Filho do 25 de Abril

A montanha pariu um rato - A coerência colocada à prova - A execução de Saddam Hussein - O Nosso Fado - "Dois perigos ameaçam incessantemente o mundo: a desordem e a ordem" Paul Valéry, "Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa, salvar a humanidade", Almada Negreiros - "A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança...", Frida Kahlo

quinta-feira, março 30, 2006

820. Desertificação versus Eficiência



O encerramento de escolas e maternidades no interior choca qualquer ser humano! É a prova - como se fosse preciso uma - que o país é desigual. O interior do país está numa espécie de lenta agonia num ciclo vicioso de abandono, desinvestimento e desalento.

O anúncio do encerramento destas infraestruturas básicas foi, então, um choque. São inegáveis os ganhos de eficiência nos gastos do Estado com estas medidas mas o aparente agravamento do ciclo vicioso de desertificação parecia que, numa primeira análise, devia sobrepor-se às "meras" questões financeiras.

Mas há um dado que alterou a minha percepção do assunto. Comecei a pensar como será ter aulas numa escola com mais quatro colegas. Será possível, nessas condições, ter acesso a um ensino aceitável e que ofereça o mesmo grau de preparação que uma outra escola com centenas de alunos? E que tipo de partilha de experiências sociais e emotivas pode ter uma criança que só convive com mais quatro (que nem sei se são do mesmo ano)? O mesmo aplica-se às maternidades, ou seja, será possível ter os meios e a experiência necessários para lidar com os problemas complexos do nascimento numa maternidade sem massa crítica de nascimentos? São respostas que deixo a técnicos mas, provavelmente, preferia que o meu filho fosse estudar mais longe, mesmo que haja um transtorno diário, mas que tivesse melhores oportunidades de sucesso. O mesmo raciocínio aplica-se às maternidades. É dramático mas, provavelmente, é a decisão mais lógica a tomar, ou seja, é incontornável o fecho destas infraestruturas.

Para finalizar faço uma pergunta da mesma classe daquela que indaga se foi a galinha ou o ovo que nasceu primeiro, ou seja, será que é o desinvestimento que leva à desertificação ou será a desertificação a causa do desinvestimento?

Foto retirada desta ligação: http://galerias.escritacomluz.com/jbarata/album05/aaa

quarta-feira, março 29, 2006

819. Escravos do Consumo



Cada homem é escravo do seu próprio consumo. Qual é a lógica de viver assim? Eu compreendo termos que ser escravos do tempo e que os afectos façam de nós escravos mas, ideologias políticas à parte, fará sentido sermos escravos de objectos inanimados?

É fácil reconhecer que o consumidor é o novo rei do mundo. Cada vez mais a hierarquia social do homem é medida através da quantidade de bens que este consome e que pode vir a consumir e também é verdade que – e a isso chamamos desenvolvimento – cada vez mais o consumidor tem produtos ou serviços de melhor qualidade a um preço mais acessível. E, claro, podemos sempre hipotecar o futuro para consumir mais hoje. Vivemos a era de ouro para o materialista!

O que é irónico é que o consumidor também é, quase sempre, um trabalhador. Assim o homem não só trabalha cada vez mais para poder consumir em maior quantidade e qualidade como compete cada vez mais para poder “oferecer” a terceiros produtos ou serviços mais baratos e com melhor qualidade. Ainda mais irónico é que o homem não só é escravo do consumo como trabalha para criar necessidades de consumo em terceiros pois o seu consumo depende da quantidade de necessidades - claro está de consumo - que consegue criar nos outros.

Mas afinal eu sou escravo de quê? É preciso tentar identificar quem me escraviza. Nada como olhar à minha volta e observar quem é que manda em mim: uns chinelos com o formato do pé, uma camisa com uns quadrados vermelhos, um móvel com um design diferente, uma cadeira que roda, uma capa para CD colorida, um objecto que me permite mudar de canal sem ter que sair do sítio, e vou ficar por aqui. Mas não pensem que quem manda em mim tem uma vida – neste caso uma não vida – fácil uma vez que o consumidor tem um direito especial na classe dos escravos, ou seja, pode escolher por quem – ou por que objecto – está sujeito. Deste modo o consumo é cada vez mais efémero e trabalhamos para constantemente substituir o que já temos. Que doce ilusão!

Qual será a real utilidade que eu retiro de possuir uma gravata de seda – aliás, qual é a utilidade duma gravata? – ou de possuir uma caneta que tem um banho de ouro? Deve ter alguma utilidade uma vez que trabalho para as poder ter.

Fico a pensar porque é que eu trabalho – num mundo que valoriza mais o consumo do que o trabalho e que o trabalho apenas existe para poder consumir – para ter um copo que tem uma tulipa gravada? Fico a pensar, perplexo, porque é que eu – e já não tenho a presunção de dizer você – após satisfazer as minhas necessidades básicas (alimentação necessária à sobrevivência, acesso a saúde, direito à educação, à justiça e à segurança) trabalho para poder possuir um despertador que indica a hora no tecto em plena noite.

Quase todo o nosso consumo torna-se, eventualmente, lixo. Seremos, no fundo, meros produtores de lixo?

domingo, março 26, 2006

818. Tempo de Impunidade


Tony Blair, José María Aznar, George W.Bush e Durão Barroso na Cimeira dos Açores

Observo com estupefacção a singeleza com que certas declarações vêm a público. Há poucos dias - no 3º aniversário da guerra ao Iraque - Durão Barroso proferiu as seguintes declarações no programa "Le Grand Jury" a justificar o seu apoio – e por arrasto o de Portugal – aos EUA para a intervenção militar no Iraque:


"Tínhamos documentos que nos foram dados. Foi com base nessas informações que tomámos aquela decisão"

"A decisão que tomei, e que muitos governos tomaram, foi baseada em informações que tínhamos recebido e que, depois, não foram confirmadas: que havia armas de destruição maciça"

[Há três anos, Bush, Blair e Aznar comprometeram-se a] "aprovar uma administração apropriada para o período do pós-conflito no Iraque", [assegurando que] "toda a presença militar" [seria] "temporária" [e destinada a]
"encorajar a segurança e a supressão das armas de destruição maciça"


Durão Barroso pode ter muitos defeitos mas não é ingénuo e sabe que só disse o que disse porque vivemos tempos de impunidade global. O que é inaceitável é que se diga que as informações não foram confirmadas e que agora vamos todos para casa porque o assunto está encerrado. Não pode ser assim, não posso aceitar isso! Das duas uma, ou Durão Barroso cometeu um sério erro de avaliação perante os documentos que possuía e deve, por isso, tirar as devidas ilações na sua carreira política ou recebeu informação falsa e, por isso, deve exigir que quem o fez explique cabalmente o que aconteceu. Em que ficamos? Eu não estou a exagerar, simplesmente estou farto que tudo seja inconsequente, ainda mais em questões que não são meras decisões económicas como alterar ou não o escalão do IRS mas sim decisões com forte correlação directa entre a vida ou a morte de milhares de pessoas.

Houve uma intervenção militar num país baseada em informações falsas, na manipulação de opiniões públicas e com justificações infundadas (não só a questão das armas mas a ligação de Saddam com a Al Qaeda) e o resultado óbvio desta metodologia foi acentuar a desconfiança das populações em relação aos seus representantes, foi enfraquecer a luta contra o terrorismo, sem falar de todas as outras consequências naturais de uma guerra. E, no fim, basta dizer que as informações não foram confirmadas e está tudo resolvido? Não era tudo muito mais transparente se, simplesmente, tivessem dito que esta guerra não envolvia a guerra ao terrorismo nem era um acto de legítima defesa mas que era feita para defender os direitos humanos de um povo ou, numa lisura de carácter, que era uma guerra essencial para o controlo económico dum bem precioso?

817. Sonhar, por Laerte


Sonhar, por Laerte

sexta-feira, março 24, 2006

816. É o capitalismo, estúpido!



O artigo de Miguel Sousa Tavares (MST) no Expresso do último fim de semana - que só agora tenho oportunidade de comentar - merece ser lido e alvo de reflexão. O enquadramento é simples, concretizando, o que MST tenta transmitir é que o clima de euforia provocado pelas OPA e reflectido na Bolsa de Valores tem resultados muito incertos para a nossa economia. Partilho algumas das conclusões apesar de haver várias nuances e vou divagar sobre o tema. Entendam divagar duma forma literal porque vou afastar-me, de forma despreocupada e até caótica, do tema do artigo.

"Vejamos: se, depois de sucessivas fusões e aquisições, só restam praticamente três bancos privados portugueses, não é mau para a concorrência e para os consumidores que um deles engula outro? Com mais de meio milhão de desempregados, não é pior que as anunciadas OPA resultem também em já anunciados despedimentos? Quando se quer impor o aumento da idade de reforma, é saudável que se anunciem, como resultante das OPA, reformas antecipadas, chamadas tecnicamente de «aproveitamento de sinergias»?"
Miguel Sousa Tavares


Concordo que, teoricamente, o Estado deve deixar a actividade económica para os privados e que não deve limitar o funcionamento do mercado mas, também teoricamente, ainda ninguém conseguiu convencer-me que o mercado apresenta as melhores soluções para a sociedade como um todo. Veja-se a OPA do BCP ao BPI: será que o aumento da eficiência, as economias de escala e a sinergia compensam, para o consumidor, a diminuição da concorrência? Há aqui um dilema, ou seja, o Estado ao intervir no mercado impede este de funcionar de forma adequada - as más empresas continuam a operar, os preços não são óptimos - mas, se deixar o mercado agir de forma natural arrisca-se a que a concentração aumente até, teoricamente, um limite que prejudica os consumidores. Por tudo isto não sou "purista" na defesa duma ideologia... considero o contexto a chave para a resolução dos problemas, ou seja, não acredito em regras únicas para cada situação. Neste caso em concreto não vejo razões para euforias nem para lamentos... pede-se é que o Estado tenha bem definido qual a estratégia a prazo que quer para o sector da banca. Duvido que exista uma estratégia para o sector, aliás, duvido que qualquer sector em Portugal seja alvo duma regulação coerente e pensada.

Uma das justificações mais em voga para esta onda de concentrações - fenómeno que não é exclusivo de Portugal, é antes uma tendência mundial - é a de que as empresas precisam de massa crítica para concorrer num mundo globalizado. A teoria seria engraçada se a concorrência fosse de facto global, ou seja, que cada país tivesse dezenas de grandes bancos internacionais a concorrerem entre si mas, na realidade, esta massa crítica pouco tem feito para internacionalizar a banca, pelo menos a portuguesa. Aliás é difícil de compreender como a nossa banca - uma das melhores do mundo a nível de serviços como o ATM ou os cartões - não consegue internacionalizar-se e é tão vulnerável à entrada de competidores estrangeiros. Essa entrada - de bancos estrangeiros - até seria útil se não fosse feita à custa da aquisição de bancos portugueses o que, na prática, pouco ajuda a promover a concorrência.

Isto levanta mais um problema, ou seja, se a Espanha é tão proteccionista quanto aos seus bancos nós não devíamos fazer o mesmo em relação aos nossos? Isto de sermos liberais porque está na moda sem termos particular atenção ao contexto parece-me uma péssima ideia.

"E os lucros dos bancos, santo Deus?! (...) E como podem pagar em média 10% de IRC sobre os lucros - graças ao «off-shore» da Madeira, à «consolidação fiscal» e a uma série de bonificações e isenções - enquanto os seus clientes pagam até 42% de IRS e o porteiro do banco alguns 20%?"
Miguel Sousa Tavares


Mais um dilema, ou seja, neste mundo globalizado - relembro que sou a favor da Globalização, mas duma que seja regulada - se o país obriga as empresas a contribuirem num valor justo para a sociedade estas ou saem do país ou tornam-se pouco competitivas. O dumping fiscal e, pior, o medo que as empresas nacionais não ganhem dimensão competitiva (usou-se em tempo a expressão "campeões nacionais") está a destruir o papel redistributivo dos Estados. Hoje em dia assiste-se, nos sectores mais competitivos a nível global, a uma redistribuição, eu diria, em sentido oposto ao que é natural, ou seja, quem recebe pouco paga uma certa percentagem e os sectores mais abertos à concorrência global paga uma percentagem bem menor. Num mundo em que algumas empresas têm mais lucros que os PIB de alguns países urge repensar a forma de organização das sociedades.

A banca defende-se com o argumento de que, mesmo com uma taxa reduzida de imposto, paga mais, em média, que noutros sectores de actividade onde a fuga é gigantesca. O argumento do mal menor ou de que há situações ainda piores logo resolver esta ou aquela não é prioridade é algo que eu sempre abominei.

Em conclusão eu diria que não há motivo - concordo com MST - para euforia. Não há, também, motivo para pessimismo exagerado. O que é necessário, e com urgência, é repensar o modelo global - e por arrasto nacional - de desenvolvimento porque este está a ficar esgotado. É preciso, adicionalmente, repensar o papel do Estado sem esquecer que, com ou sem Estado, não está unicamente no mercado a solução para os nossos problemas.

domingo, março 19, 2006

815. O Bloco Central e Cavaco Silva




Um dos maiores problemas políticos em Portugal é, em linguagem bem popular, a merda ser sempre a mesma e só mudarem as moscas. Neste país, infelizmente, esta frase faz algum sentido uma vez que a alternância democrática faz-se entre dois partidos – o chamado Bloco Central – que sem serem iguais são a mesma face da mesma moeda. Há razões históricas para que o PSD e o PS sejam partidos ideologicamente muito semelhantes – aversão no pós 25 de Abril a políticas de direita, hesitações ideológicas do PSD, consensos sobre políticas europeias – mas esta alternância entre partidos diferentes mas iguais já tem o odor fedegoso das águas estagnadas.

Nos últimos 30 anos a alternância entre PSD e PS, com a bengala ocasional do CDS, não fomentou qualquer tipo de ruptura e, mesmo assim, não se pode dizer que tenha havido uma estabilidade duradoura nos Governos. Em Portugal a instabilidade nasce não nas questões essenciais e/ou ideológicas mas sim da pequena intriga ou da táctica conjuntural. Passemos às ilustrações: ninguém duvida que o partido democrata e o republicano nos EUA são partidos com personalidade e políticas próprias; também é consensual que o partido trabalhista tem políticas bem demarcadas das do partido conservador no Reino Unido e nem preciso acrescentar, por força das evidências, que, na Espanha, o partido socialista rompeu com as políticas que o partido popular implementou. Parece um contra-senso mas não é, ou seja, nos países onde a ruptura de políticas é mais evidente houve uma maior estabilidade nos governos do que a que há em Portugal (onde a política e os políticos entram numa espiral de descredibilização por não conseguirem ser alternativa uns dos outros). É simples apercebermo-nos que em Portugal tenta-se alcançar a estabilidade através dos unanimismos. Actualmente esta situação é visível no PS e no PSD onde o primeiro aplica as medidas que criticou o segundo de implementar e o segundo critica as medidas que são iguais às que aplicou no passado recente, e no limite, há uma unanimidade na essência da governação e a guerrilha só acontece nas questões sem substância de forma a manter um status quo pútrido.

Nesta equação entra agora Cavaco Silva! O nosso recém empossado Presidente da República é o autor de frases lapidares como “duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar”, “consensos alargados” e “cooperação estratégica”. Num país incapaz de fazer rupturas com o passado – parece que casamos com o ontem e que abraçar o amanhã é uma traição – este tipo de discurso é completamente desadequado. Se Portugal é um país adiado, se está atolado num pântano ideológico onde tudo tem o mesmo cheiro, se os seus cidadãos (sim, nós, eu e tu, caro leitor) agarram-se ao que está a apodrecer em vez de darem murros na mesa, repito, se tudo isto é verdade, então porque razão precisamos de suprimir a diversidade em busca de mais e mais consensos, cooperações entre visões que se querem diferentes e concordâncias sem sentido quando o Bloco Central já implementa constantemente as mesmas políticas e finge não o fazer?

Desejo a Cavaco Silva um trabalho profícuo mas, tantas vezes, lamento que o meu país esteja entregue a homens, sérios é certo, sem brilho ou noção de risco, agarrados a procedimentos que só visam que o futuro seja o mais parecido possível com o passado. O nosso recém empossado Presidente da República na recém inaugurada mesa austera de trabalho teve a sua primeira - e extensa - reunião de trabalho com José Sócrates e eu aproveito para lançar uma farpa, ou seja, para que é que são precisas reuniões quando duas pessoas sérias com a mesma informação têm de concordar? Só se for para verificar se têm a mesma informação...

E que tal começar a assumir e valorizar a diferença, e que tal correr riscos políticos, e que tal saber quando devemos procurar os consensos e quando devemos fazer rupturas? E, acima de tudo, e que tal abandonar estas mensagens políticas que tresandam a mofo?

Nota Final: Só volto a colocar textos no próximo fim de semana. Mantém-se a moderação de comentários. Até já.

814. Sala de Cinema: Coisa Ruim


Coisa Ruim, um filme de Tiago Guedes e Frederico Serra

Realizador: Tiago Guedes e Frederico Serra
Elenco: Adriano Luz, Manuela Couto, Sara Carinhas, Afonso Pimentel, João Santos, José Pinto, João Pedro Vaz, Gonçalo Waddington, Miguel Borges, Maria d’Aires

“Coisa Ruim não pretende ser um filme para provocar sustos, mas para abrir os olhos ao medo.”

Entre o cinema comercial e o cinema de autor o melhor que podemos esperar do cinema português, nesta fase, são filmes como Coisa Ruim. Sem ter a qualidade dum Noite Escura nem a projecção comercial de um Crime do Padre Amaro, Coisa Ruim é um filme que faz lembrar o tipo de cinema que o nosso país vizinho tem-se especializado. A Espanha tem construído uma indústria de cinema em grande parte baseada neste misto entre cinema comercial e cinema com qualidade dentro deste mesmo género de cinema, ou seja, o de terror e o de suspense. A marca de autor nasce, em grande medida, do toque de Rodrigo Guedes de Carvalho (argumento) que “bebe” a sua inspiração – de forma muito desassombrada – de filmes como The Village e que dá, à narrativa, um toque intelectual proveniente dum estilo que provém da sua profissão de jornalista, sendo mais preciso, há uma investigação (que faz lembrar o jornalismo de investigação) científica e dos costumes atrás de cada diálogo.


Coisa Ruim, Afonso Pimentel

Coisa Ruim retrata uma família oriunda de Lisboa que resolve ir morar para uma pequena aldeia perdida em nenhures no interior de Portugal. É engraçado que sendo este filme uma visão do homem urbano do mundo rural que este último – o mundo rural - seja alvo de tanta desconfiança e diria até medo por parte de primeiro – do homem urbano – o que não deixa de ter lógica, ou seja, concretizando, se perguntar o que é que esta geração sabe do que se passa nos confins de Portugal a resposta é única, isto é, pouco ou nada e do que se desconhece tem-se medo. A crença, a superstição, a sugestão, a lenda, o folclore fazem parte desse Portugal que tem vindo a desaparecer mas quando o homem dito contemporâneo, citadino e céptico por natureza, entra nesse mundo é natural que o racionalismo que o acompanha seja posto à prova.

O filme tem um ritmo lento onde o suspense e a tensão estão em constante crescendo e, quase até ao fim, nunca sabemos se estamos a lidar com o sobrenatural ou com a pura sugestão. E é nesse ambiente de tensão que uma família que não sabe comunicar – o que é bastante representativo das famílias actuais – é posta à prova e os seus segredos inconfessáveis vêem à tona. Li, no sítio oficial do filme, que há sítios onde a culpa e a morte não são indiferentes e que a culpa atravessa gerações e rendo-me a essa evidência.

Há, neste filme, cenas de algum interesse, algumas boas surpresas ao nível de interpretação (há uma cena em que Afonso Pimentel contracena com Sara Carinhas que a sua mudança de registo está muito boa e destaco também a excelente interpretação de José Pinto como padre Vicente), uma boa gestão do suspense e da tensão, alguns diálogos profícuos que racionalizam a crença através da ciência mas também há, na minha opinião, uma má gestão da fase final do filme (um problema recorrente dos filmes que jogam em dois campos, o do real e o do fantástico) e algumas interpretações medianas. Adicionalmente o filme nunca deixa de ser uma perspectiva que vem de fora, ou seja, não conhecemos a aldeia vista pela aldeia mas a visão que a cidade tem da aldeia e, por isso, todas as personagens parecem ter vindo da cidade (veja-se as personagens do Padre Cruz e dos dois amigos da personagem interpretada por Adriano Luz, entre outros), mesmo quando são naturais da aldeia.

Síntese da Opinião: Um filme que balança entre o cinema comercial e o cinema de autor! É um dos caminhos possíveis para que o cinema português comece a ganhar uma envergadura mais consistente e regular.

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sábado, março 18, 2006

813. Sala de Cinema: Tsotsi


Tsotsi

Realizador: Gavin Hood
Elenco: Presley Chweneyagae, Mothusi Magano, Terry Pheto, Percy Matsemela

Tsotsi significa, localmente, ou seja, na África do Sul, bandido, rufia, gangster. A personagem principal deste filme tem essa alcunha como se para defini-lo bastasse isso. Mas se há algo que este filme ensina é que cada pessoa, por mais insignificante que possa parecer, tem uma história.


Tsotsi, de Gavin Hood, com Presley Chweneyagae

O filme começa por desvalorizar a vida, ou melhor, não é bem isso, talvez seja mais correcto dizer que mostra como a vida, em certos locais do mundo, é efémera e precária. As pessoas nascem e amontoam-se em cidades de lata sem perspectiva de um futuro melhor, sem esperança nem sonhos. Mesmo ao lado, nas zonas ricas, a vida parece ameaçada – indirectamente também é precária – pelos tsotsi’s que crescem em monte naqueles limbos de pobreza. Lembro-me de, em tempos, António Guterres ter dito que se não tomamos conta dos pobres estes tomam conta de nós, ou seja, não podemos ignorar o problema porque ele – o problema - vem sempre ter connosco.

Quando os mundos colidem – entre os que ostentam conforto e os que nada têm – surge a violência desmesurada. Até que um dia o resultado de uma dessas colisões leva a que um bebé seja transportado de um mundo para outro. É aqui que o filme explora um tema deveras interessante, ou seja, ninguém escolhe as suas origens mas estas vão definir a nossa vida. A forma comovente como todos estes temas são desenvolvidos fazem deste filme um murro no estômago. O mundo é de tal forma desequilibrado que as origens definem, à partida, se vamos pertencer àquele grupo que vai, aparentemente, viver uma existência aparentemente profícua, com acesso ao melhor que a sociedade tem para oferecer ou se vamos pertencer ao grupo daqueles que tentam meramente sobreviver.

O filme, porém, tem uma mensagem importante. Ricos ou pobres, aleijados ou saudáveis, bem ou mal vestidos, cada vida tem valor e, mais importante, tem uma história. E independentemente da nossa origem o mais importante é sermos... decentes!

Síntese da Opinião: Uma perspectiva comovente do choque entre pessoas que vivem em espaços contíguos, ou seja, entre uma área pobre habitada por um milhão de pessoas a viver em casas de lata e uma área imponente constituída por edifícios financeiros e moradias de luxo em Joanesburgo. Um murro no estômago!

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812. Comentários finais aos Óscar 2006



Agora que já tive a oportunidade de visionar todos os filmes principais em competição na edição deste ano do Óscar vou lançar umas notas adicionais:

- Confesso que, perante os cinco filmes nomeados para melhor filme, não vejo nenhuma obra prima, o que torna a escolha difícil. Munich é, na minha opinião, o mais fraco dos cinco filmes nomeados apesar de ter alguns pontos a seu favor (reconstrução da época, fotografia). Capote é um bom filme mas nunca consegue ser maior que a interpretação que suporta. Brokeback Mountain é um filme em que a excelente realização de Ang Lee e a magnífica interpretação de Heath Ledger não me parecem suficientes para colmatar algumas insuficiências que o filme tem. Good Night, and Good Luck é um filme minimalista, muito linear, sem ambiguidades, feito para passar uma mensagem política. É eficaz no seu objectivo mas analisado apenas como um objecto de arte (deste caso da sétima) fica aquém de ser excelente. Crash tem inúmeros problemas na estrutura do seu argumento, ou seja, na dimensionalidade das suas personagens e na construção das situações. Apesar de ser um filme apelativo na mensagem e na imagem não deslumbro características especiais que o façam merecer o Óscar. Os melhores filmes do ano, na minha opinião, não estão entre os nomeados;

- Considero que o Óscar de melhor realizador foi bem entregue a Ang Lee. É um prémio que já chega atrasado e que vem premiar uma excelente gestão de sentimentos, personagens e espaços em Brokeback Mountain;

- Falta-me ver A History of Violence mas concordo que o argumento de Brokeback Moutain é o melhor dos quatro filmes que estavam nomeados para Melhor Argumento Adaptado. Já Paul Haggis (Crash) vencer o Óscar de Melhor Argumento Original não tem a minha concordância já que achei o argumento de Syriana ou Match Point muito melhores.

Ver ainda: 804. Óscar 2006

811. Complemento ao filme Crash

Como nota adicional ao filme Crash vou aproveitar alguns dos temas que o filme lança para, de forma muito superficial, tecer uns comentários:


Controlo de armas

Nunca percebi porque é que fora da esfera militar e das forças de segurança é permitido que hajam armas para defesa pessoal. Estas raramente protegem e, na maioria dos casos, vão parar às mãos erradas e/ou têm uma utilização nociva para a sociedade.


Sistema de saúde e seguros diversos

A limitação de cuidados de saúde básicos pela situação financeira do utente é inadmíssivel e a taxa de cobertura efectiva dos seguros é, no mínimo, amoral. Construir assim uma sociedade em que o que consideramos básico para a dignidade humana está sujeito a critérios de lucro e eficiência é, só por si, potenciador de situações desumanas.


Racismo e Xenofobia

Sempre pensei que quanto mais as sociedades são multirraciais e/ou constituídas por grupos de várias nacionalidades mais estas – as sociedades – tendiam para um aumento da tolerância e do respeito pela diferença mas, hoje em dia, não estou certo disso.

810. Sala de Cinema: Crash


Crash, de Paul Haggis

Realizador: Paul Haggis
Elenco: Don Cheadle, Matt Dillon, Ryan Phillippe, Sandra Bullock, Brendan Fraser, Terrence Dashon Howard

Este Crash não tem nada a ver com o outro Crash, o do David Cronenberg que envolvia acidentes automóveis, desejo, sexo e é melhor ficar por aqui. Neste caso Crash refere-se ao choque entre pessoas, à colisão da vida de várias pessoas integradas na mesma sociedade.


Crash, de Paul Haggis

Estarão as sociedades doentes? Será que perdemos o nosso rumo? Será que alguma vez tivemos um rumo? Crash descreve, de forma extrema, a vida dum conjunto de pessoas mais ou menos representativa dos problemas mais graves que existem na cidade de Los Angeles (as questões que o filme levanta não são exclusivas da cidade). Este conjunto heterogéneo de pessoas interage directa ou indirectamente de forma consequente – o que não é propriamente uma novidade no mundo do cinema – e cada uma delas parece personificar um problema relevante da sociedade – como se fossem uma amostra representativa da população. Ao mesmo tempo que há personagens bem estruturadas também há, infelizmente, personagens que são meros clichés ou matrizes estereotipadas dessa amostra que referi anteriormente. O poder da imagem que retrata a sociedade a ferro e fogo, suas tensões e angústias é, assim, minimizado por haver situações forçadas, humor fora de contexto e personagens caricaturais. É pena...

Os temas levantados por este filme são múltiplos e, apesar de não ser uma boa política dispersar a atenção do telespectador, percebe-se que a intenção de Paul Haggis é mostrar que há um fio condutor nesta teia de problemas, ou seja, que a doença que afectou a nossa sociedade alastra-se a passos largos, concretizando, que perdemos a nossa humanidade.

Antes de continuarmos a caminhar, cegos, surdos e mudos, em direcção a sociedades que se auto organizam conforme critérios que ninguém sabe se são úteis para a nossa evolução como seres humanos acho que devíamos repensar qual é o verdadeiro papel duma sociedade. Pelo menos o filme tem o mérito de obrigar a esta reflexão.

Síntese da Opinião: Crash levanta muitas questões de forma interessante e intensa mas muitas personagens nunca conseguem ser tridimensionais, ou seja, nunca deixam de ser um conjunto de atributos estereotipados. Mesmo assim, um filme acima da média.

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809. Sala de Cinema: Good Night, and Good Luck


David Strathairn

Realizador: George Clooney
Elenco: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels, George Clooney

Não foi fácil ver este filme – perdi-me entre o Monumental Saldanha, o Saldana Atrium e o Saldanha Residence – mas, mesmo assim e mesmo com o barulho e a vibração constante do metropolitano, achei o tempo que passei na sala de cinema a ver este filme como bem gasto.


Good Night, and Good Luck, um filme de e com George Clooney

Convém contextualizar este filme. A “caça às bruxas” – por bruxa entenda-se comunista – promovida pelo Senador Joseph McCarthy é facilmente comparável com a situação actual da América de Bush. Ver o mundo a preto e branco – opção também utilizada quanto à cor do filme – é cada vez mais alvo de revolta não só fora dos EUA como dentro do próprio país. Considerar como traidor todos aqueles que duvidam do rumo escolhido é uma subversão da democracia.

Este é o ponto de partida do filme, ou seja, descrever o passado para poder contar o presente, colocando assim tudo o que se passa numa perspectiva diferente. Só para dar um exemplo podemos encontrar um paralelo fácil entre o que aconteceu a um militar suspeito de traição e espionagem, expulso sem julgamento e em claro desrespeito pelos seus diritos civis, com o que acontece actualmente com a política de denúncias e violação da privacidade que o “Patriot Act” veio impor. Podemos também, com facilidade, encontrar um paralelo entre os atropelos que foram feitos nesta época aos direitos humanos com os atropelos actuais em Guantanamo ou Abu Ghraib.

O filme é isto, ou seja, no fundo é um aviso muito directo e simples, sem nenhum tipo de floreados, de que algo regrediu, de que algo está a correr mal, que devemos estar de novo preocupados. Esta objectividade e simplicidade são as armas mais fortes deste filme que abdica das ambiguidades para poder ter uma mensagem política mais eficaz. O tom documental do filme – onde muitas imagens são reais – ajuda, e muito, para que a saga de Edward R. Murrow (magistralmente personificado por David Strathairn) e seus colaboradores sirva de lição para que não se volte a utilizar um pretexto – neste caso o terrorismo – para cercear os direitos numa proporção bem maior do que a causa em si provoca.

Good Night, and Good Luck!

Síntese da Opinião: Um filme objectivo que abdica da ambiguidade para poder passar uma mensagem política com eficácia. Recomendo o visionamento.

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sábado, março 11, 2006

808. O Nosso Fado


Jorge Sampaio - Paula Rego

Esta pintura, encomendada por Jorge Sampaio a Paula Rego, é curiosa. Não vou discutir a sua beleza como obra de arte – eu sou um apreciador da pintura de Paula Rego – mas sim a imagem que Jorge Sampaio vai deixar e que este quadro ajuda a compreender. Se eu fosse um pintor e um político como Jorge Sampaio viesse ter comigo e encomendasse uma pintura que retratasse o seu mandato eu ia ter um dilema. Não podia mostrar um Presidente muito enérgico, decisivo ou até influente porque ia soar a falso. Provavelmente optava por uma pintura parecida a esta. Não sei se Paula Rego voluntariamente pintou Sampaio como um homem só, com cara de rezingão em relação ao que se passa à volta, curvado pela impotência da sua actuação... mas é só isso que eu consigo ver ao contemplar esta pintura.

A actuação de Jorge Sampaio foi tão discreta que só uma Presidência Aberta promovida por Cavaco Silva contra a lamúria (para manter a tradição) pode ajudar a fazer esquecer o desastre que é o balanço do seu mandato. Não vou voltar a dissecar o caso Barrancos, a roda livre com que o país andou no segundo mandato de Guterres, a má gestão da saída de Durão Barroso, a confusão com que se tornou a dissolução da Assembleia aquando da saída de Santana Lopes, a sensação de que o Procurador Geral da República é impune pela defesa duma estabilidade podre, a sensação de que o Presidente nunca foi ouvido ou tido em consideração nos inúmeros alertas que lançou e, como dizia, não vou voltar a dissecar estes casos mas não posso deixar de voltar a enumerá-los.

Tenho pena, mas muita pena, que os mandatos de Sampaio tenham sido, para mim, uma completa desilusão. É que eu tenho a convicção que Jorge Sampaio é um homem sério, incorruptível, humano. Simplesmente nunca soube compreender que a estabilidade não é um valor em si mesmo e que a retórica só é útil quando é consequente. Um Presidente não deve substituír-se ao Governo mas deve ser influente de forma a dinamizar o executivo e a sociedade para a criação de consensos e rupturas que permitam um desenvolvimento sustentado do país. Apeteceu-me, inúmeras vezes, chegar à beira do nosso agora ex-Presidente e, ao abaná-lo de forma vigorosa, gritar: “Acorda, não vês o que está a acontecer à tua volta? Dá um murro na mesa, porra”!

Só mesmo um mandato como o de Sampaio e os inúmeros erros dos executivos mais recentes permitiram que Cavaco Silva saísse do seu mausoléu como um político providencial. Eu pergunto-me, muitas vezes, como é que um político sem carisma que só me faz lembrar os burocratas do Antigo Regime consegue bons resultados eleitorais. Mas a vitória de Cavaco Silva, democrática e clara, é algo que tenho que aceitar, por mais que não me reveja neste rumo que Portugal insiste em ter, ou seja, nesta atitude providencialista em relação ao Estado que durante tanto tempo sustentou regimes que nem precisaram de usar força excessiva para manterem-se no poder. É o nosso fado. Mas, como dizia, só mesmo um mandato como o de Sampaio podia fazer com que todos aceitem, com naturalidade, um Presidente da República tomar posse como se fosse o novo Primeiro Ministro. Confesso que engasgo-me sempre que Cavaco fala em “cooperação estratégica com o Governo” porque não há nada mais anti-democrático ou subversivo das regras constitucionais do que isso. Eu nem acho natural haver cooperação estratégica entre todos os partidos para “salvar o país” (na senda das declarações de Cavaco de que não percebe o contraditório perante um acontecimento único) e muito menos acho isso saudável com o Governo. O papel do Presidente é criar consensos e rupturas para criar as condições ideiais para o desenvolvimento do país e não substituir-se ao Governo ou cooperar com este. No limite coopera com todos – Governo e oposição – para atingir as soluções que melhor se adaptam ao contexto. Na tomada de posse lembrou-se de mais um conceito maravilhoso, o da “estabilidade dinâmica”. Novamente só mesmo um mandato como o de Sampaio podia fazer um Presidente defender este conceito inovador em que o inalterável ganha o adjectivo enérgico.

Sampaio e Cavaco são a nossa face, um povo que não arrisca nem tem iniciativa, que prefere a estabilidade e os homens providenciais e, fatalmente, está sempre a ouvir o mesmo fado.

Nota Final: Só volto a colocar textos no próximo fim de semana. Mantém-se a moderação de comentários. Até já.

807. Frida Kahlo no Centro Cultural de Belém


Frida Kahlo - Broken Column - La columna rota


"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."
Frida Kahlo





Frida Kahlo - Unos cuantos piquetitos


"Sinto-me mal, e ficarei pior, mas vou aprendendo a estar sozinha e isso já é uma vantagem e um pequeno triunfo."
Frida Kahlo



Frida Kahlo - Autorretrato con mono - Self-portrait with monkey


"Eu sou a desintegração."
Frida Kahlo




Frida Kahlo - Sin Esperanza - Without Hope


"Creio que o melhor é partir, ir-me e não fugir. Que tudo acabe num instante. Oxalá"
Frida Kahlo


"A mim já não me resta a menor esperança... tudo se move ao compasso do que encerra a pança..."
Frida Kahlo



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806. Sala de Cinema: Brokeback Mountain


Jake Gyllenhaal e Heath Ledger em Brokeback Mountain

Realizador: Ang Lee
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams

É melhor esquecer, para já, que se trata de uma história de amor entre duas pessoas do mesmo sexo. Vamos supor que é uma daquelas (típicas) histórias de amor impossível, por exemplo, por uma guerra secular entre as famílias do casal. Por este prisma chega-se à conclusão que é um filme igual a tantos outros com o mérito de conseguir ser intenso e com a diferença de, ao contrário de (tantos) outros filmes românticos, o amor não conseguir vencer certos obstáculos.

Vamos, então, colocar as cartas em cima da mesa. A história narra o amor entre dois homens e a união plena entre estes não tem como obstáculo desavenças familiares mas a incapacidade de um deles ultrapassar as memórias e a realidade da sociedade intolerante onde vive. E o que parece ser uma banal história de amor – e que noutro contexto até seria – é um murro no estômago pela forma genuína e intensa como o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é retratado. O filme consegue incomodar – duma forma estranha – pela forma tão natural como apresenta estas cartas na mesa.


Brokeback Mountain, um filme de Ang Lee

Ang Lee não filma, na minha opinião, o melhor filme da sua (brilhante) carreira mas só este realizador consegue transformar histórias que quebram as regras não escritas do politicamente correcto em histórias que parecem saídas do cinema clássico, ou seja, que são perspectivas inovadoras sem o parecer. A América aparece aqui como um cenário cheio de possibilidades – extensões infinitas duma natureza arrebatadora – que se extingue na fraqueza do homem, contagiado pela intolerância do homem.

Heath Ledger é imenso no seu papel de Ennis Del Mar e o seu grande “azar” foi Philip Seymour Hoffman ter uma interpretação “do outro mundo” como Truman Capote. Ennis é um homem rude que não sabe lidar com os seus sentimentos e que, no interior, é um turbilhão. A frustração de um amor impossível destrói a sua vida – e a dos que o rodeiam – lentamente e sem piedade e dessa frustração nasce a raiva. Heath Ledger é excelente a retratar esta panela de pressão que acumula angústia e liberta raiva. Jake Gyllenhaal e Michelle Williams são o contraponto da interpretação de Heath Ledger e, apesar de cumprirem o seu papel, não percebo as nomeações para o Óscar.

Na minha opinião fez-se justiça na entrega dos Óscar, ou seja, a sensibilidade da realização é mais poderosa que o filme em si. Os cenários povoam os protagonistas de nostalgia e solidão e é nisso que Ang Lee é especialista.

Síntese da Opinião: Ang Lee tem o mérito de conseguir transformar um tabú em algo natural. A sua marca está presente na melancolia e solidão que as suas personagens emanam. É só pena que a excelente realização de Ang Lee e a arrebatadora interpretação de Heath Ledger não sejam suficientes para fazer uma obra prima.

Memórias do Filho do 25 de Abril: Sétima Arte (todos os textos deste blogue sobre cinema)

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805. Parabéns



Parabéns (atrasados) ao Bruno pelo aniversário do Bodegas.

Não me lembro qual foi o meu primeiro contacto com o Bodegas mas é um dos projectos que sigo com maior interesse uma vez que é coerente, porque o Bruno assume as suas ideias com naturalidade e não força argumentos de forma demagógica para provar o que defende.

É verdade que eu e o Bruno temos uma visão da sociedade quase oposta – só não é grave porque somos ambos democratas e porque tentamos ser justos nos argumentos que usamos para defender o que acreditamos ser o melhor para a sociedade – mas isso não impede que a interacção entre os blogues seja interessante e profícua. Durante uma semana trocamos pontos de vista sobre a Madeira sobre os mais variados temas que são basilares para o estado actual da RAM e essa iniciativa fica como um dos bons exemplos de cooperação blogosférica.

Parabéns!

domingo, março 05, 2006

804. Óscar 2006



Este ano não vou ter a oportunidade de comentar a cerimónia de atribuição do Óscar - nem sei se vou conseguir ver - à semelhança do que fiz o ano passado. Mas, mesmo assim, vou deixar umas notas sobre o conceito do Óscar (ver Óscar 2005 aqui).

Um dos pontos mais negativos do mundo do cinema é a promoção que é feita aos filmes na antecipação a um festival de cinema. Durante meses fala-se de filmes que ainda não estrearam e, mesmo após a estreia, dá-se destaque às reacções ao filme muito antes de visioná-lo. E o mais engraçado é ler os cenários, escritos muitas vezes sem qualquer contacto com a obra em si, em que as pérolas abundam e deixo alguns exemplos típicos: o filme ganhou muitos prémios e, por isso, parte como favorito e, noutro lado lê-se que o facto de ser favorito pode ser mau porque a academia gosta de surpresas e, ainda, a melhor interpretação não vai ganhar porque no ano passado o actor que ganhou entrava numa película muito semelhante. Por isso, para evitar esta campanha de desinformação e hipocrisia, não leio nenhuma crítica de um filme que ainda não vi. Assim não sou nem influenciado quando faço uma crítica a um filme nem crio expectativas. Apenas leio notícias sobre a Sétima Arte e só leio críticas a filmes após o visionamento.

Não vou fazer cenários mas vou transmitir algumas impressões dos filmes que vi, ou seja, uma opinião comparativa sujeita ao meu gosto pessoal:

Filme: Só assisti, entre os nomeados, a Capote e Munich. Nenhum dos filmes parece-me talhado para melhor do ano mas, mesmo assim, achei Capote muito mais bem conseguido que Munich. Apesar disso é mais um filme de e para um actor do que propriamente uma obra prima;

Realizador: Como na categoria anterior só posso avaliar o trabalho de Bennett Miller e Steven Spielberg, respectivamente por Capote e Munich. Spielberg cria um filme com um aspecto visual muito bem conseguido mas como achei a película muito aquém do seu potencial não vou desejar a sua vitória. Já Miller é eficaz na realização - mas sem rasgo - principalmente na adequada exposição de Philip Seymour Hoffman;

Actor Principal: Só assisti à interpretação de Philip Seymour Hoffman. Vou apenas republicar o que já escrevi: "Capote versão Philip Seymour Hoffman é das personagens mais complexas, dúbias e destrutivas que tenho memória de ter visto no cinema"; "Note-se que Hoffman está nomeado para melhor actor na edição deste ano do Óscar e, mesmo sem ter visto toda a concorrência, posso afirmar que muitos actores já ganharam o Óscar com representações bem inferiores";

Actriz Principal: Assisti ao trabalho de Felicity Huffman e Charlize Theron em Transamerica e North Country. Não achei nenhum dos filmes especialmente bom mas o trabalho de Felicity Huffman parece-me mais bem conseguido;

Actor Secundário: George Clooney tem uma transformação física impressionante e uma interpretação segura em Syriana. Não vi a actuação dos outros nomeados;

Actriz Secundária: Gostei bastante da actuação de Rachel Weisz no filme The Constant Gardener. A actuação de Frances McDormand (North Country) também é consistente mas prefiro a actuação da primeira. Já Catherine Keener (Capote) não me pareceu ao nível das anteriores;

Notas:

Estou dividido na categoria de Argumento Original porque adorei os argumentos tanto de Syriana como de Match Point;

No Argumento Adaptado não percebo a nomeação de The Constant Gardener já que achei o argumento o ponto mais fraco do filme. O trabalho de Fernando Meirelles é que podia ser premiado. Também não gostei da montagem deste filme e é mais uma nomeação que não concordo;

Há algumas ausências que quero destacar: a de King Kong (um dos filmes da área do fantástico mais espectacular dos últimos anos), a de Jonathan Rhys-Meyers (excelente em Match Point) e, como já referi, Fernando Meirelles (o aspecto visual de The Constant Gardener é fabuloso);

Para terminar constato que os temas dos filmes nomeados são muito políticos e polémicos. Na globalidade e, tendo como amostra os filmes que vi, há boas representações e argumentos. Sem ver Brokeback Mountain e Good Night, Good Luck (talvez esta semana) não posso concluir se a média de qualidade das películas nomeadas para melhor filme é ou não boa.

Nota Final: Só volto a colocar textos no próximo fim de semana. Como avisei durante a semana anterior durante três semanas este blogue só pode ter actividade aos fins de semana. Mantém-se a moderação de comentários. Até já.

sábado, março 04, 2006

803. Páginas Soltas (20): O Implacável Tempo, Henrique Sousa


O Implacável Tempo - Henrique Sousa

O Henrique (do blogue Hora Absurda) escreveu uma reflexão sobre o tempo. Baseado em múltiplos estudos científicos e pensamentos filosóficos escreveu uma obra que nos ensina e enriquece e, acima de tudo, que nos faz reflectir e pensar.

Em vários capítulos há uma uma súmula de contributos de vários autores que, de uma forma ou de outra, contribuem para a noção de tempo que temos actualmente. O Henrique organiza todos estes pensamentos por capítulos e não se limita a simplesmente expor os vários raciocínios porque cria uma continuidade entre os contributos e aproveita essa ligação para reflectir sobre o que é, afinal, o tempo.

Há capítulos em que não consigo compreender a total extensão das reflexões apesar da linguagem ser quase sempre acessível porque, na realidade, é preciso ter em consideração que os meus conhecimentos de física são limitados. Há também reflexões em que não partilho as conclusões. Tenho, porém, uma certeza, ou seja, estou na presença de um livro que nos obriga a pensar, que transmite conhecimento e que é um veículo de divulgação da ciência, nas suas mais diversas formas (sim, faz lembrar Carl Sagan).

Há dois capítulos que gosto especialmente, “Sentido Único” e “Causal ou casual?”, provavelmente porque os temas levantados nestes dois capítulos interessam-me de forma particular. Nestes capítulos, em particular no “Sentido Único”, há uma visão pragmática da vida que espelha algum desalento. Fico com a sensação que a fé não estava presente aquando da escrita destas linhas. Ficam aqui alguns excertos de reflexões feitas neste capítulo que é mais sociológico que os restantes:

“Os homens, na ânsia da eternidade individual, procuram formas de se rever na espécie, cuja duração lhes parece eterna, e adoptam comportamentos colectivos, como se a espécie fosse um único organismo vivo.”

“Alguma vez alguém se lembra do nome ou da cara do empregado que o atendeu num centro comercial? Mas recorda-se, talvez, da marca da peça de roupa que lá comprou porque a marca é mais importante na medida em que vive mais tempo que o empregado e, sobretudo, porque nos permite a ilusão da longevidade.”

“A História da Humanidade é uma história de luta contra o tempo, em que certos grupos procuram apropriar-se do tempo que pertence a outros que dele ficam privados.”

É curioso ter acabado de ler o livro numa viagem do Porto para Lisboa no pendular. Dentro do comboio o tempo é uma contagem decrescente rumo a um destino. A vida também é isso. Há muitos destinos que são percorridos por todos nós mas cuja contagem decrescente é diferente para cada um. Diria até que é aí, na incerteza do tempo (numa das suas acepções) que falta para chegar a cada destino, e, ao mesmo tempo, no controlo que dispomos (ou não) para influenciar essa contagem decrescente, que a vida surge como um fenómeno simultanemamente manipulável e arbitrário. Não podemos manipular o que é arbitrário mas há algumas regularidades que permitem um certo controlo (se é muito ou pouco deixo a reflexão para cada um dos leitores deste texto).

Por muito mais que queira controlar o tempo reconheço, com humildade, que a vida só vale a pena se esse controlo não for absoluto. Mas, por vezes, somos nós os responsáveis por perder o tempo certo e, outras vezes, é o tempo que nunca é certo connosco. Espero ter tempo para chegar aos meus destinos no tempo certo. O tempo, o implacável tempo.

P.S. Henrique, Este texto está a ser publicado num contexto particular da tua vida. Pensei adiar a publicação mas achei que é o tempo certo para a publicação. Um grande abraço.

802. Sala de Cinema: North Country


Charlize Theron em North Country

Realizador: Niki Caro
Elenco: Charlize Theron, Frances McDormand, Sean Bean, Woody Harrelson, Sissy Spacek

Nota: Este texto contém spoilers. Quem não quiser conhecer pormenores do final do filme não leia a parte assinalada como spoiler na crítica.

North Country conta a história da primeira acção judicial – não sei bem como traduzir isto – colectiva duma classe (class/ gender action). O filme é baseado no livro "Class Action: The Story of Lois Jenson and the Landmark Case That Changed Sexual Harassment Law" e, aparentemente, este caso foi fulcral para a protecção das mulheres no local de trabalho.

O filme é, acima de tudo, eficaz. Conta de forma crua a violência física e psicológica que um grupo de mulheres passa numa mina povoada de homens que se sentem ameaçados pela entrada das mulheres nesta profissão. O filme vive das interpretações – tanto Charlize Theron como Frances McDormand são excelentes actrizes – mas é, como filme, previsível. Não basta, num filme, contar uma história importante com eficácia porque, para isso, faz-se um documentário. Faltou ao filme que a parte ficcionada fosse mais intensa e interessante. Mesmo assim consegue transmitir uma certa ambiguidade nas personagens o que torna impede o filme de ser completamente banal.

(Cuidado: Spoilers)

Apesar de não estar perante um mau filme considero que este tem uma estrutura muito tradicional. É que além de previsível – começa numa sala de tribunal, descreve os acontecimentos – cai no lugar comum das apoteoses em sala de tribunal. Não há nada que me irrite mais do que um advogado a imitar a cena entre Tom Cruise e Jack Nicholson e depois a sala, sem negociação, render-se à heroína e ao seu advogado.

(Fim Spoilers)

Síntese da Opinião: Um filme com uma estrutura muito previsível. Salvam-se as interpretações e a ambiguidade de algumas personagens.

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801. Sala de Cinema: Capote


Entre a realidade e a ficção ... um romance não ficcionado

Realizador: Bennett Miller
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper

Truman Capote foi um escritor polémico cujo último livro foi um polémico romance de “não ficção”. Baseando-se numa extensa investigação e múltiplas entrevistas a dois assassinos duma família no estado do Kansas, Capote descreve de forma romanceada acontecimentos reais duma forma tão obsessiva que deixa marcas profundas e irreparáveis na sua vida.


Philip Seymour Hoffman na sua melhor interpretação até à data

O filme também pode ser considerado um romance de “não ficção” pois também baseia-se, à semelhança do livro de Capote, em “factos reais”. E a grande vantagem deste “biopic” é não se espalhar em múltiplos pormenores da vida de Capote mas apenas na sua obsessiva relação com o prisioneiro Perry Smith e na forma como isso afecta a sua vida.

Capote versão Philip Seymour Hoffman é das personagens mais complexas, dúbias e destrutivas que tenho memória de ter visto no cinema. A interpretação de Hoffman – que só veio confirmar que é um grande actor – consegue ser subtil quanto baste para que todos conheçam quem era Capote e para que todos não façam a mínima ideia quem realmente era Capote. O escritor norte americano versão Hoffman é um homem ácido e manipulador que não consegue deixar de ser egocêntrico e auto destrutivo e toda esta forma de estar e sentir cria inúmeras oportunidades para o actor brilhar, com exagero mas credibilidade o que é a condição básica para o exagero passar a ser virtuoso. Esta complexidade associada à relação que este mantém com o seu objecto de análise para o livro – o assassino Perry Smith – resulta numa personagem única e que é explorada com mestria pelo actor.

É aqui que reside o problema do filme, ou seja, a personagem que cria é maior que o próprio filme. Mesmo assim o filme aguenta-se bastante bem até final e consegue ser sólido a exibir os exageros – neste caso no bom sentido – da representação de Hoffman. Note-se que Hoffman está nomeado para melhor actor na edição deste ano do Óscar e, mesmo sem ter visto toda a concorrência, posso afirmar que muitos actores já ganharam o Óscar com representações bem inferiores.

Nota: Para a história do cinema ficam as conversas de Hoffman sobre o seu tortuoso passado com Chris Cooper e a divisão profunda da personagem Capote entre a obsessão e a destruição do seu objecto de análise.

Síntese da Opinião: “Capote versão Philip Seymour Hoffman é das personagens mais complexas, dúbias e destrutivas que tenho memória de ter visto no cinema” – É preciso dizer mais? Talvez só que a personagem é bem maior que o filme. Mas um filme que nos oferece esta representação só pode ser um filme de excepção mesmo que tudo o que não envolve directamente Hoffman seja banal.

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sexta-feira, março 03, 2006

800. Sala de Cinema: Transamerica


Transamerica, de Duncan Tucker, com Felicity Huffman e Kevin Zegers

Realizador: Duncan Tucker
Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers

Confesso que o início do filme assustou-me, não pelas razões que a maioria das pessoas que sabe qual é o tema deste filme julga, mas porque senti que o filme corria o sério risco de ser uma versão melhorada dum telefilme lamechas que costuma passar nas tardes de Domingo numa qualquer estação de televisão generalista. Tinha razões sólidas para esta preocupação ser legítima. Tínhamos uma transsexual que descobre que tem um filho e cuja psiquiatra não a deixa mudar (completamente) de sexo enquanto não resolver a sua relação com o filho e, para apimentar mais esta fantasia melodramática, dá boleia ao filho até a Califórnia fazendo-se passar por uma crente da Igreja do Pai Potencial. Este início é assustador!


Transamerica, de Duncan Tucker, com Felicity Huffman e Kevin Zegers

Mas, pouco a pouco, o filme ganha dimensão dramática e consegue arrancar algumas situações de humor de forma inteligente. Adicionalmente afasta-se dos estereótipos dos filmes lamechas ao oferecer-nos uma visão tolerante e pedagógica das pessoas que fogem às normas sociais no que toca à sexualidade. E grande parte da responsabilidade desta melhoria global do filme deve-se à excelente interpretação de Felicity Huffman como Bree/ Stanley (nomeada para o Óscar de Melhor Actriz).

Felicity Huffman é uma das “Desperate Housewives” e tem sido bastante premiada pela sua participação nesta série de televisão. Pessoalmente não é a minha personagem “favorita” na série nem acho que a sua interpretação seja a melhor em comparação com outras actrizes da série. Mas rendo-me à sua capacidade de tornar algo que podia ter descaído facilmente para a caricatura – uma mãe/pai transsexual – em algo comovente e com humor. A personagem do filho de Bree/ Stanley (Kevin Zegers) parece-me mal construída, as suas reacções parecem-me pouco naturais e o actor também não ajuda a melhorá-la já que tem um défice de intensidade dramática.

Síntese da Opinião: Um filme que consegue atingir um patamar bastante aceitável de humor e ternura e que corre alguns riscos “morais”. Mas podia ter ido bem mais longe. Vale por Felicity Huffman.

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