Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quinta-feira, junho 30, 2005

476. A Idade da Reforma


Pelo aspecto da carne espero que seja para animais! Será uma profissão de desgaste rápido?

Lá vou eu ser acusado novamente de ser capitalista e liberal! Mas vou correr esse risco...

As greves e protestos acumulam-se pelas mais variadas razões! Surgem várias perguntas: O Governo está a beliscar direitos adquiridos? E é justo que o faça? Acredito sinceramente que "sim" é a resposta às duas questões! O que não consigo perceber é porque é que há tanta contestação por tão pouco. Manter um Estado Social bastante acima da nossa produtividade é um ciclo vicioso insustentável que cada vez liberta menos recursos para o investimento. Daqui a pouco, se nada fôr feito do lado das despesas, íamos ter défices de 15% com o IVA a 30%!

Uma das formas que o Governo arranjou para sustentar o Estado Social foi aumentar a idade da reforma em algumas profissões, ou melhor, foi equilibrar as várias profissões com a idade de reforma praticada no sector privado. Podemos criticar o Governo por não ter incentivado o contrário, isto é, que os privados passassem a reformar-se mais cedo. Mas seria isso viável? O que não percebo é o porquê de tanto frenesim à volta dum conceito de elementar justiça: equiparar a função pública à privada!

Podemos discutir a idade de reforma ideal que sustente o sistema mas não acho correcto contestar a equiparação. Ou então podíamos optar por uma solução diferente. Era feito um estudo de viabilidade da Segurança Social conforme cada idade de reforma. Depois dávamos a escolher entre as várias idades de reforma. Cada funcionário teria uma percentagem diferente do salário em reforma conforme a idade que escolhesse reformar-se. Não foi esse o caminho mas não discordo da medida de fundo...

Agora todas as profissões escudam-se nas especificidades das profissões. Os enfermeiros não conseguem carregar doentes a partir de certa idade, os professores não têm capacidade mental para os alunos, os polícias já não conseguem perseguir os ladrões com a mesma energia, os informáticos já não se conseguem adaptar às novas tecnologias e têm dores crónicas de esforços repetitivos...

Mas que profissão não é desgastante? Duma forma ou doutra? E porque é que a mesma profissão no sector privado deixa de ser desgastante?

O que o Governo ainda tem que explicar é como vai tornar estas pessoas úteis numa idade em que já não podem desempenhar as mesmas funções do passado. É claro que os professores vão ter que fazer trabalho de secretariado em substituição duma carga tão grande de aulas, é claro que os polícias não vão andar a patrulhar mas a coordenar, e por aí fora. É preciso acautelar esta nova realidade! Não podemos é entrar na demagogia que a situação actual é sustentável!

Eu acho que as greves devem ser feitas para demonstrar que os trabalhadores não vão aceitar qualquer medida sem fundamento nem critério mas espero que todos nós tenhamos consciência que estas medidas são a ponta do icebergue e são de elementar justiça. Não é justo esta geração estar a suportar regalias que vão ser insustentáveis no futuro para eles próprios. É puro egoísmo exigir que algumas regalias não acabem!

quarta-feira, junho 29, 2005

475. Grão de Areia no Universo: Emídio Guerreiro



"A liberdade nasce com a aurora da Humanidade, é uma necessidade intrínseca do progresso e caminha a par da dignidade humana. Sem dignidade não há liberdade e por isso as ditaduras não se sustentam a não ser pela força."

"Um homem digno é um homem livre e só se é livre quando se é digno."

474. Novo Template




(Clique na imagem para ampliar)

Novo template...: Aceito sugestões e/ou lamentos!

...mas o mesmo lema: Reflexões e reflexos da vida na Terra! Todos nós temos incertezas, opiniões e reflectimos... a piada da vida é que ninguém tem certeza sobre nada, todos têm uma opinião diferente e todos, ao reflectir, chegam a conclusões diferentes... Viva as nuances da vida, expressas em liberdade!

Porque ainda há valores inegociáveis!

473. Desaparecido em Combate



Urgente: Procura-se este ministro! Quem tiver informações sobre o seu paradeiro por favor contacte o seu Governo. Visto pela última vez na área de Troia...

Onde está a prioridade deste Governo? Eu concordo com todas as medidas financeiras deste Governo (com excepção do IVA) e até as acho escassas mas falta contra-balançar estas medidas com incentivos ao nosso já frágil tecido empresarial (a palavra tecido é a mais irónica que consegui pensar para descrever o que não temos).

Onde estão os planos tecnológicos, os incentivos à inovação, a coordenação entre universidades e empresas e os planos de apoio às exportações?

terça-feira, junho 28, 2005

472. Orçamento Rectificativo



Não! Não vou filosofar sobre se incorrecções são trapalhadas e se erros gratuitos de previsão são embustes.

Afinal o que é que este Orçamento rectifica?

Este documento trava uma maneira de fazer política que não tem lógica, leia-se, manter um défice artificialmente na percentagem que mais nos convém. Nunca compreendi a lógica das Receitas Extraordinárias per si. Ou há utilidade a prazo em obter voluntariamente essas receitas ou então sejamos racionais e acabemos com esta delapidação sem sentido do nosso futuro colectivo!

Este Orçamento também rectifica as projecções megalómanas de Bagão Félix. Não estou satisfeito com o nosso futuro próximo mas não vale a pena usar a maquilhagem política do costume que só serve para dar a ideia que os políticos acham que os portugueses são estúpidos. Pelo menos enfrentamos os problemas de frente.

E o que é que este Orçamento não rectifica?

A política desastrosa de tentar corrigir o défice à custa da economia. Se eu até posso aceitar a subida dos impostos sobre o tabaco e os combustíveis (apesar deste segundo também ter as minhas dúvidas) não compreendo a repetição da receita desastrosa de Ferreira Leite no IVA.

Eu considero as medidas do Governo de alguma coragem política, mas claramente insuficientes. A redução da despesa em massa salarial e transferências sociais tem que ser bem mais dura. Por mais direitos adquiridos que atinja e por mais greves que se façam. Os portugueses vão ter que se habituar a viver com o que produzem e não com manias de novo riquismo à espera da mesma protecção social dos países mais desenvolvidos.

segunda-feira, junho 27, 2005

471. Álbum de Fotos: Penafiel





470. Recomendo...



... a visita ao blogue "A Cidade Surpreendente" para observar fotografias Surpreendentes da Cidade do Porto na noite de São João!

Parabéns, Carlos Romão!

469. O Verdadeiro Défice




Numa altura em que todas as atenções estão centradas no défice orçamental estamos a ignorar um défice com efeitos bastante mais perversos, o défice da Balança Comercial. No ano de 2004, segundo o INE, o défice comercial com países fora da UE agravou-se 31,5%. Este agravamento das nossas contas com o exterior explica-se em grande parte com a importação de produtos petrolíferos.

Basta sublinhar que 21,2% das importações com o Resto do Mundo é proveniente de membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)! Isto representa um défice de 1965,6 milhões de euros com a OPEP! Impressionante!

O problema energético não é só português, é europeu. É preciso começar urgentemente a actuar no sentido de diminuir a dependência energética na Europa. No âmbito europeu é possível criar sinergias que quebrem a pressão dos lobbies energéticos para que tudo continue a funcionar com energias não renováveis que provocam grandes emissões de dióxido de carbono. Ninguém actua para resolver problemas ambientais mas quando isso começa a afectar a economia tenho esperança que haja acção rápida. E nunca afectou tanto como agora!

Nota 1: Mesmo excluíndo os produtos petrolíferos o nosso défice comercial com países fora da UE continuava elevado! O nosso crescimento tem que ser baseado nas exportações, não no consumo!

Nota 2: O que será dos países membros da OPEP quando acabar a utilização de petróleo? Um barril de pólvora gigantesco?

domingo, junho 26, 2005

468. Google Maps


(Clique na imagem para ampliar)

O Google oferece imagens de satélite do Porto com uma grande definição. Esta imagem, por exemplo, nem está no zoom máximo. É interessante descobrir os locais onde moramos a partir deste mapa.

No centro está obviamente a Rotunda da Boavista. Quero realçar dois pormenores nesta imagem. O impacto que a Casa da Música teve nesta área tão importante da cidade e a dimensão (que eu desconhecia) do cemitério (rectângulo à esquerda). Quanto ao segundo pormenor fico admirado que ainda exista o cemitério numa zona com terrenos a preços tão inflacionados. Alguém deve estar distraído e parece-me óbvio que a prazo esta área vai ter outra utilização!

Se quiserem "brincar" com este mapa só têm que ir a http://www.google.com/maps e selecionar Satellite no canto superior direito da página. Depois basta digitar porto.pt em search!

467. Tópicos de Discussão: A Produtividade em Portugal

"A mim parece-me é q continua a haver pouco investimento no branding, em detrimento das novas tecnologias. O investimento na imagem e no conceito sólido de uma marca continua a ser visto como 1 factor de risco.
A banca deveriam apostar, sem medo, nas empresas que valorizassem esta mais valia."
Conchita

"Ninguém duvida que tivemos nos ultimos 20 anos oportunidades unicas nas mais diversas àreas de equipamento social. Remodelação dos aeroportos, duplicação da rede de metro, Barragem de Alqueva, remodelação da rede ferroviária e construção de uma nova rede rodoviária incluindo a maior ponte da europa. Com isto se conclui que os responsaveis destes projectos são homens com bastante conhecimento. Com que idade estão neste momento? 55-65 anos.
Ora, o trabalho que desenvolvi passa por um sistema de partilha metódica desse conhecimento, face à brevidade da reforma destes técnicos.
Através de rigorosos registos da actividade.
As empresas estrangeiras, com destaque para as espanholas, agarram com as duas mãos este projecto. As Portuguesas desconfiam dos danos colaterias que tais registos possam provocar. Será que assumem a sua actividade com preversidade?
É esta visão do presente sem futuro que me perturba."
Frederico Lucas

"O que acontece é muito simples. As entidades públicas, sabendo que podem assumir 30% de custos adicionais (trabalhos a mais) em cada empreitada, idealizam outras obras de baixo valor a incluir nos custos da empreitada "principal". Além disso, têm o responsável máximo do organismo a impor ao empreiteiro uma entrega financeira ao partido no poder.
Posto isto, imaginem as consequências que pode ter um bom registo da empreitada quando se verifica que até correu exactamente como planeado?
Mas sobre esse assunto a Maria José Morgado já esclareceu: É o inimigo sem rosto."
Pedro

"O problema não parece estar nos empresários.
Quanto á banca qualquer acusação é ridícula. A banca portuguesa é das mais eficientes da Europa. Conheço portugueses que emigraram para outros países da Europa e uma das coisas que sentem mais saudades é da eficiência dos nossos bancos.
O discurso do Sampaio foi ridículo.
Como referes, porque é que a banca iria arriscar se tem negócio suficiente com os empréstimos imobiliários e outros?
Assim onde estará o problema?
Só resta uma hipótese, no sistema que se instalou que permite grandes negócios em actividades seguras e rendosas como o imobiliário mas que nem são as mais úteis para o momento que a nossa economia atravessa.
E esta hipótese é a que tem de ser considerada. A estratégia de desenvolvimento caracterizada por um liberalismo demasiado e pela sujeição à União Europeia dos poderes que restam ao Estado português levou a esta situação.
É por aí que temos de agir."
Raio

"por mim culpava a mentalidade pequenina dos maiores responsáveis do sector, de parte a parte. É um meio pequeno, acabam por formar uma espécie de clube instalado não informal, mas muito poderoso. O nepotismo e o tachismo estão intrínsecos em todos os aspectos da nossa cultura."
Dinah

"O conceito de sensibilidade ao risco é extremamente engraçado e enganoso. Há uma opinião mais ou menos consensual que o empresário português é averso ao risco, opinião que pessoalmente não comungo! Ser averso à utilização do crédito (e preferencialmente preferir utilizar capitais próprios) é um factor que potencia o risco (nem que seja dos bens pessoais do empresário e em última análise há uma preferência fiscal em relação aos capitais alheios o que lhe permitiria aumentar a rentabilidade dos capitais próprios via poupança fiscal). A falta de imaginação no investimento é também um factor de propensão ao risco visto que tenta ocupar um espaço no mercado que já está ocupado e logo a rentabilidade esperada decresce significativamente em relação ao investimento inicial que está a imitar... Se juntarmos isto à aversão que as empresas portuguesas ainda têm em relação a financiamentos do tipo leasing (porque é que nenhum empresário se lembra de fazer leasing das máquinas? Se não conseguir trabalhar com elas ou se forem um fiasco, em cenário de incerteza claro, bastava-lhe devolver a máquina) e facturing (prevenindo porventura uma das situações mais críticas actualmente em Portugal, os maus pagadores) que lhe permitiriam fazer algum out-sourcing de actividades que por vezes não tão vocacionados ou que lhe são relativamente caras, chego à conclusão que aversão ao risco não têm, só lhes falta mesmo começarem a jogar no euromilhões com os capitais da empresa na esperança de lhe aumentarem a rentabilidade ;)!!!"

(...)"é claro que mesmo seguindo este tipo de políticas empresariais muitas fábricas vão fechar na mesma, mas o que interessa é salvar algumas... Tanto que há excesso de pequenas empresas no sector que enforcam as grandes ou as pequenas com potencial de crescimento ou de difenciação de produto, logo a saída de mercado das mesmas até pode ser uma boa notícia para o sector.

O problema da produtividade não vem só dos trabalhadores, vem também de cima. E depois queixam-se da abertura ao mercado chinês como se esse fosse o problema do sector... O problema do sector é tantos anos depois ainda estarmos a competir directamente com os produtos chineses, o que é no mínimo rídiculo!!!"
Elogio do silêncio

sexta-feira, junho 24, 2005

466. Empresários e Banqueiros

(...) “os empresários também têm que ter outra mentalidade, serem inovadores, não na compra de automóveis ou iates, mas nas suas empresas, arriscando também eles na expansão dos seus negócios, num equilíbrio harmonioso entre os capitais financeiro e humano.
Parece uma contradição, os empresários reclamarem a não aposta dos bancos no Capital de Risco, mas não é, pois empresários e banqueiros, são duas espécies, ou melhor uma espécie, que são vistos frequentemente juntas”

Anónimo

“Quantos empresários é que apostam na inovação, com expressa exclusão de todos os que recebem subsidios para tal?
E esses, que construiram soluções diferenciadas, que receptividade tiveram no mercado nacional?
É que no meu caso, eu consigo vender o meu serviço inovador em qualquer país da Europa, excepto em Portugal.
Por cá preferem investir menos 20% e receberem lixo em vez de um instrumento de gestão.”

Frederico Lucas (do blogue Casa do Professor)

Estes comentários que o "Anónimo" e que o Frederico Lucas colocaram no post "464. Fazia o obséquio de repetir, senhor Presidente?" merecem uma reflexão mais cuidada.

Existirá um “conluio” entre empresários e banqueiros para que todos mantenham o seu “status quo” sem grandes sacrifícios? No fundo o que interessa reflectir é porque é que estas "duas espécies" não têm conseguido trazer mais produtividade ao sector industrial português.

No caso da banca constata-se facilmente que não há a mínima necessidade de arriscar porque apresentam lucros altos, pelo menos para já, no crédito ao consumo e ainda não sentiram necessidade de embarcar em "aventuras" mais arriscadas. É difícil inverter esta tendência num sector que até é inovador mas que racionalmente não sente necessidade de apoiar empresas e tecnologias emergentes. A banca acaba por, duma forma indirecta, proteger os empresários que já existem.

O caso do sector industrial já é mais difícil de explicar. Há muito tempo tive uma "discussão" com o Raio sobre se haveria ou não aversão ao risco por parte dos nossos empresários. Não é fácil medir qualitativamente uma mentalidade até porque os nossos empresários têm um comportamento bastante diferente conforme actuam em Portugal ou no exterior. Mas há claramente deficiências de gestão generalizadas nas empresas industriais portuguesas. A tecnologia importada segue um raciocínio de imitação e não de inovação, há pouca imaginação na penetração do mercado, há pouca diversificação do risco em vários negócios ou em vários produtos no mesmo sector e há uma atitude perante o risco financeiro muito estranha. Muitos empresários tratam as empresas de forma "familiar", isto é, não utilizam devidamente o crédito para investir mas sim os seus capitais próprios. É a lógica do "quem não tem não investe"...

O Frederico sublinha que muitos empresários preferem investir numa lógica pouco diferenciada (note-se que arriscam porque estão a investir mas com um método pouco criterioso). Conheço, principalmente no sector têxtil, quem prefira substituir o equipamento que tem pelo que encontrarem mais parecido. É que, segundo os próprios, as máquinas “novas” devem ser menos fiáveis, precisam de novos engenheiros e de formação e isso assusta-os. Querem é uma “máquina” parecida com a anterior mesmo que isso signifique não melhorar a relação custo/qualidade e mesmo que não permita expandir a produção. Parece que, independentemente da postura perante o risco, há pouca vontade de arriscar no que é diferente e que acham que não podem controlar, o que explica o pouco recurso ao capital de risco!

Há aqui dois problemas! Um é a aparente “protecção” que os bancos dão às empresas tradicionais não favorecendo o surgimento de empresas emergentes através do capital de risco. O outro é o próprio tecido empresarial não recorrer ao crédito de risco. Estão mais preocupado em ir gerindo as suas empresas numa óptica de intuição e segurança em detrimento de arriscar em inovação, tecnologia e recursos humanos. Com esta análise acho que é possível perceber melhor porque é que, a montante e a jusante, não há investimento em capital de risco em Portugal. Também é possível explicar o decréscimo da produtividade industrial. Mais difícil de compreender é se há uma rede informal entre os banqueiros e empresários para que isso aconteça! Qual é a vossa opinião?

quinta-feira, junho 23, 2005

465. O São João é no Porto




Com respeito por todas as Festas de São João que se multiplicam pelo país (até do outro lado do rio) a "verdadeira" festa popular dá-se no Porto. Hoje a noite deve ser passada no Porto e em mais lado nenhum. Não por ser regionalista e muito menos por “adorar” a festa (confesso que o tempo tem diminuído a minha vontade de andar pela cidade a comer sardinhas e dar umas "marteladas” a desconhecidos) mas porque é uma festa genuinamente popular. A forma como, no ano passado, os adeptos das selecções que se encontravam no Porto para o Europeu de Futebol facilmente juntaram-se à festa mostra bem o cariz popular dos festejos.

A Festa de São João no Porto é, muito provavelmente, a festa mais difícil de explicar! Como explicar que milhares de pessoas divertem-se não só a saltar a fogueira, a ver o fogo de artifício e a comer sardinhas como também a andar às "marteladas” e a "esfregar" o alho porro por toda a cidade? Não consigo explicar! Por isso quem ainda não conhece o São João no Porto está convidado a vir...

Ris de mim por não ser novo!
Cautela, que na noitada,
Até mesmo um velho ovo
Pode dar boa gemada.
Quadra de São João!

terça-feira, junho 21, 2005

464. Fazia o obséquio de repetir, senhor Presidente?

"Há oposição da banca no que respeita a arriscar alguma coisa para as empresas que querem inovar. Naturalmente que se quiserem um automovelzinho, a banca está disposta a fazer umas prestações”, afirmou Jorge Sampaio, referindo que muitas vezes a publicidade ao crédito é um “embuste”

Parece que o calor já começou a afectar os políticos! Eu também sou da opinião que há falta de mentalidade de risco em Portugal e até concordo que os bancos arriscam pouco. O que não consigo compreender é como é que o Presidente da República quer convencer a banca dessa necessidade e, ao mesmo tempo, ridicularizar um dos seus produtos de forma tão gratuita. Pode até ser a sua convicção mas será assim que o pedido anterior (sim, porque não estamos na era das imposições mas sim da dos pedidos) terá o ambiente conciliatório para avançar?

Deve ser o início da "silly season"!

463. O Portugal que está a falhar...


Onde é que eu vou sair?

Confesso que o laxismo na execução das obras públicas em Portugal faz-me muita confusão. O Túnel de Ceuta é o mais recente exemplo! Já não me interessa de quem é a culpa mas sim saber como é possível começar obras sem ter todas as licenças e o trajecto definido. Se a culpa é de Fernando Gomes, de Nuno Cardoso, de Rui Rio, desta Ministra da Cultura ou da anterior, do IPPAR ou de Salazar já não me interessa, quero saber é como é possivel as obras chegarem a este ponto. O Porto anda, progressivamente, a ficar o campeão das obras mais surrealistas de Portugal.


Custei um milhão de contos! Para que é que eu sirvo? Se ao menos eu ainda fosse bonito...

Já tínhamos o Edifício Transparente que ninguém sabe para que é que serve, a Casa da Música que descarrilou por todo o lado, o Parque de Estacionamento do Castelo do Queijo que metia água (entretanto reaberto alguns anos depois da conclusão da obra inicial após “correcção de anomalias”), os Carris dos Eléctricos que instalaram por toda a cidade e que nunca vão ser utilizados, só para dar alguns exemplos. Porque de obras inacabadas e/ou de execução deficiente há dezenas de exemplos só no Porto. Agora florescem novos problemas seja no trajecto do Metro, nas obras prévias do Metro (para futuras linhas que nunca vão ser aprovadas), nas contas correntes (confusas) entre o Metro e as autarquias, nas obras simultâneas à frente das duas urgências dos hospitais da cidade e no famoso Túnel de Ceuta que, como já admitiu Rui Rio, vai abrir mas com este trajecto pouca utilidade vai ter para os automobilistas.

Só falo no Porto porque é a cidade que conheço melhor e não porque seja exemplo único. Porque os Terreiros do Paço, os Centros Culturais de Belém, as rotundas e avenidas sem utilidade e todas as obras que ultrapassam largamente o limite máximo de derrapagem que o Tribunal de Contas permite “nascem” por todo o país (e nas ilhas a humidade parece favorecer ainda mais o seu crescimento).

Estaremos numa República das Bananas? Será que não há no Porto e no resto do país o mínimo de consciência que é o nosso dinheiro que é utilizado ao desbarato? Alguém é capaz de me explicar como tudo isto é sequer possível acontecer? Não estou à procura de culpados, só de explicações...

segunda-feira, junho 20, 2005

462. A Política Económica e o Défice




Será correcto dizer que défices altos (ou a subir) são sinónimo de políticas expansionistas e que défices baixos (ou a descer) são sinónimo de políticas restritivas? Não!

Numa análise estática o défice não nos diz nada sobre a política económica. Um défice de 6% pode evidenciar políticas mais restritivas do que um défice de 2% porque não sabemos a estrutura da despesa. E numa análise temporal (ou dinâmica)? Também pouco ou nada nos diz! Apenas nos diz se estamos a gastar mais ou menos em relação às receitas mas não nos diz no que é que estamos a gastar.

Por isso fico preocupado quando ouço que só com défices altos podemos sair da crise porque é o caminho mais fácil, não necesariamente o melhor! O problema está nas despesas com a massa salarial e nas transferências correntes (saúde, educação, justiça) em proporção à riqueza que produzimos, ou seja, em função da nossa produtividade. Por isso há a necessidade de adequar os nossos gastos não reprodutivos à nossa riqueza.

É óbvio que as políticas económicas não devem ser contra cíclicas! Deve-se ser expansionista durante a recessão e restritivo durante a expansão. O que tem falhado em Portugal é que andamos sempre a remar contra as marés. No período de expansão usamos políticas expansionistas e no de recessão usamos políticas restritivas, agravando a crise. E o défice (real)? Devia ter sido encarado num contexto de médio prazo estando em superavite nos períodos de expansão e em zero ou com ligeiro défice nos períodos de recessão para permitir investir mais nesses períodos e, no fim do ciclo, não gerar dívida pública!

É inevitável só termos o grau de salários e de protecção social que seja adequado ao nosso nível de arrecadação de impostos e produtividade.

P.S. Peço desculpa pela linguagem mais técnica mas é necessário acabar com o tabú que só é possível ter políticas expansionistas com o défice alto! O valor do défice só nos diz quanto é que vamos ficar a “dever”, não como ficamos a “dever”! É por isso perfeitamente possível ter défices baixos e políticas expansionistas ao mesmo tempo.

domingo, junho 19, 2005

461. O Morcego (ou a Consciência Humana)

O MORCEGO

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!


Augusto dos Anjos*

*Augusto dos Anjos (1884-1928) foi um poeta brasileiro incompreendido salvo do esquecimento pelos seus leitores no interior do Brasil. A sua poesia é estranha porque abundam as expressões científicas, as palavras duras e a decomposição do ser humano. Quem quiser consultar a sua obra pode fazê-lo nestes sítios:

Jornal de Poesia - Augusto dos Anjos

Augusto dos Anjos - Tributo ao Poeta Raquítico

P.S. Estes últimos dois posts não representam a minha cedência ou capitulação ao lado negro da Força!

460. A Arte biometálica de Giger


(Clique na imagem para ampliar)

Talvez poucos saibam quem é H.R. Giger. Mas após ver os seus desenhos e quadros é fácil associá-lo a um dos maiores monstros da Sétima Arte, o Alien do popular filme de Ficção Científica de Ridley Scott. Giger não só desenhou o Alien como muitos dos cenários da nave que se encontrava num planeta esquecido nos confins do Universo.

A arte de Giger faz-me lembrar uma mistura entre Salvador Dali e David Cronenberg retirando, do primeiro, o contexto surrealista e do segundo a mistura (ou fusão) entre o homem e a máquina. A simbiose entre homem e máquina não é como se de uma prótese se tratasse mas sim duma fusão genética. É uma arte muito negra.

Para quem quiser conhecer mais da sua estranha e pouco consensual obra (colaboração em filmes, mobiliário, joias, quadros) pode consultar estes sítios:

HR Giger - The Official Website

GIGER.COM - HR Giger's official US Site

sábado, junho 18, 2005

459. A Europa em Crise Profunda



"A Europa está numa crise profunda"
Jean-Claude Juncker

[Situação] "patética, para não dizer trágica"
Jacques Chirac

O Conselho Europeu chegou ao fim sem resultados palpáveis e dando sinais de profunda desorientação. Na minha humilde opinião três sinais foram emitidos:

Um de cegueira: O adiamento do Tratado Constitucional é ridículo! A única opção sensata era enterrar o texto, por mais virtuoso que seja. Dá a ideia que os líderes europeus ou querem repetir os referendos só nos países onde o "Não" venceu (o que não tem lógica com ou sem pequenas alterações) ou simplesmente adiam qualquer tipo de resolução por imobilismo completo.

Um de falta de espírito europeu: A Europa só pode ser forte se houver um espírito de solidariedade entre as nações europeias. A falta de acordo na distribuição das verbas comunitárias para 2007-2013 é um sinal forte de que o alargamento não vai ser acompanhado por um esforço de coesão significativo. Desta forma o futuro da Europa é negro até porque promete ser de longa decadência. É que é preciso não esquecer que se este projecto de integração falhar todos os países que o integram vão ser "engolidos" pelos fenómenos de globalização. Muito dificilmente a Europa vai conseguir manter os modelos sociais que tem se não criar sinergias e estratégias combinadas para enfrentar a competitividade internacional. A menos que consiga travar a globalização o que nem considero positivo nem possível. Só uma Europa competitiva e coordenada pode conseguir guiar a globalização para um trajecto mais social.

Um de falta de rumo: Após os resultados dos referendos a UE foi incapaz de dar o mais ligeiro sinal de que tem uma estratégia. Eu sei que Durão teve algum azar no contexto em que assumiu as funções na Comissão Europeia mas é impressão minha ou ele está a demonstrar uma profunda inabilidade política. Parece um "líder" que nasceu fraco e que não tem ou não consegue ser proactivo. Neste momento era tão simples travar a crise europeia. Bastava relembrar que antes do Tratado ser Constitucional pretendia ser um documento simples que tornasse possível a UE funcionar a 25. Reformar o sistema de votação é a prioridade e isso era fácil aprovar. Mas para isso era preciso um líder forte que tivesse a coragem de admitir que o Tratado falhou e seguir em frente impondo uma reflexão mas aprovando, entretanto, um novo sistema de votação. Duvido que Durão dure muito tempo no cargo onde está e se durar que não seja por imobilismo da UE mas porque começa a mostrar qualidades que eu admito nem sequer vislumbrar...

sexta-feira, junho 17, 2005

458. Manuela Ferreira Leite em Grande Entrevista



A entrevista de Manuela Ferreira Leite (MFL) à RTP teve vários momentos de interesse. Não estive de acordo com a política financeira de Ferreira Leite mas não vale a pena chover no molhado. A minha opinião sobre o que MFL continua a defender com orgulho como bandeiras da sua governação (congelamento admissões, redução percentual das despesas dos ministérios) são medidas que considerei e considero destrutivas para o país (a que devemos adicionar a política de receitas extraordinárias).

Mas houve, na sua argumentação, algumas posições que têm lógica:

- A subida dos impostos nesta fase, em que há mais anos para combater o défice, é má para a economia (a diferenciação que justificou em relação ao que fez é que não me pareceu nada convincente);

- Também concordo que o défice da maneira como foi apresentado deixa marcas negativas na economia (claro que o discurso da "tanga" também não ajudou muito);

- Também concordo parcialmente que perseguir a acumulação de reformas e vencimentos dos políticos é uma demagogia. Eu defendo que as regalias e situações de excepção devem acabar em toda a Função Pública mas concordo com MFL que os vencimentos têm que ser aumentados. Não é sério pensar que podemos ter homens de qualidade em certos cargos sem regalias, salários baixos e alta exposição mediática;

De resto nada de novo. Muitas críticas (veladas e directas) a Durão e Santana (mais ao segundo) e a sensação que muito pouco foi feito (por falta de eficácia das políticas ou por falta de tempo, conforme a visão clubística, digo, partidária) até porque admite um défice de 5,4% sem receitas extraordinárias (valor mais alto do que a "herança guterrista").

Achei curioso um pormenor que revela o que falhou na governação "aos tostões" de Ferreira Leite e que pode acontecer a este Governo. Quando confrontada com valores (reais ou previstos) altos do défice disse que algo cheirava mal porque não era sério dizer isso. Porque, segundo a sua lógica, subir impostos e combater as despesas (como congelamento dos salários) não podia, seriamente, dar défices mais altos (as palavras exactas são "é uma ideia absolutamente absurda"). Eu não tenho o prestígio da nossa ex Ministra das Finanças mas digo categoricamente que pode. Basta a economia crescer menos (menos receitas mesmo com aumento da taxa de imposto) e aumentarem as transferências sociais (aumento de despesa via subida do desemprego). É por ninguém olhar para a economia como olha para as finanças que Portugal chegou ao ponto em que está!

quinta-feira, junho 16, 2005

457. Assino por baixo!

“La prisión en la bahía de Guantánamo se ha convertido en el Gulag de nuestros tiempos; afirmando la práctica de la detención arbitraria y la prisión por tiempo indefinido en violación de la ley internacional… Guantánamo nos recuerda la represión soviética”
Irene Khan, Secretária Geral da Amnistia Internacional

456. Álbum de Fotos: Casa da Música (Porto) (2)


(Clique na imagem para ampliar)


(Clique na imagem para ampliar)

"Por acaso nem acho assim tão bizarro esse edifício no Porto."
Didas

"É um pouco como a água tónica. Temos que aprender a gostar dela."
HMémnon

"Mas este é o tipo de edificio que é preciso tempo para
ser pertença da cidade, isto é, a cidade não é sem esse membro.Estou certo que vai ser.E estou danadinho por ir vê-lo."
C. Índico

"Desculpem lá a franqueza...mas não gosto!"
mfc

"Por acaso gosto com algumas reticências, no entanto penso que será dentro de alguns anos uma das grandes referências arquitectónicas da cidade do Porto."
Armando Ésse

"De repente, tive a nítida impressão de estar a olhar para um pequeno "elefante branco"!"
Anónimo

Preciso fazer mais alguma afirmação?

quarta-feira, junho 15, 2005

455. Álbum de Fotos: Casa da Música (Porto)

Já está construída! Já oferece uma programação cultural de qualidade! Já só falta nos ensinar a gostar dela...


Casa da Música (clique para ampliar)


Às vezes é preciso um autocarro dos STCP para ficarmos convencidos que este edifício pertence ao Porto

... mas tenho que confessar que já nutro alguma simpatia por este edifício "bizarro"!

terça-feira, junho 14, 2005

454. Desafio Cinéfilo...



Este tipo de desafios é ingrato. Comprimir em meia dúzia de linhas uma paixão como a que eu tenho pela Sétima Arte leva a que haja esquecimentos imperdoáveis. Mas aqui vai...

1. Melhores Filmes dos últimos anos (sem ordem de preferência, desde 1997):

The Pianist, de Roman Polanski

Magnolia, de Paul Thomas Anderson

Mystic River, de Clint Eastwood

Lost in Translation, de Sofia Coppola

Fight Club, de David Fincher

La Pianiste, de Michael Haneke

Gangs of New York, de Martin Scorsese

Memento, de Christopher Nolan

2. Filmes da vida (sem ordem de preferência e alguns dos que mais me marcaram):

Taxi Driver, de Martin Scorsese: Porque é a personificação perfeita do anti-herói, ou seja, o tipo de herói que eu gosto de ver no cinema;

Blade Runner, de Ridley Scott: A obra prima da ficção científica;

The Godfather, de Francis Ford Coppola: Os três filmes são perfeitos e duma coerência inatacável. Magnífico;

Apocalypse Now: A Sétima Arte levada aos limites;

Magnolia, de Paul Thomas Anderson: Um filme absolutamente inesquecível. A dor das personagens contagia os espectadores;

ChinaTown, de Roman Polanski: Já ninguém consegue fazer um filme com aquele ritmo onde há tempo para os actores respirarem e cruzarem olhares. O filme cativa duma forma quase magnética;

3. Actores com pujança(sem ordem de preferência):

Al Pacino, porque é o melhor actor em actividade;

Robert DeNiro, pelos fimes que fez com Scorsese;

Marlon Brando, pela força interior da sua representação;

Adrien Brody, Edward Norton, Sean Penn, Bill Murray (…)

4. Actrizes de mão cheia (sem ordem de preferência):

Katharine Hepburn, porque nunca ninguém vai conseguir suplantá-la;

Cate Blanchett, porque talento há muito e classe também, mas talento e classe é raro;

Scarlett Johansson, porque nunca assisti a uma carreira tão meteórica (com inteira justiça) e fico assustado ao olhar para a idade dela e confrontar isso com a sua filmografia;

Sigourney Weaver, Jodie Foster, Julianne Moore, Diane Keaton, Isabelle Huppert (…)

5. O meu musical:

Cabaret, de Bob Fosse;

6. Realizadores com R grande:

Martin Scorsese (1) (2) (3) (4) (5) (6), pelo brilhantismo da sua carreira;

Francis Ford Copolla, pelo brilhantismo duma fase da sua carreira, que deixou como legado quatro filmes memoráveis (a triologia do Godfather e Apocalypse Now, sem redux);

John Carpenter, por ser o realizador que consegue fazer o indefensável com classe;

Paul Thomas Anderson, por ter feito Magnolia;

David Fincher, Ridley Scott, Alfred Hitchcock, M. Night Shyamalan, Roman Polanski, David Lynch, David Cronenberg, Peter Jackson, Tim Burton, Ang Lee (…)

A quem vou passar o desafio?

A todos os que costumam visitar este blogue e queiram perder algum tempo a responder a perguntas sobre a nobre Sétima Arte.

*Tópicos relacionados:
Memórias do Filho do 25 de Abril - Sétima Arte

segunda-feira, junho 13, 2005

453. Uma justa homenagem...

... a Eugénio de Andrade! É impressionante verificar que, por toda a "blogosfera" nacional, encontramos salpicos da sua obra poética numa forma de homenagem original. Tudo somado dava para resumir grande parte da sua obra. Repito, é uma homenagem espontânea e justa!

...e a Álvaro Cunhal. Assisti (e li) a todo o tipo de reacções! Desde comentários com rancor a pessoas com real emoção. Eu não me revejo em nenhum dos extremos mas temos todos que admitir que o homem não deixou ninguém indiferente!

452. Grão de Areia no Universo: Álvaro Cunhal



Os meus leitores habituais (e mais antigos) sabem que não tenho por hábito mudar de opinião sobre o trajecto das pessoas depois de morrerem só por esse facto, isto é, porque morreram. Eu admiro o Cunhal pré 25 de Abril mas nunca fui simpatizante do rumo que defendeu para Portugal. Reconheço a importância da sua obstinada luta contra o fascismo. Reconheço também que era um homem de ideais e que demonstrou uma coerência ideológica impressionante ao longo da sua vida. Aguns chamavam a isso convicção, outros cegueira.

Sobre o homem por detrás do político não me cabe a mim (d)escrever mas deixo a minha homenagem ao lado artístico de Cunhal... pelos seus desenhos, livros e intervenções várias no plano cultural que foram e são bem mais consensuais que o seu trajecto político.

451. Grão de Areia no Universo: Eugénio de Andrade



Surdo, Subterrâneo Rio

Surdo, subterrâneo rio de palavras
me corre lento pelo corpo todo;
amor sem margens onde a lua rompe
e nimba de luar o próprio lodo.

Correr do tempo ou só rumor do frio
onde o amor se perde e a razão de amar
--- surdo, subterrâneo, impiedoso rio,
para onde vais, sem eu poder ficar?

Eugénio de Andrade

domingo, junho 12, 2005

450. O desafio literário...



Fui desafiado pelo Miguel do blogue Hollywood a responder a umas questões relacionadas com literatura. Eu já escrevi aqui que acho que a entrega deste “blogamigo” ao cinema é de tal forma profissional que se torna incontornável visitar o seu blogue antes e depois de assistir a um filme. Agora vamos ao que interessa...

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Não é uma pergunta fácil. Escolheria o “Barão Trepador”, do Italo Calvino não porque seja o meu livro favorito (ou que mais me marcou) mas porque provavelmente ninguém ia escolher “ser” este “livro”. E num mundo em que as pessoas são livros eu preferia ser um livro que respirasse fantasia...

Já alguma vez ficaste apanhadinha por um personagem de ficcão?
Primeiro expliquem-me o que é ficar “apanhadinha” e depois eu respondo...

Qual foi o último livro que compraste?
“A Pianista”, de Elfriede Jelinek e “A Caminho para Wigan Pier”, de George Orwell

Que livros estás a ler?
“O Idiota”, de Fiódor Dostoiévsky e "A Misteriosa Chama da Rainha Loana”, de Umberto Eco. Uma das desvantagens em ter um blogue onde escrevo diariamente é ter menos tempo para ler.

Que livros (5) levarias para uma praia secreta?
É uma pergunta difícil mas sem ordem de preferencia escolheria “O Processo”, de Franz Kafka porque mesmo inacabado é uma obra prima; “Crime e Castigo”, de Fiódor Dostoiévsky porque é o livro que eu conheço que melhor descreve o comportamento humano; “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera porque se Kundera não existisse tinha que ser inventado para nos descrever a simplicidade das emoções; “1984”, de George Orwell porque o livro é sempre actual e constituí um sério aviso e “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, de José Saramago porque é uma deliciosa desconstrução da fé. Se tivesse a opção de levar mais uns livros não faltaria concerteza a “Metamorfose”, “Crónica de uma Morte Anunciada”, “Se Isto é um Homem”, “O Leopardo”, “Ensaio sobre a Cegueira”, “O Triunfo dos Porcos”, “Cândido”, “Siddhartha”...

A quem vais passar o testemunho e porquê?
Vou passar a quatro “blogamigos” porque acho que ainda não responderam ao questionário e por razões diferentes. Ao Ruben do “Sítio do Ruvasa” porque tenho imensa curiosidade em descobrir as tuas recomendações. Ao Álvaro do “Cabalas” porque quero descobrir que livros tu vais encontrar que te permitam falar mal da UE (uma pequena provocação sem malícia). Ao Rafapaim do “Filosofia Barata” para te obrigar a voltar a escrever. À Fernanda do "Lazuli" pela simpatia que emanas. E a quem quiser aderir...

sábado, junho 11, 2005

449. Alguém estava à espera de resultados diferentes?

Após dois países (e mais um) terem “morto” o tratado alguém fica surpreendido que quando se pergunta se é a favor do dito documento o resultado das sondagens seja este?

Portugal:
Sim 50,8%
Não 49,2%

República Checa:
Apoiam 31,5%
Rejeitam 33,7%
Indecisos 34,8%

Dinamarca:
Sim 30,8%
Não 39,5%
Indecisos 29,7%

Suécia:
Sim 23%
Não 41%
Indecisos 36%

Alguém ainda tem dúvidas de que este exercício é puro masoquismo? Enterre-se o que já morreu, nem que seja por uma questão de sobrevivência e bom senso...

Fonte: Expresso e Margens de Erro

448. Mais um prego na credibilidade dos políticos




Eu fico preocupado quando ouço o nosso antigo Ministro das Finanças, Bagão Félix, criticar o Governador de Portugal por este ter optado por calcular o valor previsto do défice às centésimas. Eu já desconfiava que ele gostava mais de tratar os números com pouco rigor...

Adicionalmente descubro que o Conselho de Ministros de Santana Lopes já sabia que o problema orçamental estava bem mais grave do que parecia. Então resolveram votar se divulgavam ou não o número. Com excepção de três ministros (salvo erro) o discurso oficial do Governo era o de ir ao encontro dos números de Ferreira Leite.

Conclusão 1: O problema orçamental agravou-se na gestão de Durão e Santana;

Conclusão 2: O Conselho de Ministros já vota o valor do défice que vai divulgar e protege ou crucifica os políticos que os antecederam conforme os partidos a que estes pertencem.

447. Sala de Cinema: In Good Company (2)




Esta é a fase em que eu fazia um resumo do episódio anterior (neste caso do post anterior) mas já não há tempo a perder...

O título deste filme esconde um trocadilho porque mistura as duas interpretações da palavra “Companhia”. E o filme é mesmo isso, isto é, um longo conjunto de subtilezas que misturam a comédia, o romance e o drama com bastante eficácia. O filme consegue ser divertido e cruel, romântico e pragmático, leve e complexo. Este conjunto de conceitos e emoções são muito difíceis de equilibrar mas o realizador consegue contar esta história “moral” (sim, está aqui presente uma crítica ao mundo globalizado e à precaridade do trabalho) com elegância e sem melodramatismo.

No fundo o filme consegue evitar um sem número de lugares comuns que iriam transformar esta comédia inteligente num filme perfeitamente banal. Mas, quase a chegar à meta, cai noutro sem número de lugares comuns. No fim o balanço é francamente positivo até porque o trio de actores faz a diferença.

O caro leitor deve estar a pensar neste momento se era só isto que eu queria partilhar com vocês. Eu acalmo os vossos espíritos para dizer que é raro ir ver uma comédia. E que é raro gostar de ver uma. E se eu explicar o que quero dizer com isto lá se vai a subtileza...

Síntese da Opinião: Para quem não esteve atento volte ao início do post anterior, se faz favor. Repito, tenho dias...

sexta-feira, junho 10, 2005

446. Sala de Cinema: In Good Company



Realizador: Paul Weitz
Elenco: Dennis Quaid, Topher Grace, Scarlett Johansson

Confesso que raramente vou a uma sala de cinema ver uma comédia e que ainda mais raramente gosto de assistir a uma. Há comédias que eu acho deliciosas mas a grande maioria não respeita a nossa inteligência e opta por suprimir todas as subtilezas para que ninguém fique sem perceber que está lá uma piada. Mas geralmente esse é o primeiro passo para um filme perder a piada. Depois há aquele género de filmes que foram criados para fazer com que os casais discutam antes do filme e que façam as pazes logo após o visionamento do filme, leia-se, as comédias românticas.

Esta longa introdução só serviu para eu sublinhar que é muito raro assistir a uma comédia. Mas isso vocês já sabiam deste a primeira frase e, por isso, é melhor esquecerem o que já leram até agora e passar para o que interessa.

O meio de promoção mais eficaz de um filme é, sem dúvida, o “passa a palavra” porque, de repente, cria-se uma vaga de fundo defendendo a qualidade dum filme. Deve ser por isso que muitos filmes optam por apostar tudo no primeiro fim de semana, leia-se, porque obviamente não confiam na qualidade do produto que estão a vender. Mas lá estou eu a desviar-me do assunto. E era só para dizer que alguém passou-me a palavra.

De repente este post já está muito longo e como eu não gosto de maçar muito os meus leitores vou guardar a minha opinião do filme para amanhã. Curiosos?

P.S. Isto já parece uma telenovela rasca da TVI! Tenho dias...

quarta-feira, junho 08, 2005

445. O EURO e o Risco Cambial



Com a entrada do EURO nas nossas vidas também desapareceu, entre os países aderentes, o Risco Cambial. Este “palavrão” económico não representa mais que a incerteza em relação a variações futuras da taxa de câmbio. Por exemplo, se uma empresa francesa utilizava um preço de venda dum determinado produto e havia uma empresa nacional interessada em comprar esse produto era feita uma encomenda com uma data de entrega e era acordado um preço em francos. Se na data de entrega o franco tivesse sofrido uma apreciação face ao escudo a empresa nacional poderia sofrer grandes prejuízos. O inverso também é verdade, isto é, se o franco depreciasse a empresa nacional teria receitas extraordinárias. Para evitar estes “sustos” as empresas recorriam frequentemente a instituições financeiras para cobrir o risco, ou seja, funcionava como um “seguro”. Então, no fim, as empresas pagavam as taxas de conversão da moeda e, adicionalmente, os serviços de cobertura de risco às instituições financeiras. Com o EURO estas taxas e serviços deixaram de ser necessárias sobrando apenas as taxas (que já existiam) de transferência de dinheiro.

O fim do Risco Cambial nas operações comunitárias torna as operações mais eficientes mas isso não significa que as vantagens sejam claras quando olhamos para um país em particular. Países com Balanças Comerciais desequilibradas, ou seja, com mais incidência de importações que exportações tendem a ter mais dificuldades num mercado com trocas mais eficientes. Note-se que haver mais segurança e menos custos nas transacções não é sinónimo de melhoria da Balança Comercial porque se esta está inicialmente desequilibrada é natural que as importações cresçam mais depressa que as exportações num período inicial de aumento de trocas comerciais. Globalmente há vantagens mas há um enorme choque nas economias pouco competitivas. Não defendo mecanismos de compensação artificiais mas há que criar condições para que a coesão seja uma realidade porque senão os ganhos de eficiência são mal distribuídos.

O fim do Risco Cambial significa que hoje há um preço fixo e conhecido em relação a uma operação futura . Significa que as trocas comerciais são mais seguras, menos sujeitas a especulação, que há mais confiança e taxas muito (mas muito) menores. Isto tudo com menos brurocracia. O “senão” é que não é de menosprezar. As economias menos produtivas tendem a cavar mais fundo o fosso entre importações e exportações enquanto não criarem condições de competitividade. Mas como os ganhos globais são positivos (e isso é indiscutível) eu considero possível, com um esforço de coesão, que todos ganhem.

Nota: O EURO tem outras vantagens e desvantagens. Mas este post é dedicado unicamente ao Risco Cambial.

(444) Precisam dum desenho para explicar o óbvio?

(443) Ironias

Posso até concordar que é legítimo que se vote “Não” por causa do estado actual da União Europeia e não por causa do conteúdo do tratado. A ser assim acho que temos que reflectir sobre a real utilidade dos referendos com perguntas directas e específicas mas isso é uma discussão para outro dia (começo a achar que é nula, apesar de também concordar que a representatividade parlamentar também está em crise)! Acaba por ser irónico é que o “Não” represente a manutenção da União Europeia tal como está, ou seja, exactamente o que se está a chumbar segundo esta lógica! Ironias da vida...

P.S.: Aconselho a leitura das opiniões de Vital Moreira (VM) no blogue Causa Nossa sobre o conteúdo do Tratado Constitucional para exorcizar alguns demónios que andam a ser evocados para descrever o tratado (liberal, castrador das soberanias nacionais).

P.S. 2: Continuo a defender o fim dos referendos e o “enterro” deste Tratado, apesar de continuar a defender o seu conteúdo, para evitar "crises" maiores na UE.

terça-feira, junho 07, 2005

(442) Serralves em Festa



A Fundação de Serralves comemorou os seus 15 anos de existência e os 5 anos de existência do Museu em grande estilo. Foram 40 horas sem interrupção de música, dança, teatro, cinema, debates, oficinas, visitas guiadas e muitas outras actividades. Com actividades para todas as idades. E tudo gratuito. Esta foi apenas a segunda edição de "Serralves em Festa" e este ano contou com 54700 pessoas, mais 12000 que no ano transacto.

Serralves é cada vez mais um exemplo a seguir. É já o museu mais visitado de Portugal (se estiver errado que me corrijam) e consegue não ser elitista nas suas propostas culturais. A visita gratuita que promove aos Domingos é uma excelente forma de dar a conhecer o museu e os seus magníficos jardins. É uma forma inteligente de promoção.

Parabéns!

P.S. Sugiro a visita ao sítio da Fundação de Serralves para acompanhar a agenda cultural da Fundação.

(441) Eu também quero uma medalha...


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É inquietante verificar que os nossos Presidentes da República continuam a cair na tentação de condecorar com a mesma facilidade de como quem oferece rebuçados. Parece-me que esta prática só teria sentido em situações de excepção e confesso que, mesmo assim, não sou grande adepto. Faz-me sempre lembrar as monarquias que premeiam quem melhor defendeu o regime. A recente distribuição de medalhas efectuada pelo ex-ministro Paulo Portas ainda reforça mais esta sensação de prémio de fidelidade. Adicionalmente esta alvalanche de condecorações só vulgariza o acto...

De entre as inúmeras condecorações que a Presidência da República tem ao seu dispor este ano vai atribuir 59 comendas no dia 10 de Junho. Entre elas a grã-cruz da ordem de cristo (“A Ordem Militar de Cristo é concedida por destacados serviços prestados ao País no exercício das funções dos cargos que exprimam a actividade dos órgãos de soberania ou na Administração Pública, em geral, e na magistratura e diplomacia, em particular, e que mereçam ser especialmente distinguidos”).

A lista de agraciados incluí José Mourinho, Jorge Miranda, Gomes Canotilho, Catarina Furtado, Nicolau Breyner, Luis Represas, Leonor Beleza, Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira, Vera Jardim, Elisa Ferreira, José Miguel Júdice e até Nuno Brederode Santos (consultor político de Sampaio). E mais não digo!

domingo, junho 05, 2005

(440) Caça às Bruxas



Paira no ar um odor a enxofre. É que parece que voltamos aos tempos da inquisição e da “caça às bruxas”. Há uns séculos atrás as perseguições eram religiosas, hoje são um ataque violento às remunerações, independentemente do trajecto profissional e do mérito. As capas dos jornais e a abertura dos noticiários televisivos realçam a “vergonha”, a “promiscuidade” e o “despudor” de quem tem regalias ou remunerações “altas”. De repente todos descobrimos que o “monstro orçamental” levou o país à falência (nada mais errado mas há que respeitar o alarmismo que alguns consideram útil) e a consequência disso é que ninguém pode e deve escapar ileso.

As “bruxas”, neste caso, são todos aqueles que ganham dinheiro neste país como se, de repente, fosse um crime amoral conseguir uma boa remuneração em tempo de crise. Os jornais e os partidos investigam tudo desde as remunerações e reformas de políticos, aos privilégios dos polícias, aos ordenados e reformas dos juízes, e por aí fora. Se há crimes que os investiguem, se a lei não está justa que a mudem, se quem não é produtivo tem vantagem salarial sobre quem é que se mudem as regras... mas o que não pode acontecer é uma perseguição sem quartel a quem, justa ou injustamente, seguiu as regras em vigor para atingir as remunerações actuais. Ou começamos a enfrentar este sistema complexo de compensações sem demagogia ou só vamos conseguir ter um país de pessoas medíocres, porque quem tem mérito não vai estar disposta a passar por estas perseguições humilhantes na praça pública.

Eu sei que é urgente acabar com privilégios e regalias amorais mas isso só pode ser feito num ambiente não persecutório em que os critérios de justiça salarial (imune às pequenas invejas e mesquinhices nacionais) e de mérito tenham um peso decisivo. É preciso lutar contra as pequenas compensações, os regimes de excepção e as promoções automáticas mas sem demagogia, com o realismo de que uma simplificação do regime é útil para não criar efeitos de distorção cumulativa (efeitos “bola de neve”) mas que isso implica necessariamente generosas subidas nas remunerações. Teremos coragem para fazer isso sem perseguições e invejas? Duvido que, com o clima que está criado, seja possível fazer uma reforma que nos leve a bom porto...

sábado, junho 04, 2005

(439) A Fuga em Frente da “Europa”



Há três teorias que têem sido defendidas para reagir aos referendos na França e na Holanda que eu acho preocupantes.

1) A teoria de que eu também tenho que ser ouvido: Eu acho esta teoria engraçada. Apesar de já haver duas rejeições ao Tratado de Constituição há quem defenda que também devemos dar a opinião e não estarmos reféns da opinião de dois países. Concordo que a nossa opinião é tão válida como a “deles” mas alguém devia avisar-nos que aprovar uma Constituição que depois não vai entrar em funcionamento é capaz de não ter muita lógica. Ou será que estamos à espera que na França e na Holanda se vá repetindo os referendos até dar “Sim”? Ou então alteramos uns pormenores do Tratado e os que já aprovaram nada dizem e os que rejeitaram fazem novo referendo acabando todos por aprovar um texto diferente! Ou há ainda a posibilidade de fazermos vários referendos. Escuso de repetir que acho isto tudo absurdo e que só fragiliza a União! Mais vale admitir a “morte” da Constituição antes que ela mate o principal, ou seja, a própria União Europeia.

2) A teoria do adiamento do referendo: Também adoro esta teoria sugerida pelo pai dos “monstros” que andam aí à solta, Aníbal Cavaco Silva. De que serve adiar os referendos se isso mantém a incerteza quanto ao futuro e não resolve nada? Ficamos à espera de quê? Que a França e a Holanda digam que “Sim” nos parlamentos para depois voltarmos a discutir o texto? Repito que o melhor é criar um documento simples, regulador das instituições e relações entre os países para que a UE não paralise!

3) A teoria que a União Europeia morreu: Agora é moda fazer referendos em que é válido discutir tudo (quando sempre me ensinaram que os referendos eram sobre assuntos muito específicos e por isso é que as perguntas tinham que ser directas) e, pior, também é moda retirar dos referendos consequências sobre o que se perguntou e sobre o que não se perguntou. A UE só "morre" se insistirem no erro monumental de manter ad eternum a discussão duma Constituição que já "morreu". A ideia que a UE "morreu" com estes referendos é descabida. Simplesmente mantemos o modo de funcionamento actual com as adaptações ao alargamento a serem mais lentas. Relembro que os próprios adeptos do “Não” rejeitavam a “chantagem” que a UE acabava no caso do “Não” vencer.

Diria que há teorias para todos os gostos! Pena é que não tenha vontade para rir...

O “Não” em síntese neste blogue (posts desta semana sobre este tema): (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)

sexta-feira, junho 03, 2005

(438) Sala de Cinema: Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith



Realizador: George Lucas
Elenco: Ewan McGregor, Hayden Christensen e Natalie Portman

É verdade que este filme é mais “negro” e “trágico” que os dois anteriores. Sim, também é verdade que há uma interligação bem conseguida com o primeiro filme da Guerra das Estrelas. E também é verdade que quando alguém começa um texto como eu comecei já todos sabem que depois vem o “mas”...

Mas... o problema deste filme é que não consegue ultrapassar os defeitos dos dois anteriores, ao contrário do que a campanha de marketing do filme nos quer convencer. Não consigo explicar porque é que funcionaram tão bem os filmes de aventura nos anos 70 e 80 e porque é que agora parece ser impossível recuperar esse espírito. Mas a verdade é que o que parecia natural há 20 anos hoje em dia não funciona. O humor parece forçado e os diálogos sofríveis.

No fundo o que falta a esta triologia e que a última tinha para dar e vender é alma! Sim, esta nova triologia tem magníficos efeitos digitais (mas também alguns mal conseguidos) mas a acção acaba por ser confusa e desprovida daquele humor ingénuo (que estranhamente funcionava) da outra triologia. As interpretações não estão ao nível das expectativas e destaco a falta de química entre Hayden e Natalie (sem falar nos diálogos que pareciam retirados duma telenovela mexicana) e a irreconhecível interpretação de Samuel L. Jackson que não devia saber que o tom da triologia não era voluntariamente de série B. Só escapa Ewan McGregor que, mesmo assim, não faz esquecer o papel de Harrison Ford na triologia.

Esta nova triologia ainda vive do magnífico episódio V e às relações familiares (trágicas) que este filme criou na saga. Estranhamente (ou não) esse episódio não foi realizado por George Lucas...

Síntese da Opinião: Só para quem tem saudades da voz de James Earl Jones e do penico preto que Darth Vader usa.

quarta-feira, junho 01, 2005

(437) O “Não” Holandês




Não tenho muito a acrescentar. Sinto-me desiludido e triste com o destino do Tratado porque sei que tinha sido um compromisso difícil e que compilava as centenas de regras dispersas procurando, ao mesmo tempo, tornar a Europa mais flexível na hora das decisões. Quem chamava este Tratado de confuso certamente concordará que a dispersão actual de regras da União Europeia causa ainda mais confusão. Adicionalmente vamos continuar a ter o Tratado de Nice como pedra basilar do sistema de votações pós-alargamento, leia-se, é um pesadelo. Que rumo dar à Europa?

Resta-me repetir...

“Vamos matar a UE discutindo em referendo um documento já morto? Será que ninguém percebe que discutir um documento que já foi rejeitado vai fragilizar de morte a UE? Será que Durão não percebe que tem que ser pragmático e modificar o Tratado para algo simples que sirva unica e exclusivamente para fazer frente ao alargamento?”

...e insistir...

“O que escrevi neste post pretende alertar que discutir um Tratado que já está ferido de morte (ou mesmo morto) em referendo é um absurdo que vai levar a UE a uma crise ainda maior. Mais vale enterrar o defunto Tratado e criar o tal "documento simples, regulador das instituições e relações entre os países" para que a UE não paralise!”

... e rematar com...

“Eu acho que seguir em frente neste momento sem ter em conta o referendo francês vai tornar todos os referendos exercícios de perda de tempo, credibilidade e energia.”

(436) Europa: A Queda



“Parece que os franceses tencionam votar este domingo contra a “Constituição Europeia”. Pelas boas razões? Não, pelas más. Para se agarrarem a um passado de segurança e privilégio, que definitivamente acabou e que nem a “Europa”, com “Constituição” ou sem ela, consegue fazer voltar. Agora é a Europa (sem aspas) que se tem de adaptar ao mundo, não é o mundo que se tem de adaptar à Europa. Tão simples como isso. Dói? Pois dói.”
Vasco Pulido Valente, Público, 29 Maio 2005

O que eu quero destacar da opinião deste polémico jornalista não é o tema da "Constituição" até porque não concordo que as razões do “Não” sejam concentradas numa só e porque não devemos reduzir essas razões a “más” ou “boas”. O que é interessante destacar nesta opinião, do meu ponto de vista, é a paralisia que a Europa vive porque tem medo do futuro. A Europa não sabe se quer voltar "atrás" para reconquistar o Estado Social que sente a perder ou se quer integrar-se ainda mais para tentar manter o que tem. A Europa tem cada vez mais medo de perder os direitos sociais que demorou séculos a conquistar! Tem medo da palavra “liberal”, tem medo que o mundo se torne mais desumano.

Mas o que os europeus ainda não conseguem perceber é que o mundo já é global e que voltar atrás não é possível. Os europeus não percebem, ou não querem perceber, que não é possível manter o Estado Social que existe actualmente. A Europa anda não percebeu que os anos dourados acabaram porque o mundo está mais liberal que nunca! É quase trágico e irónico...

Dói? Pois dói.