma mentalidade sem classificação possível o que podemos fazer? Continuar a exigir que as autoridades tomem medidas! Punindo as forças da autoridade que decidem quem deve e quem não deve ser protegido e apostando cada vez mais na educação! Enfim...

- O MINISTÉRIO da Agricultura emprega um funcionário por cada quatro agricultores. Luís Vieira, secretário de Estado da Agricultura e Pescas, reconhece que o número de funcionários é elevado mas diz que não está prevista qualquer redução. «Um dos combates do Governo é o da redução do desemprego, por isso não queremos nem podemos contribuir para o seu aumento», explica Vieira.

Comentário: Não admira que seja impossível reformar a Administração Pública. A mentalidade do Secretário de Estado é, no mínimo, infeliz! Ou há utilidade nestes empregos e ele deve defende-los ou se não há que não venha com este tipo de argumentos. É que enquanto o Estado gasta dinheiro em empregos "inúteis ou de pouco alcance" não está a empregar pessoas que podem ajudar verdadeiramente a economia e, logo, ajudar a criar mais empregos "úteis" combatendo assim eficazmente o desemprego! Enfim...

(374) Páginas Soltas (13): Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago




Eu gosto de ler Saramago, admiro o seu estilo e a sua obra. Mas já há muito tempo que não me acontecia saltar partes dum livro por achar que estava a ler um conjunto extenso de disparates.

Esta obra parece uma interminável lição paternalista aos políticos (e aos cidadãos) cheia de lugares comuns e ideias feitas. Conforme as ideias originais se vão esgotando surgem novas abordagens, ainda mais desinspiradas que as anteriores porque, na minha humilde opinião, Saramago nunca soube realmente o que queria fazer com a provocação que lançou. A sua habitual ironia mordaz e certeira é ensaiada mas chega a ser tão pobre que acaba por ficar a anos luz do que este escritor já me habituou.

Eu respeito a obra do Saramago de forma intensa porque este faz do inverosímel algo que encaixa naturalmente no quotidiano e na rotina das personagens. Nesta obra esta lógica não funciona. O inverosímel tem carácter político e civilizacional e Saramago não resiste a recorrer a megalomanias forçadas. Não parte do fantástico para o habitual como é hábito porque estende o fantástico por toda a obra. Outro problema deste livro é não ser intimista como as obras anteriores já que temos dificuldade em nos identificarmos com uma personagem. Não há o cão, o homem, sua mulher, seus anseios, seus medos. Há ministros, há o Presidente, há o Primeiro Ministro, há o comissário, há a população.

A ligação que é feita com o “Ensaio sobre a Cegueira” através da mulher do médico também não é feliz por ser inconsequente, para não dizer incongruente.

Não recomendo a leitura deste livro! Mas não deixo de admirar a obra de Saramago só porque não gostei deste livro...

*Tópicos Relacionados:

(284) Páginas Soltas (8): O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago
(285) Páginas Soltas (9): O Homem Duplicado, de José Saramago

sexta-feira, março 25, 2005

(373) Sala de Cinema: The Assassination of Richard Nixon, de Niels Muller



A estreia de Niels Muller na realização é promissora mas também não oferece garantias duma grande carreira. Este filme destaca-se essencialmente por duas coisas: Sean Penn e Sean Penn! Apesar da excelente interpretação deste actor fica a sensação que o filme podia ter sido melhor. Não por causa do ambiente que serve de veículo para a interpretação de Penn (não me recordo duma única cena em que ele não apareça) mas talvez nos papeis atribuídos a Naomi Watts e Don Cheadle que são, no mínimo, desinteressantes.

Quando se ficciona uma história baseada em factos reais já estamos à espera que haja uma tentativa de explicar o que antecede o acontecimento principal. Mas neste filme o valor acrescentado de tudo o que se passa antes da história que motivou o filme é muito discutível. Fala-se de mentiras com insistência, de escravidão perante a sociedade e do fim do Sonho Americano. Podem até ter sido as causas para a tentativa de atentado mas parecem clichés. A cena com a organização política “Panteras Negras” também tem um enquadramento estranho.

Vale por Sean Penn e pouco mais. De qualquer maneira é um filme acima da média.

Curiosidade: Este filme conta com a produção executiva de Leonardo DiCaprio e Alexander Payne e com a produção de Alfonso Cuarón.

quinta-feira, março 24, 2005

(372) Sala de Cinema: Old Boy, de Park Chan-Wook




Quem gostar dum filme que não tem limites na violência física e emocional deve ir ver este filme. Mas quem achar que Freddy Krueger é assustador é melhor não ir ver Old Boy.

Old Boy foi premiado em Cannes e no FantasPorto e despertou a minha curiosidade. Não gosto de ir ver filmes quando tenho as minhas expectativas muito altas e na primeira metade do filme comecei a duvidar que este filme merecesse tantas honras. Mas enganei-me e ainda bem. O filme começou, a certa altura, a deixar-me incomodado e a crueza das imagens não são nada comparadas com a crueza do sofrimento emocional da personagem principal.

Não posso nem devo contar muito mais. Este filme deve ser saboreado como uma surpresa e não vou cometer a crueldade de explicar a história do filme. Arrisquem...

(371) Referendo sobre o Aborto

Pergunta proposta pelo PS:

"Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez até às 10 semanas, realizada em estabelecimento legal de saúde?"

Pergunta de 1998:

"Concorda que deixe de constituir crime o aborto realizado nas primeiras dez semanas de gravidez, com o consentimento da mulher, em estabelecimento legal de saúde?"

Há aqui umas nuances interessantes. A primeira é óbvia deixando de haver o "estigma" da palavra "aborto" na pergunta para o politicamente correcto "interrupção". A segunda nuance é que desaparece o "consentimento da mulher" para "voluntária". A terceira é desaparecer a palavra crime (transgressão, infracção grave de um preceito da lei ou da moral) para despenalização (isentar de pena) que eu gostaria de ver esclarecido se continua a ser um crime mesmo que sem pena (não sou jurista).

Esta pergunta, como a anterior, é razoável num ponto. Se o objectivo não é incentivar o aborto mas sim combater o clandestino acho que é importante haver aquele subtil "em estabelecimento legal de saúde". Concluo que não é despenalizado o aborto clandestino servindo esta lei unicamente para haver opção a este nos tais estabelecimentos legais.

Faço votos que esta discussão não volte a ser marcada pela demagogia porque o importante é combater o aborto clandestino e não fazer atentados à vida. Mas receio que os referendos em Portugal não sirvam para discutir seriamente uma questão, apenas servem para extremar ainda mais as posições.

quarta-feira, março 23, 2005

(370) Portugal e as novas regras da UE

[há o risco de] "cair na ilusão que esta flexibilização [do PEC] vai resolver os graves problemas orçamentais"
Freitas do Amaral, Ministro dos Negócios Estrangeiros

Esta cimeira europeia deixou o Primeiro Ministro visivelmente satisfeito. Por duas razões: pela flexibilização do Pacto de Crescimento e Estabilidade (PEC) e pela prioridade que Bruxelas está a dar à "Agenda de Lisboa". Mas não estamos na altura certa para festejos.

A revisão do PEC vem ao encontro duma maior flexibilização nas despesas de investigação e na requalificação dos recursos humanos e altera o período concedido aos países em derrapagem de 2 para 4 anos em períodos de estagnação da economia. A prioridade na "Agenda de Lisboa" cai que nem uma luva no programa de Governo deste executivo. Até aqui tudo bem...

O problema é que Portugal enfrenta graves problemas orçamentais e não pode haver tréguas no seu combate. O Orçamento deste ano sobreavalia o crescimento (quase no dobro do previsto) e subavalia o preço do petróleo (neste momento em quase 10 dólares o barril) e as despesas do Estado. O Público refere hoje que o défice para este ano pode ser de 6,4%. Por tudo isto a cimeira europeia só deve servir para haver políticas mais coerentes de médio prazo para Portugal e não deve ser um incentivo para adiar as decisões difíceis de combate ao défice.

Apesar de considerar estas decisões importantes para o futuro de Portugal e da Europa falta ainda saber como vão resultar as negociações sobre o novo pacote de financiamento. É que não podemos fazer uma real convergência e combater as assimetrias regionais com o mesmo financiamento de quando a Europa só tinha 15 membros. Até onde irá a solidariedade europeia?

(369) José Manuel Fernandes no seu estilo inconfundível

José Manuel Fernandes, Director do Público, continua a produzir declarações de muito pouco rigor:

"Mas outra parte da derrapagem já é atribuível a escolhas deste Governo, em especial a imoralidade de manter sem portagens as SCUT"

Pode-se concordar ou não com as SCUT (a minha opinião já foi dada por várias vezes) mas porque raio há-de ser imoral? É imoral o que a Espanha faz? É imoral optar por um desenvolvimento equilibrado do país? Será também imoral, segundo JMF, construir uma estrada secundária, uma ponte, um túnel, um viaduto e não cobrar portagem? O utilizador pagador é moralmente correcto nas auto estradas e é imoral no resto? E é moralmente correcto incluir o desmantelamento das SCUT como uma receita extraordinária no Orçamento de 2005?

Tópicos Relacionados:
(203) Para discutir as SCUT com seriedade...
(360) O Eterno Problema das SCUT

"... é irrealista contar, como meio de conter a despesa, com a admissão de apenas um funcionário público por cada dois que saírem (...). Menos 75 mil funcionários no activo e mais 150 mil na reforma (menos os que forem morrendo) dá mais despesa pública, não mais poupança..."

O que será que JMF entende por contenção? Contenção não é um truque de mágica onde a despesa desaparece mas sim uma forma para que a despesa cresça a ritmos menores. Há uma falha intrínseca neste raciocínio. Os funcionários não iam reformar-se na mesma? Esta medida pode conter o crescimento da despesa pública ficando como única dúvida em que medida vai afectar a qualidade dos serviços públicos. E é ou não verdade que, apesar do aumento da esperança média de vida, o número de pessoas que se reforma (sem haver reformas antecipadas) em proporção das pessoas que morrem num determinado ano será sempre menor que dois para um? E é verdade ou mentira que uma política deste tipo gera menos despesa pública a médio prazo (daqui a x anos o número de reformados pela Caixa Geral de Aposentações tende a diminuir)? Como será que JMF pretende conter então a despesa pública?

(368) A Saúde Financeira do País

[o défice está] "acima dos cinco por cento do Produto Interno Bruto (PIB)", [um] "desequilíbrio que não pode ser mantido por muito mais tempo"

"É tal o irrealismo do Orçamento do Estado herdado do Governo anterior que me vejo obrigado a alertar já esta Assembleia e todos os portugueses para a evidência de alguns factos"

"dentro de seis meses" [o Governo vai apresentar um plano quinquenal para reduzir a despesa corrente do Estado], "que não poderá assentar em cortes horizontais cegos"

Campos e Cunha, Ministro das Finanças

Não é o regresso do "discurso da tanga", mas é criticável que o Governo volte a criticar o passado depois de ter prometido que não o faria. É a realidade - dirão alguns! Concordo! Mas prefiro que só se fale do futuro, o passado já está julgado. A realidade é dura e vai requerer medidas duras!

Tenho que confessar que depois de ler uma grande parte do programa do Governo fiquei surpreendido com a qualidade do mesmo. Apesar de genérico (em abono da verdade como deve ser) há imensas medidas que eu venho defendendo aqui há muito tempo. O capítulo dedicado à Administração Pública está promissor e a orientação geral da política fiscal também tem a minha concordância. Não vou aqui enunciar as medidas porque elas estão claras no programa. A minha única dúvida é se o programa vai ser executado ou não porque o conteúdo parece-me bom.

O problema é que se o Pacto de Estabilidade e Crescimento não fôr revisto nós temos um défice acima dos 3% que deve rondar os 3 mil milhões de Euros por ano. Como devem calcular para resolver este desequilíbrio não vai ser nada fácil e uma vez que as receitas extraordinárias só adiam os problemas a solução vai exigir muito de nós. Chamem-me idealista mas pelo menos agora vejo um rumo, algo que já não via há pelo menos 5 anos. Vamos ver para crer!

terça-feira, março 22, 2005

(367) O Dragão sem fogo nem fôlego



Pinto da Costa já tem lugar marcado na história do Futebol Clube do Porto (FCP). Os seus consecutivos mandatos deixam, entre outros troféus no futebol e outras modalidades, um legado impressionante: 13 Campeonatos Nacionais, 8 Taças de Portugal, 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus, 2 Taças Intercontinentais, 1 Supertaça Europeia, 1 Taça UEFA e 13 Supertaças. Não é meu objectivo estar aqui a fazer um balanço da sua história como dirigente desportivo (até porque não estou a exigir a sua saída) mas sim um balanço desta época desastrosa.

Não me lembro de assistir a tamanho descalabro para os lados do Dragão. Não me lembro de três derrotas consecutivas, não me lembro de três derrotas consecutivas por mais de um golo de diferença, não me lembro de sermos goleados em casa, não me lembro de tantas mudanças de jogadores, não me lembro de tantos meses sem vencer em casa, não me lembro de tantos treinadores numa época, não me lembro de tamanha falta de personalidade numa equipa do Porto.

Não interessa encontrar culpados mas perceber porque é que esta época está a correr tão mal. Era natural que o fantasma do Mourinho perseguisse a equipa esta época e era também natural que muitos jogadores saíssem até porque os que ficaram já não jogam com a mesma motivação doutros tempos. Relembro que já Artur Jorge precisou fazer uma limpeza de balneário após a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus (depois de Ivic e Quinito) porque há jogadores que pensam que já são bons demais para disputar as desmotivantes competições nacionais. Mas esta época aconteceram problemas que ultrapassam as crises "naturais" de quem vence tudo.

A política de contratações do Porto nunca teve nada a ver com o que eu vejo acontecer agora. Os erros acumulam-se sendo os mais visíveis a contratação de Del Neri e as aquisições de Dezembro (5 brasileiros duma só vez)! A aposta de Pinto da Costa era sempre de comprar barato jogadores com potencial que podessem, ao mesmo tempo, trazer mais valias e vontade de provar o seu valor. Adicionalmente equilibrava a equipa ao comprar muitos portugueses que tinham menos dificuldade em se ambientarem, que percebiam a mentalidade exigente do clube e que ajudavam a que os poucos jogadores estrangeiros tivessem uma adaptação mais tranquila. Estas regras foram completamente esquecidas por Pinto da Costa na sua ânsia de provar rapidamente que o responsável pelas vitórias da época passada não eram exclusivamente da responsabilidade de Mourinho. E se Pinto da Costa foi o Presidente perfeito para dar estabilidade a Mourinho já foi infeliz ao tentar ultrapassar o seu fantasma dando agora, e não tanto antes, a imagem que já não era ele a mais valia das épocas anteriores.

Nesta altura o discurso do presidente e treinador já deve começar a ser para dentro! Deve começar a deixar claro que quem não render vai ser dispensado! E deve começar a procurar no mercado jovens jogadores portugueses com potencial e vontade de provar que são os melhores!

segunda-feira, março 21, 2005

(366) Janelas para Outras Opiniões (7): Webcedário e Professor Doutor

Todos nós temos links nos nossos blogues, para outros blogues. Gosto de chamá-los de Janelas para Outras Opiniões. Numa altura em que os blogues são cada vez mais parecidos sinto que é um dever contribuir para a promoção dos que se destacam pela originalidade. É o que vou fazer agora.



Começo pelo Webcedário! É talvez o blogue mais original que tive oportunidade de visitar recentemente. as letras ganham personalidade e capacidade para se expressarem com muita piada e estilo. Não sei como o Abc Dário tem imaginação para manter este blogue com tantas actualizações e sempre com muito humor. Este blogue não precisa de ser promovido mas não ficava bem comigo próprio se não o fizesse. Parabéns!



Outro blogue que descobri recentemente é o Professor Doutor. A discussão política faz-se de muitas formas em Portugal mas raramente desta forma. É uma sátira com bastante humor e sempre certeira na crítica. Fiquei rapidamente rendido às personagens e ao seu estilo peculiar de comentar a actualidade. A boa disposição é uma das melhores maneiras de encarar a vida. Parabéns ao Professor Doutor!

Esta nova vaga de blogues vem alterar o tipo de humor que é feito na blogosfera. Espero que sirva para inspirar todos os autores de blogues a escrever cada vez com mais qualidade e humor.

domingo, março 20, 2005

(365) Sala de Cinema: The Life Aquatic with Steve Zissou, de Wes Anderson



Há uma nova vaga de realizadores que tem uma forma peculiar de contar histórias. Sem o aparato dramático típico de outras décadas do cinema mas com ambientes de muita intimidade e simplicidade. Nesta categoria coloco realizadores e argumentistas do calibre de Alexander Payne, Paul Thomas Anderson, Sofia Coppola, Spike Jonze e ... Wes Anderson.



São uma nova geração com estilos inovadores e ideias originais. E não estão preocupados em copiar estilos do passado mas em criar as suas próprias imagens de marca. Não partem do visual para a escrita mas constroem os seus filmes a partir das ideias e das personagens. Prometem revolucionar o cinema...

“The Life Aquatic with Steve Zissou” é o primeiro filme de Wes Anderson que assisto mas já estou ansioso para ver o resto da sua filmografia. Este filme é original, engraçado e cheio de pormenores deliciosos. Não é um filme de gargalhada fácil porque está construído com muita inteligência. Vai ser um desafio ver e rever este filme à procura daqueles pormenores que não detectei.

O filme não é uma obra à prova de críticas e muito menos um filme com pretensões dramáticas sérias. É um filme que evoca a memória de Jacques Costeau com muito surrealismo. Todo o enquadramento visual do filme é um veículo para contar uma história simples onde Bill Murray tem um papel crucial. Este actor está numa fase imparável da sua carreira com desempenhos que misturam o humor e o drama de forma harmoniosa. Mas a lista de (bons) actores é extensa. Não vou destacar Cate Blanchett nem Willem Dafoe porque estão ao seu nível. Mas vou destacar Jeff Goldblum porque finalmente alguém percebeu em que registo é que ele consegue destacar-se, faltando apenas ser feito um filme escrito e pensado para ele. E Anjelica Huston... não tenho palavras para descrever a classe desta actriz que provavelmente só não teve uma carreira mais completa porque falta-lhe em beleza o que tem para dar e vender em talento.

Não queria deixar de mencionar Seu Jorge que adapta para português várias letras de David Bowie e que encaixam que nem uma luva neste filme.

sábado, março 19, 2005

(364) Elisa Ferreira

O Expresso publicou várias sondagens com o frente a frente entre possíveis candidatos às Câmaras do Porto e Lisboa. Eu não voto em nenhuma destas cidades mas não vou deixar de comentar na devida altura os candidatos.



Eu moro no Porto e fico preocupado com as escolhas do Expresso (ou dos partidos). Eu, se votasse no Porto, só uma pessoa teria à partida o meu voto: Elisa Ferreira! E porque não?

(363) A Alta Velocidade em Portugal

Eu fico impressionado com o amadorismo com que a questão da Alta Velocidade Ferroviária tem sido tratada em Portugal. Tenho a sensação que ainda nem ultrapassamos o ponto de partida. Nem o trajecto, nem a velocidade do comboio e muito menos o financiamento são consensuais.

Agora surgem novos dados:

- O Governo espanhol, sem avisar o congénere português, resolveu alterar a linha que vai ligar Lisboa a Madrid para poder fazer simultaneamente o transporte de pessoas e mercadorias. Esta alteração implica que a viagem entre as capitais já não possa ser feita em três horas;

- O anterior executivo de Santana apresentou, na campanha eleitoral, um trajecto e uma duração da viagem entre Lisboa e Porto financeiramente mais realista mas que abandonava o projecto duma viagem Lisboa-Porto em 1h10m! Mas até o anúncio de Santana vinha cheio de erros uma vez que a Rave não contemplou a redução da velocidade para passar pelos intercambiadores que penalizam a viagem em 15 minutos extras além do tempo extra que o executivo de Santana recomendou ao misturar rede convencional com rede de alta velocidade.

No meio desta palhaçada sem fim faço questão de deixar aqui a minha opinião! Dado o montante do investimento ou se constroi uma linha Lisboa-Porto em 1h10 e Lisboa-Madrid em 3h com o financiamento bem estruturado ou defendo que se abandone de vez o projecto! A Alta Velocidade só é competitiva, perdoem-me o pleonasmo, se conseguir ser veloz. Soluções intermédias, indecisões constantes e avanços e recuos num projecto com este risco cheiram-me a desastre financeiro! Espero que o actual Governo resolva duma vez por todas este imbróglio!

Nota adicional: Alguém consegue explicar como António Mexia apresentou, em plena campanha, um projecto desta importância como um simples somatório de tempo na rede convencional com tempo na rede de alta velocidade? Que estudo se terá baseado o ministro para nem contemplar a redução que os intercambiadores provocam no tempo da viagem? Quanta incompetência e ligeireza a gerir o nosso dinheiro...

(362) Dia do Pai

AS MINHAS DEDADAS

Por vezes ficas zangado
Por eu ser tão desastrado
E deixar sempre dedadas
Espalhadas por todo o lado

Mas os dias vão passando
E eu vou crescer sem parar
E todas as minhas dedadas
Vão ser dificies de lembrar

Por isso aqui ficam algumas
Apenas para conheceres
Que é esta a marca dos meus dedos
E para nunca mais te esqueceres!


* Texto duma criança do Jardim de Infância de Monte Carvalho que eu achei fenomenal e apropriado. Feliz dia do pai, Xico!

(361) O Papel da Memória



A história tem um papel! Não deve ser reescrita nem apagada porque a memória pode evitar que os mesmos erros sejam cometidos pelo homem!

Ontem foi retirada uma estátua de Franco da Praça San Juan de la Cruz. Não vejo qual é a utilidade desta operação. Não porque sinta algum tipo de admiração pelo "caudilho" mas não é retirando as suas estátuas que vão apagar ou modificar o mal que ele fez.

Em Portugal aconteceu o mesmo! A actual Ponte 25 de Abril não deixou de ter sido construída por Salazar nem há nenhuma razão de fundo para associar esta infra estrutura ao 25 de Abril. A mudança do nome não modificou a história nem serviu para exorcizá-la.

Não estou aqui para criticar estas operações porque sei que deve haver uma enorme carga emocional para justificá-las, apenas não compreendo que sejam úteis. Claro que uma estátua pode representar uma divinização que os espanhóis querem banir mas nunca vão conseguir banir o papel nefasto que Franco teve na história recente espanhola.

O campo de concentração de Auschwitz é um bom exemplo do que estou a tentar defender. A memória é a única arma que dispomos para evitar regressar ao passado...

quarta-feira, março 16, 2005

(360) O Eterno Problema das SCUT

Eu já fiz uma análise exaustiva do que penso das SCUT aqui.

Agora surge um novo problema! O Governador do Banco de Portugal sugeriu o aumento do Imposto Automóvel (IA) e do Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP) como alternativa à introdução de portagens nas vias sem custos para o utilizador. Vítor Constâncio está convencido das externalidades positivas que as SCUT trazem ao país. Eu também estou! O problema é que já (re)começou a demagogia à volta deste polémico tema. Segundo vários comentadores, o PS insiste em onerar os portugueses para manter as SCUT. É fácil desmontar esta teoria.

As declarações de Vítor Constâncio são tudo menos inocentes. Porquê sugerir agora um novo aumento de impostos para manter as SCUT? Não é porque as SCUT absorvem mais dinheiro ao Estado do que aquele que já estava previsto. O que está acontecer é simples de explicar! O Governo anterior já tinha arranjado um filão de ouro para este ano. O fim das SCUT era uma das grandes receitas extraordinárias do ano! Deste modo, para manter tudo como estava, é necessário arranjar novas receitas extraordinárias por questões meramente orçamentais. O aumento proposto de impostos não é resultado directo das SCUT mas sim da inscrição de novas receitas no Orçamento de Estado pelo Governo de Coligação que agora precisa de ser compensado de modo a manter o défice abaixo dos 3%.

Para ser rigoroso nas minhas análises vou defender novamente o que sempre defendi. As SCUT são uma excelente solução técnica e económica mas são uma solução política péssima. Simplesmente porque não há estabilidade nas políticas quando mudam os Governos em Portugal. Estamos impedidos de utilizar as mesmas soluções técnicas que trazem bons resultados no exterior (por exemplo em Espanha) porque a classe política portuguesa vive de rupturas com as políticas anteriores!

* Ainda sobre este tema podem consultar este post onde fiz, com mais detalhe, uma análise às vantagens e desvantagens das SCUT!
(203) Para discutir as SCUT com seriedade...

terça-feira, março 15, 2005

(359) Hoje faz 2049 anos que...

... Júlio César morria quando entrava no Senado. Foram 23 punhaladas! Traído pelo seu filho adoptivo proferiu estas famosas últimas palavras carregadas de revolta e choque pela ingratidão:

"Tu quoque, Brutus, fili mi!"

Hoje, passados 2049 anos, a história repete-se na... Câmara Municipal de Lisboa!

segunda-feira, março 14, 2005

(358) Prisão Perpétua

Perpétuo é para sempre! Implica que vamos morrer na cadeia! Não há vida para além do encarceramento...

O outro dia lia num jornal (provavelmente no Público) que um rapaz de 13 anos foi condenado a prisão perpétua por ter violado uma professora de 30 anos quando tinha 12 anos de idade. Confesso que este caso deixou-me chocado. Para já pelo acto e depois pela pena.

Eu gosto de falar de justiça quando estou no pleno das minhas capacidades racionais. Se algo acontecesse a um familiar meu eu certamente teria outra opinião mas não estaria no pleno poder da minha racionalidade. Por isso vou discutir este caso como ele deve ser discutido, leia-se, à distância.

Custa-me acreditar que uma criança com 12 anos tenha a maturidade sexual e física para dominar desta forma uma adulta. Mas visto que foi condenado tenho que assumir que consegue. Um pré adolescente decidir tomar tal atitude já devia ser suficiente para iniciar uma longa reflexão mas eu não sou psicólogo nem consigo atingir tal complexidade de comportamento. O que eu sei é que não há prisão perpétua em Portugal porque há sempre uma componente que as prisões devem (ou deviam) ter, isto é, a capacidade de regenerar um indivíduo. Uma prisão não é só um local de cumprimento da pena que a sociedade impõe para permitir que esta funcione com alguma normalidade e que possa defender um certo estilo de vida. Há também a obrigação do Estado acreditar no ser humano e fazer uma tentativa de regeneração.

O caso toma outras proporções quando é um menor que é condenado a prisão perpétua. Surgem-me algumas dúvidas: O crime merece uma pena eterna? Este menor não tem capacidade de regeneração? A adolescência não provoca alterações profundas na maneira de agir e pensar?

São reflexões que devemos ter antes que estas situações cheguem à discussão pública de forma irracional e baseadas num caso particular!

domingo, março 13, 2005

(357) Tomada de Posse do XVII Governo Constitucional

Tenho optado por não discutir a composição do Governo e alguns sinais que tem transmitido porque qualquer argumento nesta altura resulta numa inevitável redundância. Mas talvez seja a hora certa de deixar aqui alguns apontamentos:

Impostos: Já estou habituado a que nas campanhas eleitorais os políticos tenham um comportamento completamente demagógico. Até por isso olhei para a contenção de Sócrates nesse período como um bom sinal. Mas houve uma tentação que o nosso novo Primeiro Ministro não conseguiu resistir. Prometeu que os impostos não iam subir e que não ia fazer o mesmo que Durão Barroso fez em 2003 ao prometer um choque fiscal e acabar por subir a taxa máxima do IVA. No actual contexto económico não podemos nem devemos prometer quase nada. Ao ter feito aquela promessa e apesar de estarmos todos de acordo que os impostos não devem ser agravados, a única coisa que Sócrates fez foi retirar um instrumento ao país que ainda pode ser necessário. Não fico chocado com as palavras do nosso novo Ministro das Finanças mas sim com o comportamento demagógico dos nossos políticos em campanha eleitoral.

Composição do Governo: Este Governo tem, desde logo, um defeito inultrapassável. Parece um grupo de homens numa sauna com apenas duas mulheres a trazerem as toalhas. Não consigo compreender esta opção de só ter colocado duas mulheres como ministras e quatro como secretárias de Estado.

Algumas notas sobre os novos ministros: Eu adoro ouvir as críticas e os elogios aos Governos. Ou têm pouca experiência política, ou pouca competência técnica ou se tiverem as duas, todos criticam os potenciais choques de personalidade. Estes tipos de análise são ridículos e sempre prematuros. É claro que vai haver algum velho do Restelo que vai acertar mas os profetas da desgraças e das bonanças acertam tantas vezes como falham. O importante vai ser analisar o desempenho do Governo e a sua capacidade reformadora. Nos próximos seis meses já vamos poder tirar muitas conclusões. O que eu tenho são expectativas, umas boas e outras más... mas não vou, para já, escrever sobre isso.

Tomada de Posse: É positivo verificar que temos capacidade de mudar o que já é obsoleto. O “beija mão” e o “beija povo” era ridículo e enviava um sinal distorcido do papel dos políticos. Estes não devem ser venerados nem influenciados e reduzir a Tomada de Posse ao juramento, discursos e passagem de testemunho parece-me um bom sinal.

Discurso na Tomada de Posse: Sampaio já não tem mais influência política e por isso nem ouvi o seu discurso. Sócrates fez um discurso pouco formal e algo estranho. No meio de muitas orientações e recados ao seu próprio executivo e ao comportamento que deve ter deixou duas propostas. Qualquer uma delas é positiva. A dos referendos nos actos eleitorais eu já a tinha defendido aqui e não tenho nada a acrescentar. A venda de medicamentos que não precisam de receita fora das farmácias também é uma guerra que vale a pena ser comprada (mas há que haver cuidado na regulamentação). Sem discutir a justiça das propostas não consigo evitar que surja uma pergunta: será o início dum conjunto de medidas corajosas ou apenas fogo de vista, leia-se, pólvora seca?

Nota: Estou de novo com problemas no computador. Depois de ter formatado o disco instalei o Windows XP SP2, o ZoneAlarm, um Antivírus, o SpyBoot e o browser Firefox. Há dois dias tudo estava bem e não instalei mais nada. Agora apesar da internet estar a fucionar há certas páginas que nem começam a carregar e ficam em branco. Entre elas todos os blogues da blogger (incluíndo o meu) e, por exemplo, a amazon inglesa. Neste momento actualizo o blogue fora de casa e não tenho tempo para actualizar diariamente nem para comentar outros blogues que gosto de visitar mas que não consigo aceder. Não é um problema do firewall e já reinstalei o browser sem sucesso... se alguém souber como eu posso resolver o problema agradecia que deixassem aqui a sugestão ou que a enviassem para o meu mail. Obrigado!

(356) Humilhação

É normal uma equipa de futebol ter ciclos de vitórias e de derrotas. O que já não é normal é um ano após ter ganho a Liga dos Campeões o Futebol Clube do Porto (FCP) ter tido três treinadores numa época. Também não é normal perder tantos pontos em casa e ainda não ter feito uma única exibição aceitável. Parece-me também estranho que depois de ter sido aplicado um modelo de sucesso com a contratação de jogadores portugueses isso tenha sido posto de lado logo no ano seguinte. Isto tudo culmina na maior humilhação de que tenho memória do FCP. Está na hora de reeditar o que Artur Jorge fez em tempos, uma limpeza de balneário.

Só há uma perspectiva positiva nesta crise para um adepto dos dragões. É que agora a saída de Pinto da Costa não vai ser tão traumática e nem ele vai ser um eterno fantasma a pairar sobre os novos dirigentes... porque afinal também é capaz do pior!

sexta-feira, março 11, 2005

(355) 11M






quinta-feira, março 10, 2005

(354) Quadratura do Círculo




A Quadratura do Círculo apaixonou durante séculos os matemáticos. Construir um quadrado com a mesma área de um círculo dado não era tarefa fácil. No século XIX Von Lindemann provou que π (pi - razão entre o perímetro e o diâmetro do círculo) é transcendente, pelo que é impossível efectuar a quadratura do círculo apenas com régua e compasso como os Gregos tentavam. A Quadratura do Círculo passou a designar algo impossível de obter...

Mas não é de matemática que quero falar hoje mas sim do programa de debate com o mesmo nome que passa na SIC Notícias. Só por ser um dos programas mais antigos de debate político na realidade portuguesa já merece umas palavras de apreço. Mas também não estou aqui para lançar elogios fáceis ao programa. É que o painel de comentadores no programa é uma imagem nua e crua do que representam os partidos hoje em dia, no seu melhor e pior. Já não é a primeira vez que defendo que o verdadeiro problema da nossa democracia não é o sistema eleitoral nem a Constituição mas sim o funcionamento interno dos partidos. Cabe-me agora tentar provar que Pacheco Pereira, Lobo Xavier e José Magalhães também são parte do problema apesar da imagem de desprendimento que (uns) gostam de publicitar.

José Magalhães, sem discutir as suas qualidades profissionais, representa o homem leal do partido que é cego na sua defesa. Não há nenhuma matéria em que tenha a coragem de atacar o seu partido. Não diria que é o verdadeiro homem do aparelho pois o verdadeiro homem do aparelho tem a inteligência de estar sempre de acordo com o partido numa solidariedade amoral mas também sabe quando deve criticar algumas trivialidades internas que nunca atingem ninguém em particular. Nesta óptica José Magalhães é aquele que não esconde o que os partidos, enquanto entidades com inteligência artificial, querem verdadeiramente dos seus militantes, ou seja, obediência cega. José Magalhães é, assim, o último dos românticos ingénuos porque não sabe disfarçar o que, na realidade, todos fazem.

Lobo Xavier gosta de estar dentro e fora ao mesmo tempo. Voa sobre a estrutura do partido, nunca pousa mas também nunca se afasta. Adora virar-se para José Magalhães e colocar aquela expressão digna dum sangue azul e dizer: “Eu sou independente!”. Mas estes anti-heróis dos partidos têm uma particularidade curiosa já que conhecem e respeitam as regras dos partidos. Não é o país que os move mas uma noção de serviço (mascarado de classe e rigor) aos partidos que pertencem. Ainda há pouco tempo Lobo Xavier virava-se para Pacheco Pereira e enunciava a longa lista de regras que um militante deve ter com o seu partido. Uma delas é não criticar o partido em vésperas de eleições e que esse desrespeito se paga caro. Por isso o seu constante distanciamento virtual não existiu em vésperas de eleições. Mais um serviço prestado ao partido ao invés de defender quem o partido verdadeiramente representa.

Pacheco Pereira é o caso mais paradigmático. Eu admiro a sua coragem e quanto a isso faço a minha devida vénia. Mas ninguém pense que o seu distanciamento é levado às últimas consequências porque Pacheco Pereira também é um homem pragmático. Durante meses criticou abertamente Santana Lopes em termos que vão muito além da crítica interna (que verdade seja dita é muito inconsequente nos partidos) à liderança ideológica do partido que é militante. Falou em termos de desgraça nacional, do que Portugal sofria às mãos deste populista. Mas, no fim, votou Santana Lopes explicando que elegia deputados e que acreditava na regeneração do seu partido. Nem é preciso desmontar este raciocínio porque o próprio raciocínio faz esse trabalho sozinho e sem ajuda. Afinal não era Portugal que estava em jogo. Depois das eleições falou dos seus sacrifícios pessoais, os do passado e os do futuro, porque, segundo o próprio, a única coisa que fez foi defender Portugal mas agora é natural que o partido castigue quem não foi solidário com a desgraça. Depois do mea culpa esquece-se de toda a sua independência e volta ao seu desporto favorito que é criticar de forma agressiva e paternalista José Magalhães. Mas desta vez nota-se o desespero de quem precisa criticar agressivamente tudo o que o PS vai fazer porque, no fundo, com a sua oposição a Santana também ele perdeu a sua independência. Veja-se que elogiar o PS nos próximos meses destrói definitivamente a esperança que o PSD o perdoe e, sobre esta perspectiva, o seu ensaio de independência retirou-lhe a própria independência para avaliar racionalmente as decisões dos vários partidos.

Desengane-se quem pensa que eu critiquei algum destes comentadores. Só os mais distraídos não notam que eu fiz um largo elogio à capacidade pragmática de cada um deles se posicionar na realidade em que vivemos, com as regras que nós próprios resolvemos construír ao longo da nossa curta permanência na Terra (também temos culpa ao permitir que os partidos funcionem de forma anti democrática). Nenhum de nós tem independência porque queremos sobreviver e precisamos da liberdade que nos oferecem, da comida que conquistamos e do respeito que impomos. No fundo é a Quadratura do Círculo.

P.S. Parece que José Magalhães vai ser substituído por Jorge Coelho. Respira o PS de alívio e, na minha opinião, também o PSD (acredito que a presença de José Magalhães proporcionava o ambiente certo para Pacheco Pereira criticar o seu próprio partido, por não existirem verdadeiros antagonistas no programa e por Pacheco Pereira fazer questão de sublinhar que é muito diferente no tipo de militância que pratica). Espero que José Magalhães consiga colocar a sua competência técnica ao serviço do país.

quarta-feira, março 09, 2005

(353) Memória Selectiva

Confesso que tenho andado divertido! O “Paulinho das Feiras” é uma personagem que nos faz rir e até chorar (de tanto rir, claro). Agora resolveu limpar a casa de retratos e outras “velharias” antes de ir embora. E porque é um rapaz poupado enviou o espólio para o Largo do Rato, sede do PS.

Eu já sabia que o PP (ou será CDS, ou ainda melhor, CDS/PP) não tinha identidade e andava à procura de uma. Não se trata dum partido com várias correntes internas como o PSD ou o PS, simplesmente não sabe o que defender ou adora a Metamorfose, do Kafka. Às vezes é centro, outras é direita, outras é esquerda. Às vezes é popular, outras é patronal, muitas vezes é conservador. Mas o problema nem está nesta confusão ideológica. O verdadeiro problema do PP é que a sigla não significa Partido Popular mas sim Paulo Portas. Toda esta confusão e desorientação nasce da personalidade “saltitante e irrequieta” do nosso “homem de Estado, ex- Paulinho das Feiras”.

Mas o legado deste grande homem não fica por aqui! Agora tenta reescrever a história do PP. Um dia dirá que nem existiu CDS, apenas existiu o PP de Paulo Portas. Adriano Moreira nem menciona, Freitas do Amaral é um taliban (no sentido do terrorismo político, claro), Manuel Monteiro um ladrão de votos. Apenas tem na memória o cerco ao Palácio de Cristal porque gosta de se imaginar no meio da confusão a gritar “Eu estou aqui”, enquanto andava pela social democracia encantado com Sá Carneiro. E também tem na memória Amaro da Costa, que nem líder do CDS foi mas que novamente Portas acha que representa o herói que ele gostaria de ser e não é.

A história não se reescreve, apenas pode ser julgada. O julgamento popular que Portas quer fazer não tem nada a ver com o passado, apenas tem a ver com o futuro, ou melhor, com a história que ele quer que se escreva no futuro. Eu gosto de história, mas tenho pouca vontade de ler estórias, ainda mais escritas por quem acusa os outros de serem extremistas quando ele próprio tem uns tiques muito parecidos aos que Fidel Castro costuma ter. E que melhor elogio que este para acabar esta estória.

É caso para dizer que Paulo Portas deixa o PP sem identidade nem história, mas com muitas estórias...

(352) Vergonha

Haverá palavra mais adequada que esta ("vergonha") para definir a situação completamente amoral (ou até imoral) de nomeações por um Governo de Gestão? As nomeações para cargos de confiança política e para gabinetes voltou a ser notícia mesmo depois da promessa de Pedro Santana Lopes (de evitar que esta situação voltasse a acontecer) durante a campanha eleitoral.

Faça-se um balanço para a posteridade do que aconteceu entre 30 de Novembro (data da dissolução do Parlamento) até esta data:

- O secretário adjunto do Ministro da Saúde nomeou duas funcionárias para "funções na área de tratamento de texto" e para "secretariado, apoio técnico e tratamento de informação" e ainda um assessor de gabinete;

- O secretário de Estado dos assuntos parlamentares nomeou uma adjunta;

- O secretário de Estado adjunto e do Trabalho nomeou um chefe de gabinete;

- O secretário de Estado adjunto e das Obras Públicas nomeou uma adjunta;

- O Primeiro Ministro, em Janeiro, nomeou uma assessora e uma subdirectora da Companhia Nacional do Bailado;

- O Ministro da Defesa colocou o subdirector-geral do Ministério da Defesa como representante efectivo da Direcção-Geral de armamento e Equipamentos de Defesa na Comissão Permanente de Contrapartidas;

Quem estará a pagar isto tudo? Seremos nós?

- O Ministro da Saúde nomeou directores clínicos, o subdirector-geral da Saúde, os membros da Comissão de Ética para a Investigação Clínica, o director do Centro Regional de Alcoologia do Sul, os membros do conselho técnico-científico do Instituto da Droga e Toxicodependência e os elementos do Conselho de Transplantação. Um verdadeiro recordista;

- A Ministra da Educação nomeou quase todos os coordenadores educativos distritais;

- O Ministro da Segurança Social nomeou quase todos os representantes distritais dos núcleos locais de inserção do Rendimento Social de Inserção;

Deprimidos? Ainda não acabou...

- O Ministro das Obras Públicas escolheu um vogal para o Conselho Superior de Obras Públicas e Transportes e uma vogal da subcomissão de regulamentos de barragens;

- O secretário de Estado adjunto e do Trabalho renovou os representantes nos conselhos consultivos em vários centros de formação profissional;

E para acabar em grande... a cereja por cima do bolo...

- A Ministra da Cultura (através do seu secretário de Estado) comprometeu o Estado ao pagamento de uma dívida de 12 milhões de euros à... fundação que foi presidente até ir para o Governo. Até o prazo limite para o pagamento foi fixado: Julho!

Sinto-me enojado e espoliado! Faço uma sugestão que devia ser levada a sério! Quem fizesse nomeações em período de Gestão estaria obrigado, por lei, a indemnizar o Estado pessoalmente por todos aqueles funcionários que, admitidos nesse período em cargos de assessoria ou de confiança política, fossem considerados dispensáveis ou substituíveis pelo novo Governo. Acho que era a única maneira de moralizar esta situação duma forma definitiva.

Fonte: Público, Expresso

(351) O regresso...

...de quem nunca partiu! Computador formatado, internet a funcionar... de volta ao blogue com toda a força!

sábado, março 05, 2005

(350) Sala de Cinema - Fantasporto 2005: Appleseed, de Shinji Aramaki



Nos últimos dias o meu computador parece que já está a antecipar o Apocalipse (que os japoneses tanto gostam de explorar nos seus filmes) e tem-se recusado a colaborar. Torna-se difícil actualizar o blogue quando a máquina parece ter mau feitio e resolve tirar uma licença sem aviso prévio. Até resolver o problema as actualizações vão ser menos frequentes.

Não sou conhecedor do universo animé e arrisquei ir ver este filme após uma mudança de última hora na programação do FantasPorto. Ainda por cima o profissionalismo da organização nas legendagens continua a não ser famoso! Foi um choque quando as legendas apareceram em espanhol em vez das anunciadas legendas em inglês. Os astros pareciam estar alinhados para uma noite de desilusão no "Fantas". Mas salvou-se o filme...

Appleseed está visualmente estonteante, tem uma história equilibrada e que tenta não ser previsível (nem sempre consegue), uma banda sonora desequilibrada mas adequada ao tipo de história e uma mistura de animação digital com animação tradicional que até funcionou bastante bem. Não acho que seja um filme tão bom como Final Fantasy mas teve qualidade suficiente para despertar a minha curiosidade por este género cinematográfico.

quarta-feira, março 02, 2005

(349) Professor Marcelo de volta aos comentários




Professor Marcelo na praia mostrando os seus peitorais peludos às suas "Marceletes"! Repare-se no entusiasmo que os já referidos peitorais provocam às suas admiradoras!






O Professor aproveita os seus últimos momentos de férias antes de voltar ao seu "serviço público"... brincando na água!






Há sempre uma "Marcelete" que não quer que o Professor vá...





... mas lá vai ele a grande velocidade para a RTP! Resta-nos a todos chorar e rezar para que volte o bom tempo!

* As fotos foram retiradas da revista Caras!

Nota do autor do post: Com isto não estou a criticar a ida do professor para a RTP, só a realçar que no Domingo esta estação vai perder um telespectador. Nem o autor pretende ridicularizar ninguém, simplesmente recomenda que os políticos não se exponham tanto nas revistas "cor de rosa"!

(348) Inverno atípico na Madeira e Porto Santo





* Correcção: O Homem das Ilhas, do (muito interessante) blogue Latitude 33, Longitude 16 fez uma importante correcção à foto relativa ao Porto Santo. A foto é da Páscoa de 2003 e não deste ano, como aqui informei. Fica feita a correcção e o obrigado pelo aviso!

terça-feira, março 01, 2005

(347) A Semana do Cinema...



... chega ao fim! Foram 15 posts consecutivos sobre a Sétima Arte. Não vou deixar de escrever sobre cinema mas não em exclusivo como fiz esta semana. Ficou muito por escrever mas não faltarão oportunidades.

Nunca sei bem como definir este blogue. Não é um diário pessoal mas tem muito de pessoal. É sobre política mas às vezes não é. É sobre tudo e sobre nada. Isso reflecte-se quando mudo abruptamente os temas sobre os quais escrevo diminuindo logo a quantidade de comentários apesar das visitas continuarem estáveis.

Apesar de este ser um espaço aberto a qualquer visita cada vez estou menos preocupado em agradar quem aqui aparece. Um blogue é, acima de tudo, um local que tem que dar prazer a quem escreve. Se nesse processo as pessoas aderirem tanto melhor.

Obrigado pelas visitas. Nesta "Semana do Cinema" falei sobre alguns filmes que vi recentemente e escrevi sobre alguns intervenientes da Sétima Arte. O balanço fica para quem quiser fazê-lo!