Filho do 25 de Abril

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sábado, março 18, 2006

809. Sala de Cinema: Good Night, and Good Luck


David Strathairn

Realizador: George Clooney
Elenco: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels, George Clooney

Não foi fácil ver este filme – perdi-me entre o Monumental Saldanha, o Saldana Atrium e o Saldanha Residence – mas, mesmo assim e mesmo com o barulho e a vibração constante do metropolitano, achei o tempo que passei na sala de cinema a ver este filme como bem gasto.


Good Night, and Good Luck, um filme de e com George Clooney

Convém contextualizar este filme. A “caça às bruxas” – por bruxa entenda-se comunista – promovida pelo Senador Joseph McCarthy é facilmente comparável com a situação actual da América de Bush. Ver o mundo a preto e branco – opção também utilizada quanto à cor do filme – é cada vez mais alvo de revolta não só fora dos EUA como dentro do próprio país. Considerar como traidor todos aqueles que duvidam do rumo escolhido é uma subversão da democracia.

Este é o ponto de partida do filme, ou seja, descrever o passado para poder contar o presente, colocando assim tudo o que se passa numa perspectiva diferente. Só para dar um exemplo podemos encontrar um paralelo fácil entre o que aconteceu a um militar suspeito de traição e espionagem, expulso sem julgamento e em claro desrespeito pelos seus diritos civis, com o que acontece actualmente com a política de denúncias e violação da privacidade que o “Patriot Act” veio impor. Podemos também, com facilidade, encontrar um paralelo entre os atropelos que foram feitos nesta época aos direitos humanos com os atropelos actuais em Guantanamo ou Abu Ghraib.

O filme é isto, ou seja, no fundo é um aviso muito directo e simples, sem nenhum tipo de floreados, de que algo regrediu, de que algo está a correr mal, que devemos estar de novo preocupados. Esta objectividade e simplicidade são as armas mais fortes deste filme que abdica das ambiguidades para poder ter uma mensagem política mais eficaz. O tom documental do filme – onde muitas imagens são reais – ajuda, e muito, para que a saga de Edward R. Murrow (magistralmente personificado por David Strathairn) e seus colaboradores sirva de lição para que não se volte a utilizar um pretexto – neste caso o terrorismo – para cercear os direitos numa proporção bem maior do que a causa em si provoca.

Good Night, and Good Luck!

Síntese da Opinião: Um filme objectivo que abdica da ambiguidade para poder passar uma mensagem política com eficácia. Recomendo o visionamento.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

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