Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

domingo, agosto 20, 2006

895. O Professor Marcelo recomenda...

* O texto Socialismo o muerte, publicado no blogue Glória Fácil (que descobri através do destaque que teve, com mérito, no blogue Fernando Bravo), é um texto que vai no mesmo sentido do que eu escrevi esta semana mas com ainda maior acutilância;

* Ainda não tinha tido a oportunidade de elogiar o Henrique pela sua nova "casa" (Hora Absurda). A "casa" mantém o nome da anterior (Hora Absurda) mas tem melhores funcionalidades, é mais acolhedora para o leitor, é mais intuitiva. Se aliarmos a isso a qualidade da escrita e o inconformismo natural do Henrique, o resultado é um blogue sempre actual e controverso. Eu e o Henrique partilhamos muitos valores mas também sabemos manter a discussão no patamar adequado quando as nossas opiniões colidem (o que geralmente acontece ou em questões religiosas ou na perspectiva que temos da política partidária) e, apesar das nossas diferenças, o Henrique tem apoiado este blogue há muito tempo e só posso, humildemente, agradecer a preferência.

sábado, agosto 19, 2006

894. Happy Birthday, Mr. President


Bill Clinton por Everett Raymond Kinstler


"Tenho muito orgulho em ser um baby boomer. Acho que tivemos uma óptima geração. Fomos a força para a mudança e a promoção da igualdade de oportunidades, a harmonia entre as pessoas, a paz, a reconciliação e a ideia de que só podemos porsperar e avançar se estivermos unidos. Estou muito contente por ter vivido o que vivi e por ter feito parte deste momento da história"

Bill Clinton - BBC





Bill Clinton por Robert Mcneely


Bill Clinton faz hoje 60 anos e não podia deixar passar esta oportunidade de desejar, àquele que considero ter sido o melhor Presidente dos Estados Unidos da América desde John F. Kennedy, um papel decisivo no mundo nos anos que se avizinham. Numa fase em que os EUA regrediram para um conservadorismo quase primário e a segurança é o centro da política mundial não posso deixar de sentir nostalgia por uma fase em que temas como a sociedade ou o ambiente eram o centro da agenda política. Clinton teve ventos favoráveis - ao nível da economia e da segurança - mas teve o condão de utilizar essa bonança para construír uma sociedade mais liberal (no sentido norte-americano, ou seja, mais tolerante e/ou menos conservadora), para colocar o ambiente na agenda política e para valorizar o combate pela paz (apesar de algumas áreas bem cinzentas nesta área no seu mandato).

Happy Birthday, Mr. President!

sexta-feira, agosto 18, 2006

893. Casa das Histórias e Desenhos – Paula Rego

"Espero fazer um museu de histórias e desenhos que seja divertido, despretensioso, vivo, cheio de alegria e de muitas maldades também"

Paula Rego



Estou satisfeito com os anúncios - primeiro do Ministério da Cultura e agora da Câmara de Cascais - de que, respectivamente, a colecção Berardo e parte da obra de Paula Rego vão ter "casa" em Portugal. Mesmo que outras áreas da cultura em Portugal estejam moribundas, e efectivamente estão, e sem entrar em análises de carácter financeiro ou técnico das parcerias público privado, a notícia do alargamento, em quantidade e indiscutível qualidade, da rede de museus só pode ser recebida, por mim, com claro entusiasmo.

Para depois fica a minha avaliação, subjectiva, do museu projectado por Souto Moura para Cascais, Casa das Histórias e Desenhos com obras de Paula Rego, do equilíbrio das peças doadas e/ou emprestadas e da simbiose entre o espaço e as obras. Para já fica só o meu firme entendimento que recursos utilizados em - boa - cultura não são um desperdício, mas um investimento.




Bad Dog - Paula Rego - 1994 (Clique na imagem para ampliar)



Branca de Neve engole a maçã envenenada - Paula Rego - 1995 (Clique na imagem para ampliar)


Nota: Não sei se as obras aqui reproduzidas vão estar expostas no museu uma vez que não foi divulgada, ou pelo menos não tenho conhecimento que tenha sido, a lista das obras doadas/emprestadas

Tópicos Relacionados:

(204) Paula Rego em Serralves

808. O Nosso Fado

823. Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea

segunda-feira, agosto 14, 2006

892. Fidel Castro



Se tivesse a oportunidade de escolher um líder político com que pudesse "perder" um dia a trocar impressões eu ia hesitar mas, com toda a certeza, Fidel Castro ia estar numa lista muito curta de personalidades políticas que eu gostava mesmo de conhecer.

Não escondo que sinto um certo encantamento - quase juvenil - pela Revolução Cubana, pela luta a favor do direito dos povos lutarem contra a opressão, pela guerrilha sediada em Serra Maestra, pelas utopias sonhadas por Fidel e Che. Mas tal como Che, Fidel é um ícone de algo que não é, é uma imagem num boné que representa tudo menos o homem "real", é um símbolo semelhante a tantos outros que Andy Warhol eternizou e que alguém estampou numa caneca. O mundo - e em particular a história - está repleta de ícones, de símbolos, de lendas que em nada representam a realidade - e nem mesmo os factos - mas que dão ao homem esperança, ou melhor, o homem necessita destes ícones, destes símbolos, destas lendas para poder sonhar, para tentar dar um sentido ao todo. O problema é que estas utopias, quando confrontadas com a realidade, desmontam-se e revelam atrocidades que uma mente crítica não pode ignorar.



A história, ou seja, esta compilação de histórias subjectivas que vamos unindo para tentar dar um certo sentido à nossa evolução como espécie vai moldando as nossas percepções e temo que vai tratar bem Fidel Castro. Da mesma forma que, aqui e acolá, vão aparecendo admiradores de algo - o sonho liberal - que o ícone de Augusto Pinochet representa o mesmo vai acontecer a Fidel.



Eu não posso ignorar - nem quero - que Fidel Castro representa tudo o que eu abomino, representa tudo o que eu combato ferozmente. Mesmo tendo esta vontade obsessiva de trocar impressões com ele, não confundo isso com simpatia e não quero cair na "armadilha" do sectarismo em que os políticos que "encaixam" - de forma mais ou menos forçada - no nosso espectro político "têm" que merecer a nossa defesa cega. Não me interessam os números (porventura positivos) relacionados com a Saúde e nem sequer a (supostamente elevada) taxa de alfabetização porque um regime que promove perseguições e até execuções políticas só merece o meu mais profundo asco. E reforço isto sem hesitação. Sou muito claro! Fidel Castro não representa nada, nada, do que eu defendo e não abdico do que acredito por este, supostamente, defender o socialismo. Mas admito que o homem, por mais aversão que me cause, tem um mundo de histórias interessantes para contar, um sem número de pormenores (relevantes) de bastidores (de várias décadas e sobre vários conflitos) e, quem sabe, sonho e temo, ao mesmo tempo, que me faça planar sobre utopias com as suas palavras.

Resta lançar um olhar para o futuro e para uma Cuba sem Fidel (todos os indícios apontam que a era de Fidel como Presidente da República de Cuba terminou). Eu nunca fui um crítico de Fidel por causa do modelo económico que este implementou - estou farto de defender que não pode haver um só modelo económico padronizado que o conjunto de países desenvolvidos tolere - e não estamos perante nem uma economia planificada nem perante um sistema de mercado. Nem Cuba é comunista no sentido literal do termo - e como Fidel diz agora que é - nem renega o comunismo - como Fidel gritava aquando da sua visita aos EUA. O problema de Cuba, do meu ponto de vista, é estar sufocada pela corrupção, é ser uma ditadura que não permite a livre discussão de soluções, é estar sobre o manto dum embargo completamente ridículo (que só serviu para manter Fidel eternamente no poder). Por isso defendo que o futuro de Cuba deve passar pelo sistema económico que a população livremente escolher logo após haverem garantias de uma Democracia minimamente estável, Democracia essa que deve ser induzida pela própria população com o apoio - mas não a intervenção directa - da comunidade internacional. Entendo que o desenvolvimento imediato de Cuba depende, e muito, da vontade da população na transição e aparentemente não vejo razões para que esta não possa ser feita com estabilidade. O caminho perigoso seria, na minha opinião, optar por intervenções militares ou por armar guerrilhas e só apoiaria este caminho se o actual regime cubano caísse na tentação de abafar qualquer rebelião com violência. Acredito sinceramente que a transição vai acontecer em breve e de forma pacífica. Acredito também que "a história" vai matar Fidel, o homem, como faz com todas as suas personagens, e vai criar um ícone, um símbolo, uma lenda... no fundo, a história vai tratar bem Fidel, El Comandante.

domingo, agosto 13, 2006

891. A devassa da vida privada



A pergunta é simples: Como é possível que, e de uma forma progressiva, uma quantidade inacreditável de revistas que só devassam a vida privada esteja a ser viabilizada por nós, portugueses?

A Caras, a Maria, a Gente, o 24 Horas, o Crime e muitas outras revistas, jornais e semanários só se dedicam à pequena intriga, ao mexerico e à devassa - autorizada ou não - da vida privada e, mesmo assim, estão entre as publicações mais vendidas em Portugal. A "culpa" de haver cada vez mais capas sensacionalistas cujo destaque são pessoas a chorar ou desesperadas, com polémicas ou com boatos relacionados com a vida privada é, tão somente, de quem compra estas revistas (e não de quem as publica). É óbvio que há limites - legais e não só - que colocam um tecto ao sensacionalismo despudorado que invade grande parte da nossa imprensa mas é impossível colocar limites ao mau gosto e só há uma solução, concretizando, que esse tipo de reportagem deixe de interessar ao leitores mas, infelizmente, parece que não caminhamos nessa direcção.

Esta semana, em mais um golpe de puro mau gosto, a revista TV 7 Dias publica na capa uma fotografia do nosso Primeiro Ministro a colocar creme protector nas costas de um homem. Nem quero fazer suposições sobre a estratégia vil que está por detrás desta fotografia (no interior explica que é o irmão) mas, mesmo que não haja insinuações nesta fotografia e isso apenas tenha origem na minha mente torpe, eu faço mais uma pergunta: Qual é o interesse de uma fotografia em que alguém está a colocar creme protector noutra pessoa? E eu não estou a perguntar ao editor da revista mas a si, caro leitor. Dito de outra forma, porque é que este tipo de publicações cada vez vende mais? Será que a nossa vida é tão desinteressante que necessitamos de vigiar a vida alheia dos famosos e dos menos famosos?

Corro o risco de estar a ser paternalista ou moralista mas esta questão preocupa-me de tal forma que assumo esse risco. Temos direitos inscritos na Constituição que são diariamente violados - e relembro que alguns desses direitos nem podemos renunciar - e temo que haja uma banalização da devassa da vida privada ao ponto de deixar de ser uma preocupação central da sociedade. Ou será que já nem é uma preocupação, ou melhor, será que já só é uma preocupação quando nos atinge directamente?

sábado, agosto 12, 2006

890. Co Adriaanse



Co Adriaanse é um idealista. Esta característica representa o que admiro e o que me desilude nele.

Adriaanse foi o treinador certo na altura certa para estancar a rotação de jogadores que havia no plantel (que entravam e saíam a tal velocidade que de muitos já nem me lembro do nome) e para normalizar a disciplina no clube. Isto precisa ser reconhecido porque, infelizmente, já não é um dado adquirido no Futebol Clube do Porto (FCP). Mas o que me fez gostar de Adriaanse como treinador e como homem foi o seu discurso franco e a exigência que dele emanava para que os seus jogadores fizessem tudo o que estava ao alcance para proporcionarem espectáculo. Raramente esse espírito resultou em bons espectáculos de futebol (com algumas excepções) mas tudo estava orientado para o futebol como arte e não para as polémicas. Esse respeito pelo espectador como o objectivo basilar do futebol é o legado que este polémico treinador deixa.

O problema de Adriaanse é que é teimoso, deve concerteza ter um feitio difícil e, é verdade, não é um grande treinador no aspecto táctico (apesar de ser excelente na formação). Agora pode até vir um treinador mais pragmático ou mais evoluído tecnicamente mas certamente que virá porque aceita circular jogadores, porque é relaxado na disciplina, porque vai gerar mais e mais comissões. Compreendo a decisão de Pinto da Costa em não gastar 8 milhões de euros num jogador mas, pelo que julgo saber, recomenda dezenas de jogadores de valor duvidoso para continuar a política dos últimos anos de rodar jogadores a um ritmo assombroso. O que aconteceu aos incontáveis milhões recebidos pela conquista da Liga dos Campeões, pelas transferências milionárias ao Chelsea ou ao Dínamo de Moscovo, pelos negócios imobiliários à volta do Dragão? Continuo a compreender que não se compre um jogador por 8 milhões, até compreendo que Adriaanse seja indomável, mas continuo a perguntar: que raio de gestão é esta que deixa um clube que tudo alcançou e que fez receitas milionárias com a venda de jogadores neste limiar de pobreza?

Adriaanse foi uma desilusão porque eu estava à espera que, nesta fase, tivesse um pouco mais de pragmatismo e não levasse a sua quimera às últimas consequências. Mas tudo o que está a acontecer no FCP (e não é só no Porto) - má gestão, equipas sem noção de espectáculo, suspeitas de corrupção, polémicas e mais polémicas - só me deixa uma saída: desejar sangue novo na direcção do FCP. E não me estou a referir a uma equipa técnica nova...

Uma quota parte da decisão de comprar o lugar anual no estádio do Dragão este ano é da responsabilidade de Co Adriaanse. Se já estou, em parte, arrependido por ter feito essa compra também é responsabilidade de Adriaanse. Este texto não é uma homenagem mas algo que senti necessidade de escrever para deixar claro que ainda tento não me esquecer (e há treinadores que não o deixam) qual pode ser a utilidade de qualquer desporto ou espectáculo, ou seja, deve estar orientado para nós, isto é, deve dar prazer e entretenimento ao espectador. E, por isso, e só por isso, deixo o meu obrigado a Adriaanse sem deixar de avisar que a decepção também cá fica...

Tópico Relacionado: Setembro 28, 2005 579. O estilo Co Adriaanse

889. Sala de Cinema: X-Men 3, The New World, Cars

X-Men 3: The Last Stand




Sou leitor assíduo de Banda Desenhada (BD) e, apesar de actualmente ler outros géneros de BD, cresci a acompanhar o universo dos X-Men. O tema sempre teve potencial, ou seja, há sempre minorias em qualquer sociedade e o universo de mutantes liderado pelo Professor Xavier lembra as tensões sociais que deram origem às inúmeras revoltas que as minorias empreenderam para o reconhecimento da igualdade. Mas, tanto na BD como no cinema, muito raramente este tema conseguiu ser tratado de forma minimamente séria até porque, afinal, estamos na presença de homens vestidos de cabedal, com calças justas e amarelas e com capas esvoaçantes.

Eu, como leitor de BD, ainda percebo o que estava por “detrás” de algumas cenas mal conseguidas – o que não sei se é uma vantagem – mas quem não conhece o “universo mutante” da BD – e quem vai ver o filme não tem que o conhecer – sai com a sensação que não há nenhum motivo para a “ópera dramática” que assistiu. E mesmo os leitores mais assíduos e fanáticos da BD dos X-Men percebem que a melhor abordagem para um filme deste género foi o realismo fantasioso de Bryan Singer e não a fantasia megalómana de Brett Ratner. Mesmo sem deslumbrar Singer desde cedo percebeu que a única maneira desta “soap opera” mutante funcionar era manter o fantástico próximo dum ambiente familiar de realismo e o que Ratner fez foi um filme de acção frenético com personagens sem profundidade (também eram demasiadas personagens) e, no fundo, tem o erro capital de deixar que o filme seja levado demasiado a sério quando, na realidade, o melodrama megalómano era dispensável. A gestão das pausas também é importante para dar profundidade emocional a um filme e este X-Men 3 parece ter sido feito à pressa e só com um objectivo, isto é, facturar uns dólares.

The New World






É muito difícil explicar o universo de Terrence Malick. Os seus filmes são geralmente filosóficos, intermináveis, contemplativos mas têm uma magia que não consigo descrever e muito menos transformar em palavras. Nos seus filmes é a natureza humana que está a ser explorada (e julgada), são os pormenores que revelam o que é importante e tudo o que não tenha a ver com a nossa essência mais natural e primitiva é ignorada ou até demonizada. Neste filme o "Novo Mundo" não é o que enche o coração humano de esperança mas sim o que amordaça os seus instintos. Parece que Malick quer obrigar quem assiste aos seus filmes a contemplar a vida e a perceber as suas reais necessidades antes que tudo passe sem que nada de realmente importante fique... Mas isso é subjectivo, não é?

Cars




Este filme de animação da Pixar é eficaz e pode ser visto por várias faixas etárias, aliás, fiquei com a sensação que os adultos presentes na sessão gostaram mais do filme do que as crianças (o horário e a versão - original - ajudam a explicar isso). O filme é nostálgico principalmente pela América profunda que já não existe (mais autêntica) e o choque que essa América tem com a nova América do show business é descrito pelo conflito entre uma velha geração (representada pelo carro com a voz de Paul Newman) e a nova (Owen Wilson a dar a voz a Lightning McQueen). Numa palavra, agradável...

quarta-feira, agosto 09, 2006

888. Dúvida Existencial do dia

Hélder Postiga vai voltar ao plantel do FCP porque Adriaanse saíu ou Adriaanse vai embora porque Postiga vai regressar ao plantel?