Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quinta-feira, setembro 29, 2005

581. Álbum de Fotos: Porto e Gaia

Este blogue vai entrar numa fase irregular de novos "posts". Nos próximos dias (ainda não definidos) não vão haver actualizações ou estas serão raras. Mas, em breve, regresso!

Escolho estas fotografias para quem visitar o blogue poder apreciar (ou não esquecer) que o Porto e Gaia têm uma beleza incomparável! Até já...








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quarta-feira, setembro 28, 2005

580. Álbum de Fotos: Metro na Ponte Luís I








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579. O estilo Co Adriaanse



“Sejam bem-vindos. Eu sou o Co Adriaanse e espero que apreciem o espéctáculo que é o futebol”
Citação da primeira frase de Co Adriaanse no balneário do Porto


Sou adepto do Futebol Clube do Porto e isso afecta, obviamente, a minha capacidade de imparcialidade. Mas como aplico neste blogue a regra de que o futebol só deve ser evocado quando há importantes conquistas ou é feito algo para a sua melhoria (nunca escrevi sobre arbitragens ou declarações de dirigentes) não podia deixar de apoiar a lufada de ar fresco que Co Adriaanse trouxe ao futebol português.

“I don't hope it will be zero-zero. A lot of money for no goals.”
Co Adriaanse antes dum jogo entre o Ajax (equipa que treinava) com o NAC


Tanto Co Adriaanse como Ronald Koeman são acima de tudo homens extremamente educados e só depois são treinadores de futebol. E o holandês que treina o principal clube da cidade do Porto tem uma filosofia do jogo que recupera o espírito inicial deste desporto. Adriaanse não é um treinador obcecado com os resultados, nem com o futebol científico, nem com o futebol defensivo e nem vive deslumbrado com o dinheiro que o jogo movimenta. Simplesmente preocupa-se com o espírito do futebol, leia-se, com a obrigatoriedade do futebol proporcionar espectáculo. As suas equipas nunca terão os sucessos que Mourinho teve porque estão vocacionadas para atacar do início ao fim e, por isso, são equipas pouco eficazes a segurar a bola ou a defender. Também há espectáculo no rigor táctico das equipas de Mourinho mas o tipo de futebol de Adriaanse é mais ingénuo e, por isso, mais atraente. A derrota com o Glasgow Rangers é um bom exemplo do seu futebol quixotesco.

O futebol português é um futebol pouco competitivo e pouco atraente para os espectadores. Se temos que pagar quantias avultadas para assistir a um jogo não podemos ter jogos como os que temos. A média de espectadores na última jornada em jogos em que não estiveram envolvidos os três grandes foi de 3470 e no Leiria-Nacional e no Naval-Rio Ave estiveram, respectivamente , 500 e 600 pessoas a assistir aos jogos. Co Adriaanse já levou 128047 espectadores em três jogos ao Dragão. Aqui está a regra para o sucesso do nosso futebol e não este futebol científico e defensivo que anda a ser praticado. Até os adeptos do Benfica devem estar mais satisfeitos com o nível exibicional que Koeman está timidamente a impor à equipa em relação ao futebol desinteressante de Trapattoni.

Outra questão que Adriaanse colocou e criou consensos foi na questão da disciplina. O que este treinador exige à sua equipa em termos de disciplina (até agora a segunda equipa mais bem comportada) também veio exigir ao futebol português. A regra dos cinco amarelos para cada suspensão é anti desportiva e incita o jogo duro e defensivo. Adriaanse defendeu um sistema diferente. Por exemplo podia mudar, na minha opinião, para 5 amarelos para a primeira suspensão, 3 para a segunda e um amarelo para cada suspensão seguinte. A discussão sobre as regras do futebol português ganhou outro destaque com as duras críticas de Adriaanse à protecção do anti jogo.

Não sei se este treinador vai ser capaz de conquistar muitos troféus (acho que ainda não tem nenhum) mas se conseguir continuar a fazer do futebol algo que dá prazer em assistir tem todo o meu apoio...

terça-feira, setembro 27, 2005

578. A exigência democrática




No próximo dia 9 de Outubro não vai estar só em jogo a eleição dos orgãos autárquicos. Também vai estar em jogo um sinal dos portugueses para o que realmente exigem da vida democrática.

Eu acredito que a presunção da inocência é um dos pilares do Estado de Direito mas também sei que os titulares de cargos políticos têm a obrigação de promover a transparência junto aos seus eleitores. E nos diversos casos de autarcas a braços com a justiça essa transparência tem sido evitada. Não posso exigir que deixem de ser candidatos à espera duma decisão da justiça e muito menos defendo que vejam os seus direitos limitados mas posso e devo exigir dos meus futuros representantes uma postura cívica de total esclarecimento, dentro do que lhes é permitido pelos tribunais, do que é que realmente se passou:

- Assim a Fátima Felgueiras exigia-se um cabal esclarecimento das contas da Câmara, dos negócios pouco claros e das suas formas de financiamento;

- A Isaltino Morais exigia-se que explicasse a sua real ligação e a proveniência do dinheiro que está colocado numa conta no estrangeiro;

- A Avelino Ferreira Torres exigia-se a explicação dos contornos dos inúmeros casos em que está envolvido desde a construção da sua casa em terrenos protegidos até à sua ligação com o seu ex-braço direito;

- A Valentim Loureiro exigia-se uma clara exposição de todas as transacções com empreiteiros assim como o esclarecimento em relação às ligações entre a política e o futebol.

Não percebi, da parte de nenhum dos candidatos, essa preocupação em explicar aos eleitores que nunca traíram a sua confiança e que empreenderam uma gestão criteriosa dos seus destinos, dentro da legalidade vigente. A partir do momento em que se candidatam perdem o direito a não ter que esclarecer publicamente os seus eleitores sobre estas situações.

Mas não estou preocupado com as suas candidaturas já que são democráticas e estão inseridas na lei. Estou preocupado com a falta de exigência por parte dos eleitores em relação a estes esclarecimentos. Se, de facto, as eleições do próximo dia 9 confirmarem a eleição de algum destes candidatos (ou de todos) o que é que isso diz da nossa exigência democrática e da real preocupação com o país por cima dos interesses regionais (e pessoais porque tudo está interligado com redes de favores pessoais, legais ou ilegais)? Será ou não a prova cabal que temos os políticos que merecemos e que estes não são mais que um reflexo dos próprios portugueses? Costumam dizer que o voto é um exercício de bom senso mas será que o voto nestas pessoas, incapazes de expressar mais do que interesses pessoais e regionais ignorando a responsabilidade de serem transparentes dentro dos limites do segredo de justiça, confirma isso?

domingo, setembro 25, 2005

577. Portugal a ferro e fogo



Acho que ninguém pode contestar que o país está numa lenta agonia e que o regime democrático está descredibilizado. Os portugueses deixaram de respeitar os políticos, ninguém confia que os tribunais garantam a justiça, a economia não arranca e ninguém consegue garantir quando isso vai acontecer, o preço do petróleo deixa-nos ainda mais frágeis, o desemprego sobe, o país arde, as empresas contribuem cada vez menos para o Estado Social, a Segurança Social não tem capacidade para fazer face ao crescente número de reformados, e é melhor nem continuar.

A questão que coloco é: devemos desesperar? Continuo a acreditar que não! Não há nenhuma época na história que não tenha tido ciclos de euforia e ciclos de desânimo e foi a vontade do homem que fez o mundo avançar, com altos e baixos. O mundo muda todos os dias e a uma velocidade cada vez maior. Os fenómenos de Globalização pertencem à natureza do homem e este finalmente tem meios técnicos para criar uma verdadeira aldeia global. Isto afecta o modo de vida que tínhamos mas é preciso encarar tudo como um desafio e uma oportunidade e não podemos ser fatalistas.

Todos os ciclos acabam um dia, os bons e os maus, mas apenas para darem lugar a um novo ciclo. Mas como não podemos estar à espera que fenómenos arbitrários resolvam os nossos problemas nem da boleia de terceiros e muito menos dum Dom Sebastião qualquer, temos que criar um espírito de exigência que tem faltado não só aos políticos mas também à população em geral (os políticos são o reflexo dos portugueses e não podemos lavar as mãos dos problemas que enfrentamos). Mais do que nunca temos que decidir o que é que realmente vale a pena combater. Ou esperamos resignados que o destino aconteça ou começamos a tentar influenciar o destino. E para isso acontecer temos que aprender que temos que ser exigentes connosco próprios e com os outros. A época do laxismo tem que terminar para podermos continuar a profundar o Estado Social, para criarmos emprego, para obtermos melhores remunerações e, essencialmente, para provarmos que temos um lugar neste Admirável Mundo Novo!

sábado, setembro 24, 2005

576. Câmara Corporativa

No blogue Câmara Corporativa (que recomendo vivamente a leitura), o Miguel fez este post acerca dum comentário que eu tinha feito a um post mais antigo...

A irracionalidade do sistema remuneratório na função pública: o salve-se quem puder...

Escreveu ontem o Ricardo na caixa de comentários deste post: “Não nos podemos é esquecer que ao mesmo tempo que acabamos com estas regalias injustas e de efeito cumulativo temos que fazer um esforço suplementar nas remunerações. Estes regimes apareceram porque nunca houve a coragem e a capacidade em aumentar condignamente as remunerações (…).” Concordo com o que diz — mas, chegadas as coisas ao ponto em que estão, afigura-se-nos que há questões adicionais que importa ter em conta, a primeira das quais é que os mais prejudicados, em comparação com as remunerações praticadas no sector privado, são as carreiras técnicas e os quadros dirigentes. (...)
(Continua, carregue na ligação para ler o resto do texto)

Transcrevo agora o que coloquei hoje na caixa de comentários a este post:

"O teu longo e (sempre) bem estruturado texto sobre as remunerações não foi ao encontro do que eu tinha defendido naquele comentário. O que fizeste foi descrever mais um regime complexo e "especial" de aumento das remunerações, o que é mais uma forma de negação da simplificação do sistema.

O que eu defendo é diferente. Defendo que os sucessivos ministros têm que ter a coragem de não empurrar para o seu sucessor regalias que visam compensar aumentos menores no imediato das remunerações. Defendo que as remunerações devem ser a base da contrapartida do trabalho com o critério do mérito e da função desempenhada como barómetro para o seu valor. O resto das regalias deve ser simplificada e não deve ser a câmara de compensação da falta de coragem dos políticos que adoram fazer fuga para a frente. Em resumo acho que é justo combater as regalias com efeitos cumulativos mas que também é justo remunerar bem quem trabalha bem na função pública, de forma simplificada."

575. Sala de Cinema: The Island




Realizador: Michael Bay
Elenco: Ewan McGregor, Scarlett Johansson, Djimon Hounsou, Sean Bean, Steve Buscemi, Michael Clarke Duncan

A vantagem de ir ver um filme com as expectativas muito em baixo é que mesmo que esse filme não seja mais do que razoável acabamos por ter uma surpresa agradável. E “The island” não é mais do que isso, leia-se, um blockbuster razoável.

O filme começa muito bem e constrói uma sociedade provavelmente inspirada no Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley e, pouco a pouco, faz a sua própria desconstrução. Afinal este mundo não é mais do que uma empresa de tecnologia de ponta que serve clientes ricos e o seu produto são clones desses clientes que servem para garantir a substituição de orgãos (entre outras funções). Estes produtos vivem de forma controlada com a ilusão que, um dia, vão ser felizes na Ilha (não é muito diferente do conceito de Céu, isto é, é a utopia que move o homem). Esta história tinha bastante potencial mas esgotou-se ainda numa fase inicial do filme a partir da (intensa) cena da clínica onde tentam retirar os orgãos ao produto interpretado por Michael Clarke Duncan.

A partir daqui o filme torna-se num festival de cenas de acção que não estão bem conseguidas por culpa do estilo de realização confuso e irreal de Michael Bay (as cenas de acção são para esquecer). A história também perde fulgor e acaba por ser mal gerida, transformando uma boa ideia de partida num filme igual a tantos outros. Também a publicidade excessiva no filme é irritante para o espectador.

Não posso deixar de mencionar que Ewan McGregor está muito bem neste filme. É ele que dá credibilidade ao filme e carrega-o às costas já que torna o impossível credível. Pertencem a ele os verdadeiros momentos de drama e de humor. A cena com o seu sponsor está muito bem conseguida e é uma das pérolas do filme. Já Scarlett Johansson, para surpresa minha, tem uma interpretação só razoável porque nunca encontra o registo certo no filme. É a primeira vez que vejo esta talentosa actriz a ser um dos elos fracos dum filme. Não soube/ conseguiu transmitir a solidez necessária nas reacções da sua personagem nem nunca pareceu estar realmente naquele mundo.

Síntese da Opinião: Para blockbuster não está nada mal apesar das cenas de acção serem para esquecer (é um filme de Michael Bay e mais não digo). Podia ter sido um filme bem melhor, já que a ideia de partida tinha o potencial para transformar esta película em algo bem mais intenso e credível.

quinta-feira, setembro 22, 2005

574. Novamente os Transportes Públicos




Hoje é o Dia Europeu Sem Carros! Hoje os transportes públicos no Porto são gratuitos e aproveitei para passear por parte da nova Linha Amarela (infelizmente ainda não atravessei a ponte Luís I). Todas as carruagens que utilizei hoje (foram quatro, duas linhas, ida e volta) estavam repletas. As estações estão simples e em tons claros e a mobilidade no Porto deu um enorme salto qualitativo. Mais uma vez quero realçar que são as políticas de transporte público eficazes que vão resolver muitos dos problemas das cidades e não mais e mais estradas, mais e mais automóveis, mais e mais parques de estacionamento no centro da cidade.

Tenho ouvido rumores que vão avançar para os passes intermodais com preços elevados. Não consigo confirmar a veracidade destes rumores. Estes passes apresentam um problema interessante. Se eu pensar como economista facilmente vou chegar à conclusão que a junção dos passes pode ser inviável a preços baixos porque os STCP e o Metro do Porto têm ambos custos elevados. Por isso não sei qual vai ser a solução adoptada. Mas antes de saber vou escrever o que defendo que deva ser feito.

Eu acho que os subsídios do Estado aos bilhetes individuais não deve existir porque defendo uma lógica de racionalização de custos e esta solução pode ter custos exponenciais. Mas quanto aos passes já defendo outra solução. É que o passe incentiva uma utilização regular dos transportes públicos porque, uma vez adquirido, aumenta o custo de oportunidade de utilizar outros transportes. Já o bilhete individual pode sempre ser utilizado mais tarde. O passe também incentiva viagens mais longas de transporte público, potencialmente utilizando várias linhas. O bilhete individual não permite isso logo incentiva mais a utilização de outro tipo de transportes.

Os passes são um claro incentivo à utilização dos transportes públicos e como existem externalidades positivas no uso de transportes públicos considero que o Estado pode e deve subsidiar os passes. Quando falo de externalidades positivas falo do ambiente, da diminuição da importação de combustíveis fósseis, da diminuição de custos com a construção de novas estradas, do aumento da actividade económica e do seu vigor, do aumento da qualidade de vida e por aí fora. Por isso acho que devem haver passes separados a preços competitivos e, simultaneamente, um passe conjunto que seja menor do que a soma dos passes individuais. Disse!

573. Ronda pelos Blogues

Recomendo a leitura:

- A integração energética como futuro, no blogue À Deriva

- A ira dos militares é justa?, no blogue Câmara Corporativa

E aproveito para saudar o regresso do Raio de férias que já recomeçou a (des)montar as Cabalas!

572. Nevoeiro




Está uma noite de nevoeiro denso no Porto. Tenho medo de quem possa aparecer!

571. Viva a Fatinha...

Sinto-me tão feliz! A Fatinha voltou e, apesar de tudo o que passou, coitadinha, com bom aspecto! Não acharam a Fatinha com um bronze de fazer inveja? E agora minha Fatinha vai dar uma lição a todos estes ditadores que a quiseram deportar e fazer dela uma refugiada política!

Isto só prova que há pessoas que ainda acreditam neste país duma forma totalmente altruísta. A Fatinha foi maltratada e injuriada mas não guarda rancor de Portugal. E agora chegou a hora de todos nós agradecermos a esta mulher corajosa por nos fazer voltar a acreditar em Portugal!

Viva a Fatinha...

570. Sala de Cinema: Red Eye



Realizador: Wes Craven
Elenco: Rachel McAdams, Cillian Murphy, Brian Cox

Sempre achei Wes Craven um realizador menor do género de terror porque nunca fui defensor de que a série B passasse a ser comercial ou que tivesse um registo ligeiro. Sempre admirei mais a filmografia de John Carpenter ou David Cronenberg (mais visceral) do que a de Wes Craven. Este realizador é o responsável por uma nova forma de encarar o terror que muito contibuíu para suavizar o género (Nightmare in Elm Street e principalmente Scream). Não é que os seus filmes sejam maus (muito pelo contrário) mas o problema é que abriu a caixa de Pandora para uma quantidade de filmes de terror sem qualquer tipo de qualidade que imitavam o seu estilo.

Red Eye é a sequência natural da filmografia de Wes Craven. É um filme de terror que pisca o olho ao thriller e acaba por ser o passo final para levar o género para um patamar superior. É o bilhete de entrada para que o terror seja levado a sério. Por isso o filme começa com a ilusão de que se trata de um filme romântico com a temática de fundo do terrorismo (de forma muito ligeira). Só depois é que o terror toma conta do filme mas duma forma muito realista (ou pelo menos, não fantástica) o que acaba por tornar ténue a diferença entre o filme de terror e o de suspense.

E o filme é, de facto, extremamente eficaz. A história é simples e linear e aproveita todos os espaços físicos para criar um ambiente de claustrofobia muito bem conseguido. O arranque do filme no aeroporto cria o ambiente certo para o crescendo de tensão no avião (fenomenal a forma como Cillian Murphy muda de registo numa cena carregada de dramatismo). Tudo o que tem lugar no avião é um exercício de gestão do espaço simplesmente brilhante. A relação entre os protagonistas é a base para um conjunto de situações tensas e o filme só perde gás muito próximo do fim, quando a ameaça principal desaparece e as personagens saem do aeroporto. Aqui está Wes Craven a reinventar de novo o cinema de terror...

Síntese da Opinião: Mais uma reinvenção do género (de terror) por Wes Craven. Só por isso vale a pena ir ver! Mas continuo a preferir a abordagem de John Carpenter ou a de David Cronenberg...

quarta-feira, setembro 21, 2005

569. Debate SIC Notícias - Porto


Fotografia de autoria de Miguel Lacerda

Confesso que fico irritado com esta forma de fazer política que se instalou no país de que temos que adaptar a condução do país ou duma cidade aos objectivos financeiros. Afinal o que é ser rigoroso nas finanças quando estamos a falar duma câmara, por exemplo? É pensar nas necessidades dos cidadãos e usar um critério de prioridades conforme os recursos disponíveis. E depois utilizar esses recursos de forma transparente na resolução dos problemas das pessoas. O que me irrita é que se chegue ao fim dum mandato e o balanço do mandato seja o equilíbrio financeiro. Isso está sub entendido, não é um fim em si mesmo.

O Porto é a segunda cidade do país e o Presidente da Câmara desta cidade não pode resumir o seu balanço à redução da dívida aos fornecedores. A herança foi má e isso é evidente, mas fiquei com a nítida sensação pelas palavras de Rui Rio no debate que a inacção foi constrangedora. Já tinha essa suspeita mas fiquei ainda mais certo disso através dos silêncios embaraçosos de Rio a alguns números e situações que os outros candidatos lançaram e com as suas próprias palavras, muito cauteloso quanto ao trabalho realmente efectuado. Não vou fazer um balanço exaustivo deste mandato mas em quase todas as áreas vejo inacção. Ficou também por explicar a razão das avultadas obras na Boavista para linhas de metro ainda não aprovadas e fiquei algo chocado na insistência em tornar estas eleições um referendo à sua solução no túnel de Ceuta uma vez que não podem ser os cidadãos duma cidade a decidir sobre uma solução que viola a lei geral.

E quanto aos outros candidatos? Só digo que o Porto merecia bem melhor..

terça-feira, setembro 20, 2005

568. Prós e Contras: O actual papel das Forças Armadas



Foi bastante esclarecedor o programa Prós e Contras sobre o actual papel das Forças Armadas. Houve um consenso alargado que os militares não podem exercer os seus direitos com movimentações sindicais e foi deixado no ar uma crítica velada pelo Almirante Vieira Matias ao facto do Governo de Guterres ter legalizado as associações de militares.

O problema é complexo mas a realidade, como muito bem disse Adriano Moreira, é que o Estado tem recursos exíguos. O Estado actual é incapaz de fazer frente ao crescente número de papéis que foi chamando a si nos últimos vinte anos. E, com recursos exíguos, não podemos manter situações de regalias que crescem exponencialmente. Eu não defendo cortes cegos nas regalias mas a maioria dos políticos no passado resolvia o problema da exiguidade dos recursos criando regalias que só iam afectar o ministro seguinte. E como o ministro seguinte fazia o mesmo, estas regalias ganharam características de crescimento exponencial e estamos prestes a rebentar.

Gosto de dar como exemplo um ministro que, não podendo aumentar mais uma décima à remuneração, resolve adicionar um dia de férias aos seus trabalhadores. No ano seguinte chega o novo Ministro e tem maiores gastos porque há mais um dia de férias então não pode aumentar tanto as remunerações. Para salvar a pele oferece menos 1 ano de trabalho antes da reforma. O ministro seguinte, para o mesmo trabalho, tem funcionários a trabalhar menos e outros a reformarem-se cedo demais e contrata mais funcionários. Depois só tem uma de duas soluções... ou começa a deteriorar a qualidade do produto final ou faz lobbie para ter mais orçamento e manter o mesmo produto final (neste caso um serviço público). Como não pode aumentar de novo condignamente os funcionários promete um novo sub sistema de saúde para o ano seguinte... (a isto chamo efeito bola de neve)!

Por isso é preciso, em primeiro lugar, definir o papel das Forças Armadas para os anos que se avizinham. Depois não é preciso ter medo em adequar a estrutura à finalidade. E, finalmente, dotar os militares que sobram (sim, porque acredito que continuam a ser demasiados) com remunerações mais dignificantes mas sem regalias cumulativas.

Fiquei agradavelmente surpreendido com o Ministro Luis Amado. Teve a coragem de expor os seus pontos de vista num momento difícil e demonstrou ter um rumo definido para a reorganização das Forças Armadas. E, mais importante, não foi demagógico ao ponto de garantir que os militares não vão ficar a perder com estas mudanças. Não podemos prometer fundos e pensões e depois deixá-las descapitalizadas. Mais vale ser realista e dar dignidade aos militares duma forma sustentada em vez de, novamente, dar regalias que só vão ter efeitos para o ministro seguinte.

segunda-feira, setembro 19, 2005

567. Metro no Porto: Inauguração da Linha Amarela



O Metro ligeiro no Porto tem uma nova linha (a Amarela) que começa (ou acaba) no Pólo Universitário (no futuro será no Hospital de São João) e acaba (ou começa) em Vila Nova de Gaia. Este mega investimento vai provocar uma verdadeira revolução na mobilidade no Porto e, a título pessoal, vai ter bastante utilidade. Como brinde esta obra reabilita a mais bonita ponte do país, a Luís I, e torna muito mais agradável a Avenida da República em Gaia. Só espero que o projecto de Siza Vieira e Souto Moura não torne a Avenida dos Aliados e a Praça da Liberdade (Porto) num espaço menos agradável do que era. Dou o benefício da dúvida porque respeito estes profissionais mas como admirador do anterior aspecto daquela zona fico apreensivo...

Já referi neste blogue que os transportes públicos são fulcrais para revolver o problema da dependência energética, da poluição, da vitalidade das cidades e da qualidade de vida. Por tudo o que o Metro vai provocar de mudança de hábitos dos portuenses (ainda impossível de quantificar e dependente duma política pública de desincentivo aos automóveis - basta, por exemplo, começar - sim, começar, não leram mal - a multar os automóveis mal estacionados) já é considerado por mim um investimento modelo! Em 3 anos o Metro já mudou a cidade do Porto e duma forma extremamente positiva até porque o facto de ser, em grande parte dos percursos, de superfície foi uma surpresa agradável ao nível do impacto visual.

566. Carros Híbridos



O Público publicou hoje um renovado suplemento de Economia (Dia D) e um dos artigos é precisamente sobre os carros híbridos. O preço ainda não é muito atractivo mas, segundo as contas deste suplemento, ao fim de 75 viagens entre Lisboa e Porto (45 mil quilómetros) o investimento é recuperado pela poupança de consumo (comparação entre o Honda IMA - híbrido - e o Honda Civic 1.4 LSX - convencional). Mesmo assim é o Toyota Prius que consegue o consumo mais atractivo. Parabéns às marcas japonesas.

Nota: Reclamei por incentivos fiscais do Governo em relação aos híbridos mas, pelos vistos, já há uma redução de 40% no imposto automóvel a quem comprar este tipo de carros!

domingo, setembro 18, 2005

565. Programação de M****

Declaro que sinto uma certa desilusão pela TV que nos oferecem, ou melhor, pela TV que escolhemos ter! Será que quem não tem TV por Cabo (felizmente tenho) é obrigado a escolher entre Esquadrão G, Herman SIC, 1ª Companhia e As Escolhas de Marcelo? Salvam-se as notícias na 2: ...

Vou mas é ver um filme em DVD que é o melhor que faço...

564. As “ventoinhas” não resolvem tudo...



Portugal tem um problema energético que podemos considerar como grave! A dependência energética em relação ao exterior é muito grande e tende a agravar-se à medida que os preços dos combustíveis fósseis aumentam. A aposta (que foi reforçada) na energia eólica é importante mas não vai resolver o problema de fundo. Passo a explicar!

A electricidade é apenas ¼ do total da energia consumida no país (também já li que era 1/5, mas para o que vou expor esta diferença é irrelevante)! Deste modo a combinação de energia eólica com outros meios de extracção de energia tradicionais ou inovadores só vai resolver uma pequena parte do problema. Mesmo com vontade política a energia eólica (e outras energias renováveis) só deverá resolver metade das necessidades em energia eléctrica, ou seja, 1/8 ou 1/10 do total da energia consumida no país. Mesmo com esta aposta, que considero importante, vamos continuar demasiado expostos à evolução do mercado mundial.

Por isso acho preocupante a paralisia de Portugal (e também da Europa) em relação a este problema. Só vejo duas saídas no curto prazo. Uma é reduzir e tornar mais eficiente o consumo de energia (tanto a fóssil, como a proveniente de gás natural e também a eléctrica). Não basta regular a oferta e os seus preços mas também regular a procura. Não sei como é que é tecnicamente possível fazer isto mas é urgente encontrar soluções e incentivos à poupança. Outra saída possível é reforçar (e bastante) os incentivos fiscais para soluções que reduzam o consumo de petróleo, tanto nas unidades industriais, como nos particulares e também nos transportes públicos. A reconversão das tecnologias parece-me essencial para diminuir a dependência ao exterior assim como para combater as externalidades negativas que a poluição causa. É importante começar a agir já!

Que podemos fazer mesmo que não surjam soluções governativas? Usar transportes públicos, comprar carros com consumos baixos (idealmente carros híbridos quando baixarem de preço), usar o automóvel com mais do que uma pessoa, comprar electrodomésticos que gastem menos energia, colocar nas habitações janelas duplas e outras soluções que dispensem gastos avultados em aquecimento e/ou ar condicionado, entre outros pequenos passos essenciais ao nosso futuro. Repito, é importante começar a agir já!

sábado, setembro 17, 2005

563. Presidenciais (4): Cuidado...

... porque quando alguém apresenta-se envolto em nevoeiro...



... é porque esconde alguma coisa! Quando o nevoeiro desaparece o susto não é pequeno...



... por isso não estou surpreendido que, mais uma vez, tenha sido adiado o início da exposição mediática do candidato a Dom Sebastião!

562. Sala de Cinema: Land of the Dead




Realizador: George A. Romero
Elenco: Simon Baker, John Leguizamo, Dennis Hopper

Para enquadrar o que vou escrever sobre o filme convém relembrar que este é um sub género dos filmes de terror (série B) onde os zombies são os protagonistas. Eu não tenho preconceitos quanto ao género de filme. Não gosto muito de comédias românticas, por exemplo, porque há poucas que me agradam mas não critico estes filmes pela sua qualidade porque cada género trata o seu produto de uma forma diferente, não necessariamente pior. Por isso os filmes de zombies não são filmes com uma boa fotografia, boas interpretações ou material para Óscar. Mas, quando o espírito é captado, podem ser filmes que entretêm bastante.

Este filme tem a qualidade duvidosa do costume mas acabou por ser agradável muito por culpa de George A. Romero, uma das lendas vivas deste género de filme. E já que John Carpenter nunca mais lançou nada aproveitei para ir ver este filme ao cinema, uma vez que geralmente prefiro ver filmes de série B no aconchego de casa. A novidade deste filme é não ser tão mau como é normal a nível visual e aproveitar o género para lançar algumas mensagens sobre o nosso estilo de vida. Além disso o filme é muito mais visceral do que é habitual com cenas de violência bastante explícitas. Por vezes não sabia se não eram os zombies que melhor retratavam os seres humanos!

De resto as interpretações são sofríveis, os diálogos lineares e a história banal. Mas neste género de filme se não fosse assim o resultado final seria pretensioso e não captaria o espírito da série B.

Síntese da Opinião: Só mesmo para os apreciadores deste género de filme. Quem não perceber a piada de ver zombies a ficarem sem cabeça então é melhor nem irem ver!

561. A ler...

... este excelente post sobre o Futebol Clube do Porto de Adriaanse escrito no Terceiro Anel. Subscrevo todas as palavras.

Não podemos estar sempre a pensar em política, não é?

sexta-feira, setembro 16, 2005

560. Depois de assistir ao debate de ontem na SIC Notícias...

... já faço votos para que Carmona Rodrigues reconquiste a Câmara de Lisboa!

Nota adicional: Não voto em Lisboa e se o fizesse não votava Carmona! Mas se a escolha para Presidente da Câmara está entre estes dois candidatos, que ganhe o mal menor!

559. As novas regras dos titulares de cargos políticos

O Parlamento aprovou (ontem, dia 15) o fim de muitos dos privilégios de titulares de cargos políticos com os votos favoráveis de todos os partidos políticos com a excepção do CDS-PP, que se absteve. Esta proposta do Governo produz as seguintes alterações:

- O fim das subvenções vitalícias a que deputados e membros do executivo têm direito após 12 anos em funções quando completam 55 anos de idade;

- O fim do subsídio de reintegração;

- Colocação de limites à acumulação de vencimentos com reformas, prevendo que os titulares de cargos políticos apenas possam receber um terço do vencimento se optarem pela reforma ou vice-versa;

- Restrição à acumulação de vencimentos com ordenados provenientes de funções em empresas municipais aos autarcas.

Estas medidas são importantes no contexto em que vivemos uma vez que dão um sinal claro que os políticos não se excluiram do combate à eficiente afectação dos recursos que pertencem a todos nós. Compreendo, apesar de concordar com as medidas, a abstenção do CDS-PP uma vez que este partido defende que não podemos cortar regalias que foram sendo criadas para compensar as baixas remunerações.

Defendo há muito tempo que temos que acabar com as regalias que causam efeitos cumulativos no longo prazo mas que o fim destas regalias tem que ser acompanhado por remunerações mais altas, de preferência através de prémios de mérito ou de produtividade elevada! Os futuros Governos devem ter a coragem de aumentar as remunerações e não criar compensações (como regimes especiais de mais um dia de férias, cupões de gasolina, promoções antecipadas, sub sistemas de saúde, menor idade de reforma, entre outros) que criam efeitos devastadores a prazo, isto é, aos Governos seguintes.

Mas há outros problemas por resolver como as novas regras para as nomeações políticas (não sei se já foram aprovadas), a limitação de mandatos e a introdução eficaz do mérito na Administração Pública. Mas, de qualquer forma, estou satisfeito com a aprovação desta proposta do Governo!

Fonte: Diário Económico

Das Memórias deste blogue:
"Eu sei que é urgente acabar com privilégios e regalias amorais mas isso só pode ser feito num ambiente não persecutório em que os critérios de justiça salarial (imune às pequenas invejas e mesquinhices nacionais) e de mérito tenham um peso decisivo. É preciso lutar contra as pequenas compensações, os regimes de excepção e as promoções automáticas mas sem demagogia, com o realismo de que uma simplificação do regime é útil para não criar efeitos de distorção cumulativa (efeitos “bola de neve”) mas que isso implica necessariamente generosas subidas nas remunerações. Teremos coragem para fazer isso sem perseguições e invejas? Duvido que, com o clima que está criado, seja possível fazer uma reforma que nos leve a bom porto..."

quinta-feira, setembro 15, 2005

558. Autoeuropa e outras novidades do mercado automóvel




Depois da euforia desmedida na Comunicação Social porque o novo Golf 4*4 Marrakesch ia ser produzido em Palmela agora há um enorme silêncio! Parece que o construtor germânico mais não fez do que usar Palmela para chantagear os sindicatos alemães. O novo modelo da Volkswagen sempre vai ser produzido na fábrica de Wolfsburg. Passamos novamente da euforia para a desilusão...

Para não ser tudo más notícias a Inapal (em parceria com a Peguform Ibérica) vai investir 19 milhões em Palmela numa unidade de produção de componentes para o Volkswagen Eos. Este investimento vai criar 191 postos de trabalho.

Para finalizar não vou falar do aumento dos prejuízos da Vista Alegre nem do aumento dos lucros do Finibanco mas sim das boas notícias para os ambientalistas e para os cidadãos em geral que chegaram do Japão. A Toyota vai passar a produzir só carros híbridos (menos consumo de gasolina e menos gases poluentes) o que vai diminuir bastante a dependência em relação aos combustíveis fósseis. A empresa quer baixar para metade a diferença entre os custos de produção destes carros e os carros convencionais. E que tal mais incentivos fiscais para os carros menos poluentes? Já houve a modificação no cálculo do imposto automóvel prometido pelo Governo para este tipo de carros?

557. Pontos de Vista

Há um ponto de vista defendido em vários blogues de que o Estado só está com problemas porque o sector privado encontrou formas de não contribuir para o bem comum através dos impostos. E concluem que não devemos afectar os “direitos que chamam de adquiridos” mas sim que devemos intensificar o combate à evasão e aos paraísos fiscais.

Eu defendo que devemos obrigar o sector privado a contribuir mas ninguém vai conseguir convencer-me que os “direitos que chamam de adquiridos” devem manter-se tal como estão, independentemente do sucesso ao combate à evasão fiscal (ou da inversão do modelo de Globalização actual)! O problema da diminuição das receitas públicas é uma oportunidade de ouro para corrigir determinadas injustiças estruturais da nossa economia.

Estou farto de assistir a várias corporações/ classes profissionais defenderem o indefensável. Vejam as ligações que deixei de exemplo no post anterior (do blogue Câmara Corporativa) como o regime de reforma dos militares, os direitos de saúde aos (inúmeros) familiares dos polícias e o regime de isenção fiscal do subsídio de compensação aos juízes.

Quanto ao problema da diminuição das receitas fiscais só temos um caminho: apostar em nós, nos recursos humanos e tecnologia, de forma a inverter a tendência da fuga do investimento. É necessário, simultanemamente, diminuir a burocracia na criação de empresas, acelerar a atribuição de licenças e simplificar o processo ligado às exportações (quem leu no Público de ontem o estudo do Banco Mundial - Doing Business - consegue perceber bem que estamos envoltos numa teia de burocracia). E, claro, reforçar o combate à fuga e à evasão fiscal, a ilegal e a legal, sem tréguas!

556. Portugal em manifestação!

Quero agradecer publicamente aos militares por não terem tomado o país pelas armas. Quero agradecer às suas mulheres por terem ajudado a respeitar a lei. Quero também agradecer aos polícias por não terem bloqueado pontes. Por fim, quero agradecer aos juízes a defesa de valores ancestrais e direitos adquiridos.

Fonte:
Câmara Corporativa, um excelente blogue de denúncia das regalias das corporações!

quarta-feira, setembro 14, 2005

555. Sala de Cinema: Os Edukadores (The Edukators; Fetten Jahre sind vorbei, Die)




Realizador: Hans Weingartner
Elenco: Daniel Brühl, Julia Jentsch, Stipe Erceg, Burghart Klaußner

Este filme é um manifesto anti-globalização e antes de dar a minha opinião sobre o filme em si vou perder uns minutos a analisar o que está por detrás do tema deste filme. Há um grupo de jovens alemães que combatem as consequências da Globalização através de informação distribuída nas ruas e lojas aos potenciais consumidores de produtos que foram produzidos através de condições inaceitáveis de exploração ao homem no terceiro mundo ou que recorrem a crianças para a sua produção. Dois desses jovens acham que é preciso fazer mais e querem mandar uma mensagem aos que ganham em abundância de que não é justo que uma grande parte da população sofra enquanto estes gastam fortunas em carros e bonecas de porcelana. Então invadem as luxuosas vivendas destes milionários e, sem roubarem nada, rearranjam a mobília e deixam mensagens de aviso. Assinam como "Os Edukadores"!

Escrevi recentemente o que achava da Globalização e não tenho esta visão do mundo. Sei que o nosso sistema económico é imperfeito e diariamente tenho exigido que haja mais solidariedade na Globalização mas o que é defendido por estes jovens é um beco sem saída. No dia em que a acumulação de dinheiro fosse proibida, dado o sistema económico vigente, seríamos todos pobres e cada vez mais pobres. É preciso ter em atenção que nada surge por altuísmo nem o homem ainda inventou um sistema que seja capaz de funcionar pela via do altruísmo. Infelizmente? Sim! Devemos ignorar a pobreza no mundo? Não! Mas também não podemos esperar que uma versão moderna do Robin dos Bosques vai sequer ajudar a resolver os problemas mundiais.

As novas gerações de jovens precisam de ideais e a crítica à Globalização é a nova bandeira da juventude (não é de estranhar que a maioria dos jovens filiados no Bloco de Esquerda sejam anti-globalização). As novas atitudes revolucionárias aparecem a querer acabar com a Globalização. O que é curioso é que não sabem para onde devemos ir e, pior, defendem a proliferação de oportunidades aos países mais pobres mas depois não aceitam as deslocalizações de empresas de Portugal para países mais pobres.

Um dos exemplos dado no filme é o de uma jovem que foi a culpada dum acidente de viação e tem que pagar o arranjo do carro. A questão que os jovens colocam é porque é que ela deve pagar o estilo de vida dum milionário uma vez que este conduzia um carro no valor de 100000€. Se tivesse tido o acidente com um "pobre" apenas pagava uma ínfima porção deste valor. Se fosse o rico o culpado perdia um dia de trabalho e se for um pobre o culpado perde anos de salário. Eu compreendo que o mesmo acto devia resultar num esforço igual para todos mas, como facilmente podemos compreender, isso é impossível. Isto é muito bonito e podíamos ficar dias a falar de justiça e injustiça mas não vejo forma do mundo funcionar doutra maneira. Perverter o sistema é um acto de terrorismo ou de elementar justiça? Não sei responder mas o mundo também é feito com pragmatismo. Quem sugerir o contrário está a ser ingénuo. Não podemos desistir de lutar por um mundo melhor mas não podemos dar carta branca para que deixe de haver sentido de responsabilidade nas pessoas.

O filme em si já teve, pelo menos, a vantagem de provocar esta reflexão nos seus espectadores. Mas, ultrapassando as questões filosóficas, é um filme algo banal. É mais um retrato da juventude cuja única grande novidade é a actualização dos idealismos que movem os jovens. Mas não deixa de ser um filme igual a tantos outros.

Síntese da Opinião: Um filme banal sobre as inquietações da juventude com uma mensagem política anti-globalização. Mesmo assim recomendo o visionamento para fomentar a discussão!

terça-feira, setembro 13, 2005

554. Conversas no Porto

Hoje, enquanto andava nas ruas do Porto, ouvi uma conversa instrutiva.

Uma mãe, perante uma discussão acesa entre os seus dois filhos, diz à filha:

- Manda o teu irmão à merda!

A filha, obediente, diz:

- Vai à merda!

O filho, com um ar confiante, replica:

- Vai para o caralho!

A mãe solta uma gargalhada e, com um ar triunfante, coloca a mão na cabeça do seu "homem do nuerte".

segunda-feira, setembro 12, 2005

553. Presidenciais (3): Tem Cavaco Silva perfil para Presidente? Expliquem-me porquê...



Há algo que me inquieta há algum tempo! Porque é que Cavaco Silva tem sondagens tão favoráveis há já alguns anos? Confesso que não percebo! A minha surpresa advém da falta de perfil deste para o cargo em questão, do desconhecimento que tenho das suas ideias para o país e para o cargo, do facto da Presidência não ser o local ideal para ter um segundo Ministro das Finanças, pela oportunidade perdida que foi a sua governação, entre outras razões. Compreendia que, nesta fase, o eleitorado fiel à sua área política tivesse como intenção votar Cavaco mas, e repito que nesta fase, não percebo onde Cavaco Silva vai buscar mais votos.

A única teoria que parece aceitável é Cavaco Silva estar envolvido num nevoeiro Sebastiânico e que nele são depositadas as esperanças do regresso a outros tempos, tempos mais fáceis sem dúvida. O problema é que os Salvadores da Pátria são fogo fátuo! Desenganem-se aqueles que pensam que vamos voltar aos tempos das “vacas gordas” ou que Cavaco vai voltar a conduzir a política económica (cuja condução até nem foi nada brilhante no seu tempo e foi a génese de muitos dos problemas actuais). Cavaco foi o “Homem do Leme, que mais água meteu no barco em tempo de bonança” (Anónimo dixit). A questão central é que tipo de perfil queremos para o cargo e nada mais!

Por isso Cavaco Silva não deve ter muito interesse que a campanha comece cedo e refugia-se em mais um tabú. Se ele tem dúvidas quanto a candidatar-se eu sou o Pai Natal (até porque Cavaco nunca tem dúvidas e raramente se engana).

Que bandeiras vai utilizar e que ideias vai defender tendo em consideração que o cargo de Presidente não é um cargo técnico? Nesse aspecto a campanha vai ser uma luta contra o tempo, leia-se, a sua vitória depende da duração na percepção dos portugueses que ele é, de facto, o Dom Sebastião da nossa política. Sempre que Cavaco explicar bem as suas ideias para o cargo mais vai estar à vista que isso não combina com a ideia de Salvador da Pátria. Claro que vamos ver a versão colgate de Cavaco Silva a declarar que o país precisa dum rumo e que é uma nau desgovernada mas quem souber quais são os poderes presidenciais também sabe que o seu titular não é o homem do leme mas sim o homem que acalma as tempestades e luta por um clima de consensos, fazendo respeitar a Constituição. Por tudo isto não convém a Cavaco o debate, a campanha e os esclarecimentos. Ou seja, a pele que tem vestida actualmente (gerida pelos seus silêncios e alimentada na Comunicação Social) não é a dele. Mas como não se pode esconder até às eleições vai ter que dar a cara e, novamente, mostrar aos portugueses que não tem perfil para ser o nosso Presidente. Digo-o com convicção, não por tacticismo! Podem reler o que escrevi há uns meses aqui:

Quinta-feira, Maio 12, 2005 (408) A Esquerda Resignada e a Direita Refém


Eu fico assustado quando os portugueses vêem em Cavaco uma luz. Eu sei que o regime está em crise mas será que que vamos sair dessa crise através dum tecnocrata Keynesiano na Presidência? Não acho que o candidato a Presidente precise de saber “quantos Cantos tem os Lusíadas, ou que Thomas Moore e Thomas Mann, não são a mesma pessoa, nem parentes, nem viveram na mesma época” (Anónimo dixit) mas concerteza que tem que ser bem mais do que um candidato a Ministro das Finanças em Belém.

Para lerem o comentário do Anónimo podem abrir esta ligação.

domingo, setembro 11, 2005

552. 4 anos



Uma das vantagens de um blogue já ter mais do que um ano é poder reproduzir o que escrevi no ano anterior sobre o aniversário de determinado acontecimento. Vou reproduzir este texto não por preguiça em reflectir mais sobre este tema, mas porque considero que as reflexões continuam actuais. Se fosse hoje escreveria este texto de outra forma, retirava um ou dois pontos e acrescentava mais uns mas, no essencial, continuo a considerar que não estamos a combater este problema nem como podíamos nem como devíamos. Mas será sempre assim, não é?

(162) 3 anos

Já passaram três anos desde que vi as imagens da queda das torres de Nova Iorque. Soube logo que o Mundo ia mudar, nunca pensei que tanto ou tão pouco.

O terrorismo passou a ser o destaque, o inimigo externo que os EUA tanto precisavam desde que acabou a Guerra Fria. Os ataques terroristas em si tiveram um impacto gigantesco mas muito aquém do impacto negativo que a reacção Americana teve. Deram-se novas fortunas aos desesperados empresários da Indústria de Armamento e das empresas petrolíferas, limitaram-se liberdades, retiraram-se direitos, restringiu-se a mobilidade, recomeçaram-se cruzadas sem enquadramento, dividiu-se o mundo. Pior que o terrorismo foram as reacções a este, entregando a vitória a quem devia ter sido derrotado.

Hoje penso que aquelas pessoas morreram em vão, a sua memória não foi respeitada. O Mundo tornou-se num sítio menos agradável para se viver. Em vez de se tentar compreender as causas do problema e combatê-lo, tenta-se combater a táctica (o terrorismo em si). Não há vitória possível. A ignorância, a pobreza e as desigualdades geram terroristas (apesar de não haver justificação possível) e isso nem tem sido abordado. O reforço da prevenção e segurança via serviços de informação tem sido amplamente negligenciado. Prefere-se combater a táctica com guerras desenquadradas do terrorismo. Assim ganham muito poucos...

Pouco ou nada se aprendeu nestes anos, muito mais vai acontecer. Só queria acreditar que a humanidade aprende com os seus erros mas estou cada vez mais céptico que assim é.

(11 de Setembro, 2004)

551. Banda Desenhada: Planetary, volume 3

Hoje vou escrever sobre algo diferente. É fim de semana e ninguém quer ler notícias relacionadas com economia ou política e acredito que muitos não queiram ler nada sobre desporto (grande golo do Quaresma, não acham?). Por isso vou escrever umas linhas sobre um álbum, lançado há pouco tempo, de Banda Desenhada.

Planetary é um bom exemplo da boa banda Desenhada que os Estados Unidos da América fazem actualmente. Esqueçam os super heróis bidimensionais que estão habituados a ver chegar do outro lado da Atlântico e arrisquem nesta aventura de reconstituição da história da humanidade. Não é uma reconstituição baseada em factos históricos mas sim no Guia do Planeta (“Planetary Guide”), livro lançado anualmente sobre os mais estranhos acontecimentos que o planeta Terra (e planetas e dimensões vizinhas) produziu! E quando digo que são estranhos não estou a exagerar. Aqui há espaço para a magia, a religião, o encontro ficcional com personagens históricas e tudo o que possam imaginar.

Muito bem escrito (Warren Ellis) e desenhado (John Cassaday), Planetary é um álbum que recomendo. Acabei de ler o terceiro volume logo quem ainda não leu nenhum ainda tem muito para recuperar.

*Tópicos Relacionados:
Memórias do Filho do 25 de Abril: Nona Arte – Banda Desenhada






(Clique nas imagens para ampliar)

sábado, setembro 10, 2005

550. Ponto de Situação: Finanças e Economia




Continuo a achar, apesar da mudança do titular da pasta, que este Governo está a actuar melhor nas Finanças do que na Economia. Os discursos de Teixeira dos Santos, apesar do mau arranque (o caso Armando Vara), são sóbrios e construtivos. Concretizando:

- O anúncio do crescimento económico de 0,5% anunciado pelo INE não foi tratado com euforia pelo Ministro. Relembrou, e bem, que o facto do crescimento não estar tão mau como o previsto era uma boa notícia mas que Portugal estava longe de ultrapassar esta má fase. Adicionalmente, e em vez de esconder a cabeça por baixo da areia, como o Primeiro Ministro fez, referiu que os números das exportações e do investimento eram preocupantes;

- As medidas anunciadas para o Orçamento de Estado de 2006, apesar de ainda vagas (como é normal nesta fase), são positivas. Ignorando o discurso mais político (não haverão cortes cegos nem sub orçamentação, segundo o Ministro) as medidas relacionadas com os incentivos à poupança, com a contenção da despesa corrente, com a introdução de controllers nos ministérios, com a obrigatoriedade de facturas nas transacções comerciais, com o fecho de serviços do Estado (após a conclusão do estudo que será entregue ao Governo em Fevereiro de 2006) e com o combate à evasão fiscal na segurança social têm potencial. O objectivo é chegar a um valor do défice de 4,8% em 2006 sem sub orçamentação nem receitas extraordinárias. Se esta tarefa titânica chegar a bom porto serão boas notícias para Portugal.

Por outro lado continuo a considerar que o apoio que este Governo tem dado para que haja um bom clima de investimento tem sido insuficiente. Faltam medidas, para além das de médio prazo (inovação, educação), que compensem a subida do IVA. Há passos positivos (Projectos de Interesse Nacional, aposta nas energias alternativas, reforço do orçamento para a ciência e tecnologia) mas faltam medidas concretas para apoiar as exportações (há muito que defendo a assunção por parte do Governo do risco financeiro da exportação) e o investimento (por exemplo, fiscalidade selectiva, menos tempo de espera no licenciamento).

Depois do desastre político que foi Agosto para o Governo e, dada a impaciência geral dos portugueses em sair desta situação de paralisia, exige-se deste Governo uma actuação rigorosa e enérgica. A confiança no regime está tão baixa que um novo “falhanço” governativo pode ter consequências sociais graves.

sexta-feira, setembro 09, 2005

549. Tróia


Foto via Pura Economia (Clique na imagem para ampliar)

Este mega projecto que a SONAE está a construir em parceria com outros grupos económicos é um projecto arrojado. Por ser elitista e megalómano tem merecido imensas críticas mas, na sua maioria, injustificadas. Porque é um projecto privado (independentemente da génese do negócio) e porque a zona estava sub aproveitada e num abandono quase total. Não há qualquer tipo de razão económica ou social que justifique uma política pública neste local para a transformar numa zona de lazer menos elitista. O importante é a criação de 5000 postos de trabalho directos e 10000 indirectos, além do aumento (potencial) que vai provocar no turismo em Portugal.

Mas não posso deixar de comentar duas situações. A primeira tem a ver com o discurso de Belmiro de Azevedo. É, de facto, intolerável a burocracia do Estado. Por mais complexos ou numerosos que sejam os processos o tempo de análise destes não pode durar tanto tempo. O licenciamento deve ser feito com rigor (e infelizmente nem isso é) e não pode ultrapassar o ponto em que o investimento pode começar a perder a razão de ser (por exemplo em 8 anos pode haver alterações no perfil de viagens que o mercado alvo deste tipo de projecto está disposto a fazer). A ideia de dar prioridade aos PIN (Projectos de Interesse Nacional) é boa mas não pode ser um álibi para não serem feitos esforços para que os outros projectos tenham licenciamento (ou não) mais célere. A segunda situação foi o triste papel que Sócrates foi fazer a Tróia. Podia ir assistir a uma implosão mas escusava de participar numa festa privada com toda aquela pompa fictícia (com alavancas fictícias). Não é de admirar então que tenha tido que ouvir os empresários a fazerem, com altivez, puxões de orelhas públicos à ineficácia do Estado versus o paraíso que é o sector privado.

quinta-feira, setembro 08, 2005

548. Presidenciais (2) – O “caso” Alegre



Na sequência do que escrevi no último post acerca da incapacidade do regime democrático em promover a regeneração da classe política, convém analisar a candidatura a candidato que Manuel Alegre protagonizou.

Convém ter memória. E, em primeiro lugar, não posso deixar de prestar a minha homenagem ao percurso político de Manuel Alegre, sem prejuízo para o que eu vou escrever depois. Mas convém também relembrar o passado recente. O PS, com dificuldade em encontrar um nome credível para defrontar o putativo candidato Cavaco Silva, começou a “sondar” alguns nomes, testando-os na opinião pública. O primeiro a ser “testado” perante a opinião pública foi Sousa Franco. A reacção do público e imprensa nem foi calorosa nem fria. Era uma hipótese. Repito, era...

Depois começou a ser ventilada a hipótese Manuel Alegre porque nem Guterres nem Vitorino pareciam querer avançar. Convém não esquecer que quem começou a construir a candidatura de Alegre foi o partido e não a sociedade civil. Não vou analisar se a candidatura foi ou não bem recebida pela Comunicação Social porque quando se lançam nomes desta forma é porque não acreditamos realmente no candidato. Na altura Alegre foi categórico, leia-se, não estava disposto a assumir uma candidatura perdedora. Durante infindáveis semanas foi dizendo que "não", "estou a pensar", "o poeta está tentado, o político não". Este candidato a candidato foi adiando indefinidamente o anúncio das suas intenções e em política isso é fatal. Foi ultrapassado pelas intenções do seu “compagnon de route” Mário Soares. Não foi um acto pessoal brilhante de Soares mas a política não se faz de amizades e muito menos estas devem influenciar o destino do país.

Eu considero que a candidatura Alegre era muito fraca. E passo a explicar porquê.

1. Porque também era uma candidatura lançada pelo aparelho partidário, por muito mais que Alegre agora diga que não;

2. Porque também não é, como Soares, uma cara “nova” que represente esperança com a agravante de ser um candidato que já estava conotado como o “último recurso”, “o homem a queimar” (lembram-se de Ferreira do Amaral?);

3. Porque, ideologicamente, pertence à ala esquerda do PS e é considerado como menos moderado que Soares logo uma péssima escolha para conquistar o centro. Recordo que a esquerda tradicional já está representada nestas eleições por outros candidatos mas o centro é quase todo ocupado pelo mais que presumível candidato Cavaco Silva.

Perante um discurso agressivo e com um toque de vingança que produziu aquando do seu recuo presidencial exigia-se que avançasse. Não se pode dizer que Portugal vive nas mãos de interesses partidários mal explicados e preferir defender o partido em vez do país. Mais uma vez demonstrou que estava longe de conseguir preconizar uma batalha descolado do partido. As acusações que fez a Soares foram injustas e emocionais porque os seus argumentos não são válidos. Porque ele também era o candidato que o partido “empurrou” e só não avançou porque andou a contar as espingardas no partido (não na sociedade civil). Porque também representa a “velha” geração de políticos. Porque não pode falar que é republicano e não aceitar as suas regras, leia-se, a limitação de mandatos serve para evitar a perpetuação no poder através do impacto que as funções têm na popularidade de quem os exerce. Por isso, havendo um interregno, esse problema já não se coloca. O seu discurso foi incoerente porque foi motivado pelo rancor, não por um sonho.

Para terminar não deixa de ser interessante rever o retrato de Mário Soares por Manuel Alegre no livro Retrato, da Livraria Clássica Editora, 1990:

"E talvez seja a grande revolução que ele fez num país cansado de crispação: trazer a afectividade para a política. É, a par da coragem, a sua arma mais eficaz. E por isso ele é de facto, irresistível. E também imprevisto. Com o Mário, o inesperado pode sempre acontecer. Desenganem-se os que o julgam sentado sobre uma por vezes aparente lassidão. De repente ele salta. Para sacudir o marasmo e de novo forçar o destino. Sempre que tal acontece, o telefone toca em casa de alguns amigos. Fica-se então a saber que há uma nova caravela e uma nova partida. Às vezes um combate. Às vezes um desígnio, um sonho, uma inquietação, o que é também uma forma de poesia."

"Retrato de Mário enquanto Mário", via Pedro Souto, via Abrupto

quarta-feira, setembro 07, 2005

547. Presidenciais (1) – Candidaturas a cheirar a mofo ou Sociedade sem capacidade de regeneração?



Um dos problemas que o nosso regime Democrático vive é a sua incapacidade de promover a regeneração da classe política. A candidatura de Mário Soares e o, mais um, tabú de polichinelo de Cavaco Silva já não são os sintomas duma doença oculta mas sim o resultado dum problema já bem diagnosticado. Mas, nesta discussão, estou em sintonia com o discurso de Soares quando afirma que essa “crise” não pode ser imputada só aos políticos. Todos nós temos a Democracia e os políticos que merecemos uma vez que promovemos a política do “não estamos para nos chatear com isto, eles que decidam”. O nosso grau de exigência é praticamente nulo e até somos co-responsáveis directos por promover políticos que são responsáveis por desfalques aos nossos recursos colectivos (como está bem patente nas sondagens para as autárquicas). É a teoria que o corrupto até tem direito a roubar um pouco desde que nos governe bem...

Depois que ninguém fique surpreendido que os partidos treinem o polvo desde pequenino apoiando uma forma de inserção na política sustentada num treino intensivo de compadrios nas juventudes partidárias. Porque, no fundo, são estes os políticos que nós queremos ver treinados talvez porque, num perpétuo masoquismo, querermos ter alguém para culpar. O resultado está à vista sendo cada vez mais visível a impreparação da nova geração de políticos para a resolução dos problemas reais dos cidadãos porque estes últimos são cada vez menos exigentes com o futuro colectivo da sociedade.

Por isso a crítica lançada a Soares e Cavaco é injusta! Em primeiro lugar porque estes não são responsáveis pelo vazio e, em segundo lugar, porque o nosso sistema não fica descredibilizado com estas candidaturas, apenas se torna visível que algo está a apodrecer há muito tempo. Quem está disposto a perder o seu feudo para regenerar Portugal? Vamos olhar para nós antes de culpar os terceiros, porque quem constrói Portugal somos todos nós, não só alguns. É extremamente irritante ver a blogosfera a perseguir os que ainda têm coragem de, apesar de já terem tido o seu (discutível ou não) papel na nossa história, arriscarem. Enquanto isso todos nós lavamos as mãos e culpamos o vizinho.

Sou um homem feliz com a candidatura de Mário Soares e de Cavaco Silva? Não! Mas são eles os rostos da decadência do regime, a sua causa e efeito? Não, haja paciência!

segunda-feira, setembro 05, 2005

546. Globalização



Está na moda cirticar a Globalização como a fonte de todos os nossos males. Este raciocínio pode ter consequências perversas.

Antes de explorar melhor esta ideia vamos analisar melhor o conceito. Desagrada a alguém a ideia da aldeia global? Desagrada a alguém o livre acesso a mercados e locais? Desagrada a alguém o quebrar de barreiras? E mais, alguém conhece alguma forma de resolver os problemas cruciais do planeta sem uma convergência global de interesses (como é o caso do ambiente e do terrorismo)? Pessoalmente não tenho desagrado por nenhuma destas noções e muito menos pelas novas soluções que nos oferece como humanidade.

O problema que se coloca ao mundo não é a Globalização em si mas sim a forma como esta é desvirtuada pelos blocos com influência mundial para obterem vantagens comparativas. Veja-se os EUA que pressionam a OMC criticando o proteccionismo europeu e defendendo uma nova forma de liberalismo à escala global e que, ao mesmo tempo, utilizam políticas proteccionistas e interventivas no seu mercado. E veja-se a UE que trava o crescimento chinês através da imposição, também via OMC, de critérios de concorrência mínimos (que a China ainda não cumpre). O problema da Globalização está no próprio desequilíbrio do mundo que não tem capacidade ou vontade de regular eficazmente e com igualdade as relações entre países. Só um pequeno conjunto de líderes tem capacidade para fazer cumprir o Direito Internacional mas excluem-se do seu cumprimento, desvalorizando o papel das instituições internacionais se estas não estiverem sobre o seu directo controlo ou influência.

A questão central da Globalização é se consegue ou não integrar o terceiro mundo nas novas oportunidades de desenvolvimento. Parece intuitivo que há uma enorme resistência em aceitar o terceiro mundo no mercado global e essa resistência não é só motivada pelos Governos “Ocidentais” mas também pelos seus habitantes, relutantes em dar uma oportunidade aos mais pobres porque, no fundo, receiam perder regalias. Por isso há, dentro do movimento anti Globalização, muitas motivações não altruístas em que nem a esquerda dita preocupada com os fenómenos de pobreza escapa.

Experimentem perguntar aos que são anti Globalização as razões porque são contra e a resposta mais comum vai ser porque aumenta o fosso entre os ricos e pobres. Mas se perguntarem se aceitam a deslocalização duma empresa de Portugal para Moçambique vão afirmar com a mesma convicção que não! Em que ficamos? É óbvio que países como Portugal têm muito a perder com estes fenómenos mas poderemos negar a nós próprios este enorme desafio global que ainda está a dar os primeiros passos (não sei é se na direcção correcta)?

Quem critica a Globalização como conceito também tem que estar disposto a perder a sua televisão Sony a baixo custo na cozinha ou a prescindir do seu iPod. E a isso poucos estão dispostos. Mas, mesmo assim, criticam a tendência natural do homem em partilhar produtos e conhecimentos, tarefa que já teve início há milénios e não há décadas. Ninguém obriga o consumidor a comer um hambúrguer em vez duma alheira, logo se se comem mais hambúrgueres é porque o consumidor o quer fazer. Podemos lamentar as opções de consumo mas não podemos impor o raio das alheiras. Podemos apelar à tradição e defender as vantagens e qualidades da nossa cultura ou até colocar um laço na alheira mas não podemos obrigar ninguém a comê-la! A cultura dum povo deve ser defendida, não imposta!

A Globalização, quer se queira ou não, também está interligada à democratização do mundo. Os novos desafios do comércio e as novas oportunidades de investimento têm vindo a obrigar todos os países a seguirem a via democrática e a respeitarem os direitos humanos pois é uma condição essencial para competir livremente no mercado internacional. É certo que o motor dessa Democratização é o dinheiro mas e depois, qual é o problema disso?

Por tudo isto não sou contra a Globalização nem quero resistir a ela mas quero que ganhe outro figurino. Porque uma Globalização condicionada aos interesses dos blocos comerciais do Ocidente e do Hemisfério Norte está a resultar em desequilíbrios ainda maiores. Os avisos de Porto Alegre são claros e muitas vezes a maior crítica é ao crescente liberalismo sem regulamentação supra nacional do que uma crítica aos movimentos de Globalização em si. Não quero um Estado Mundial mas um conjunto de instituições internacionais com capacidade de regulação e isenção mas que cedam ao liberalismo num ponto, isto é, que sejam capazes de não criar burocracias excessivas.

Mas acima de tudo o que eu não quero é o regresso aos nacionalismos demagógicos e a um constrangimento no movimento de pessoas e bens. Porque isso é estarmos a condicionar o nosso espaço a uma região ou país e a Terra já é pequena demais para estarmos fechados nos nossos quartos!

sábado, setembro 03, 2005

545. Páginas Soltas (17): O Caminho para Wigan Pier, de George Orwell



Ao longo das duas últimas semanas coloquei vários excertos do livro à discussão e, sem surpresa, é fácil constatar que Orwell continua actual. E será sempre actual. Porque o mundo gira mas as preocupações do homem apenas mudam de nome e não na sua essência. Não é um visionário mas um homem de palavras simples que recusa-se a ser refém das suas próprias ideias. Nesta fase da sua vida Orwell já tinha regressado da Birmânia e já tinha deambulado por Paris e Londres (ver aqui). O peso que já carrega não é leve e fica a sensação que a culpa já faz parte da sua vida. Mas embora seja visceralmente contra o fascismo e defenda o socialismo (este livro foi encomendado por um clube socialista inglês) não pensem que tudo o que defende não seja constantemente questionado por ele próprio.

E aqui chegamos à questão essencial: devemos defender algo em que acreditamos cegamente? A mensagem que aprendi de Orwell neste livro é que devemos lutar pelo que acreditamos mas nunca deixar de parar para reflectir sobre o que estamos a defender antes que a nossa paixão por tornar o mundo melhor acabe por ajudar a criar mais injustiças. Esta análise fria das ideias e do seu contexto, sempre em mudança, será muito mais explorada nas suas obras (primas) de ficção, O Triunfo dos Porcos e 1984.

Não esperem deste livro um hino ao Socialismo nem um rol de propaganda mas sim uma análise lúcida sobre a realidade da pobreza, do industrialismo, da luta de classes... Lúcida mas nem sempre coerente porque a vida é feita de pontos de vista e ninguém é o dono do melhor miradouro da vida. O homem não é capaz e nunca será capaz de entender o “grande quadro” e por isso prestem muita atenção àqueles que sabem que "este" (ou "qualquer outro") é o único trajecto porque se o fazem por convicção estão iludidos e se o fazem sem convicção é porque são demagogos. Mas eu também iludo-me por vezes e, nas restantes ocasiões, sou demagogo. Mas, como Orwell, só tento ser uma pessoa decente...


*Há vários textos e comentários aos livros de Orwell (e outros livros) nesta ligação:
Memórias do Filho do 25 de Abril - Literatura

quinta-feira, setembro 01, 2005

544. Em DVD: Carnivale, Curb your Enthusiasm, Rosemary's Baby



Carnivale – A Feira da Magia – Primeira Série
Elenco: Nick Stahl, Clancy Brown

Síntese da Opinião: Esta série tem o selo da HBO. Pouco mais é necessário dizer uma vez que esta estação de televisão tem-nos habituado a nunca descurar da qualidade e da criatividade (Six Feet Under, Sopranos, Angels in America, Sex and the City, entre outros). Esta série tem lugar no pós depressão dos Estados Unidos da América onde a fome, as pragas e as tempestades de areia removem toda a esperança dos seus habitantes. Se acrescentarmos um toque de magia e um ambiente místico, numa luta sem tréguas entre o Bem e o Mal, chegamos a Carnivale. Recomendo vivamente esta série que contém um grande elenco, bons cenários e, mais importante, um bom argumento.




Curb Your Enthusiasm – Primeira Série
Elenco: Larry David, Jeff Garlin, Cheryl Hines

Síntese da Opinião: Larry David é, para quem não sabe, o homem por detrás da série de sucesso Seinfeld. Além de ser o co-criador de Seinfeld também escreveu grande parte dos argumentos onde George Costanza era, em parte, baseado na sua distorcida personalidade. Agora Larry David resolveu fazer, na HBO, uma série sobre ele próprio e sobre a sua vida. Sem as “correntes” do politicamente correcto das televisões nacionais criou esta série que é, no mínimo, enervante porque David é mesmo assim, uma pessoa difícil e com um humor pouco convencional. Apesar de nos primeiros episódios a série ainda estar longe de encontrar o seu tom e ritmo, nos últimos episódios o humor é garantido. Tanto é assim que já encomendei a segunda temporada!




Rosemary´s Baby
Realizador: Roman Polanski
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes

Síntese da Opinião: Neste filme de 1968 Polanski apresenta-nos um filme de terror muito diferente do que estamos habituados a ver hoje em dia. Não é um filme com e para adolescentes e muito menos um filme cheio de efeitos especiais. O terror é baseado no que não se vê, pela reacção nem sempre heróica das personagens, pela ambiguidade destas (na vida real ninguém é coerente ao ponto de não ter falhas) e por uma construção lenta e eficaz dum clímax. Por tudo isto este filme é um clássico. Não é um filme sem falhas e muito menos o melhor filme de terror que já vi mas é sempre uma melhor aposta do que ir assistir a uma das novas produções de terror de Hollywood!